SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ativista brasileiro Thiago Ávila, que compunha a tripulação a bordo de um barco com ajuda humanitária rumo à Faixa de Gaza, segue detido em Israel após se recusar a assinar um documento de deportação. A audiência deve ser ainda nesta terça-feira (10).
De acordo com o Freedom Flotilla, coalização internacional que atua pelo fim do bloqueio israelense ao território palestino, oito dos 12 ativistas permanecem detidos, enquanto quatro foram libertados após assinarem o termo de expulsão incluindo Greta Thunberg, que já está a caminho da Suécia, seu país de origem.
Em uma escala em Paris, a ativista afirmou a jornalistas que a detenção foi ilegal. “Fomos sequestrados em águas internacionais e levados contra a nossa vontade para Israel”, disse ela. “Não infringimos nenhuma lei. Não fizemos nada de errado.”
De acordo com o movimento, aqueles que não consentirem em sair comparecerão perante um tribunal. “Os nossos advogados vão defender a sua libertação e o direito de regressar à sua missão legal. Mas sabemos que o chamado ‘sistema de justiça’ de Israel existe para defender o apartheid, a ocupação e a colonização não para fazer justiça. O tribunal irá finalmente ordenar a sua expulsão forçada”, afirmou a coalizão em suas redes sociais.
O barco Madleen, no qual viajavam 12 ativistas de várias nacionalidades (França, Alemanha, Brasil, Turquia, Suécia, Espanha e Holanda), zarpou da Itália no dia 1º de junho com o objetivo de entregar uma quantidade simbólica de ajuda à Faixa de Gaza, mergulhada em uma situação humanitária catastrófica após enfrentar quase três meses de bloqueio total de ajuda imposto por Tel Aviv entre março e maio deste ano.
A Marinha israelense interceptou o barco na manhã de segunda-feira (9), a cerca de 185 km a oeste da costa de Gaza. À noite, o Itamaraty afirmou, em publicação no X, que Ávila estava no aeroporto Ben Gurion, nos arredores de Tel Aviv, para retornar ao Brasil, e que funcionários da embaixada brasileira na cidade acompanhariam o ativista para “garantir tratamento digno” e preservação dos direitos do brasileiro.
Nascido em Brasília em 1986, Ávila é formado em comunicação, é ativista por justiça climática e cofundador do movimento Bem Viver no Brasil, inspirado em filosofias indígenas andinas. Ele participou da fundação dos coletivos Insurgência em 2013, do Subverta em 2017 e contribuiu para a chegada do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) ao Distrito Federal.
Coordenador do Freedom Flotilla e membro do Comitê Diretor da Coalizão Flotilha da Liberdade, o brasiliense acusa o governo de Israel de promover “genocídio e limpeza étnica contra os palestinos”. O movimento, que combina ajuda humanitária e protesto político contra o bloqueio de Gaza, foi criado em 2010.
Os outros passageiros do barco também foram transferidos para o aeroporto Ben Gurion para serem repatriados, informou o Ministério de Relações Exteriores de Israel. O governo israelense acusou “Greta Thunberg e os outros [de terem] tentado encenar uma provocação midiática com a única intenção de fazer publicidade”.
Israel enfrenta uma forte pressão internacional para pôr fim à guerra em Gaza, que devastou o território palestino e deixou grande parte da população em situação grave de insegurança alimentar, segundo a ONU.