SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A detenção de Thiago Ávila, único brasileiro a bordo do navio que tentava romper o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza, mantém sua família alerta desde a noite de domingo (8), quando o ativista mandou mensagens pela última vez garantindo que tudo ficaria bem.

“Eu não tenho contato com meu filho todo dia”, afirma seu pai, Ivo Filho, em entrevista à Folha de S.Paulo. O problema é que a gente não sabe o que Israel pode fazer. A essa altura, a gente pode esperar tudo.”

Após a detenção de Ávila, o servidor aposentado de 67 anos passou a compartilhar as informações que tinha com seus pouco mais de 800 seguidores e a fazer contato com políticos para tentar pressionar o governo brasileiro.

Ávila estava a bordo do Madleen, barco que tentava chega a Gaza com uma quantidade simbólica de ajuda humanitária quando foi interceptado pela Marinha israelense a cerca de 185 km do território palestino. A missão, coordenada pela coalizão internacional Freedom Flotilla, levava 12 ativistas, incluindo a sueca Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan.

“Ao contrário do que pessoas maldosas estão falando —que era o ‘iate das selfies’—, o objetivo era dar visibilidade ao movimento”, diz Ivo. “A questão era conseguir furar o bloqueio de Israel para que mais ajuda humanitária chegasse à população de Gaza.”

Na noite de segunda, o Itamaraty afirmou, em uma publicação no X, que Ávila estava no aeroporto Ben Gurion, nos arredores de Tel Aviv, acompanhado de funcionários da embaixada brasileira. A expectativa, naquele momento, era que os ativistas fossem deportados a seus países.

Apenas quatro, no entanto, foram liberados após assinarem o termo de expulsão, incluindo Greta. Outros oito, incluindo Ávila, recusaram-se a aceitar o documento.

A decisão do ativista é apoiada por seu pai. “Eles não cometeram crime algum e não vão assumir isso, porque não é a verdade”, afirma Ivo.

O bloqueio israelense que o território palestino enfrenta há anos foi intensificado desde o início da guerra, em outubro de 2023. Entre março e maio deste ano, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda humanitária.

Israel diz que o cerco é necessário para impedir que o Hamas, que controla o território, roube e estoque alimentos e se financie vendendo alimentos a preços elevados. Autoridades da ONU argumentam que não há evidências de que a ajuda internacional tenha sido desviada pela facção terrorista nos últimos meses.

As restrições deixaram Gaza em uma situação alarmante, segundo organizações humanitárias. Uma projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), por exemplo, iniciativa apoiada pela ONU, afirma que 100% da população no território está em risco de crise alimentar e mais de um quinto da população de 2,1 milhões de habitantes está em níveis catastróficos de fome.