SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O barco Madleen, interceptado pelas Forças Armadas de Israel na noite de domingo (8), chegou nesta segunda-feira (9) ao porto israelense de Ashdod, próximo a Tel Aviv. A embarcação carregava o ativista brasileiro Thiago Ávila e a sueca Greta Thunberg, além de outras dez pessoas.
O Madleen faz parte da Flotilha da Liberdade, iniciativa humanitária que tentava romper o bloqueio israelense a Gaza e entregar suprimentos aos palestinos no território, que vivem sob constante bombardeio de Tel Aviv.
Na noite desta segunda, a organização confirmou que os 12 tripulantes estão detidos em Israel e que devem ficam em um centro de detenção em Ramleh a não ser que concordem com a deportação imediata. Israel divulgou fotos de Greta e Ávila desembarcando no porto de Ashdod, e disse que todos os ativistas receberiam exames médicos.
As Forças Armadas de Israel receberam ordens do ministro da Defesa, Israel Katz, de mostrar aos ativistas um vídeo de 43 minutos com imagens do ataque terrorista do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, estopim para o conflito atual. Segundo Katz, a tripulação do Madleen se recusou a assistir o vídeo.
“Os membros da flotilha antissemita fazem vista grossa para a verdade e provam, mais uma vez, que eles preferem os assassinos do que os assassinatos e continuam a ignorar as atrocidades cometidas pelo Hamas contra mulheres e crianças judias e israelenses”, disse o ministro.
Israel, que em seus comunicados oficiais se refere ao Madleen como “o iate das selfies”, disse ainda que os suprimentos a bordo do barco seriam confiscados e entregues aos palestinos “por meio de canais humanitários de verdade”.
“Tentativas não autorizadas de violar o bloqueio [de Gaza] são perigosas, ilegais e prejudicam esforços humanitários”, disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel. “Pedimos que todos ajam de maneira responsável e enviem ajuda humanitária por meio de mecanismos legítimos, evitando provocações. Existem formas de entregar ajuda à Faixa de Gaza, e elas não envolvem selfies no Instagram.”
Por volta das 15h30 de segunda, a irmã de Thiago Ávila disse em comunicado que ainda não tinha contato com o ativista. A Folha de S.Paulo perguntou ao Itamaraty e à embaixada do Brasil em Tel Aviv se a diplomacia brasileira está em contato com o ativista, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
O Madleen partiu da Itália em 1º de junho com uma quantidade simbólica de alimentos e remédios com destino a Gaza, que enfrenta uma grave crise humanitária após Israel bloquear a entrada de ajuda por quase três meses, entre março e maio deste ano.
Desde então, a quantidade de suprimentos que entra no território palestino é considerada muito inferior ao necessário por organizações como as Nações Unidas. Além disso, a entrega de ajuda tem sido marcada por ataques de soldados israelenses contra palestinos que se reúnem nos pontos de entrega de comida, com dezenas de mortos.
Com o fim do bloqueio, a entrega de ajuda vem sendo administrada pela recém-criada GHF (Fundação Humanitária de Gaza, na sigla em inglês), um grupo privado americano presidido por um reverendo evangélico conservador que começou a operar com apenas quatro pontos de distribuição. Anteriormente, a ONU operava 400. As Nações Unidas e outros grupos humanitários se recusam a trabalhar com a GHF, acusando a fundação de parcialidade e partidarismo.
Enquanto isso, a pressão internacional sobre Israel aumenta. Nesta segunda, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o bloqueio a Gaza é “um escândalo” e “uma vergonha”. Ele pediu um novo cessar-fogo, a libertação dos reféns em poder do Hamas e a “reabertura das rotas humanitárias” no território palestino sitiado.
Macron disse ainda que a França “está vigilante” e acompanha de perto o caso do Madleen seis dos tripulantes são franceses, incluindo uma eurodeputada. Já o Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse que a interceptação do barco pelas Forças Armadas de Israel “é uma clara violação do direito internacional” a Flotilha da Liberdade afirma que a abordagem aconteceu em alto-mar, não em águas territoriais israelenses.
O Itamaraty se manifestou sobre o caso na madrugada de segunda. “O governo brasileiro acompanha com atenção a interceptação, pela Marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e cuja tripulação, composta por 12 ativistas, inclui o cidadão brasileiro Thiago Ávila”, diz a nota.
A pasta mencionou a liberdade de navegação em águas internacionais, pediu ao governo israelense a libertação dos tripulantes detidos e destacou a necessidade de que Israel remova imediatamente todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em território palestino.
Em um vídeo publicado nas redes sociais de Ávila no domingo, ele pede que a população pressione o governo brasileiro a romper relações com Israel. “Se você está vendo este vídeo, isso significa que eu fui detido ou sequestrado por Israel ou outra força cúmplice no Mediterrâneo”, afirmou. “Nesse caso, eu peço a vocês para pressionar o meu governo e os governos de meus companheiros para que sejamos libertos e para que as relações com Israel sejam rompidas.”
A sueca Greta Thunberg também publicou um vídeo semelhante. “Se você está vendo esse vídeo, fomos interceptados e sequestrados pelas forças israelenses ou forças que apoiam Israel”, afirma. “Eu peço a todos os meus amigos, familiares e companheiros que pressionem o governo sueco para libertar a mim e aos outros o mais rápido possível.”