SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os hospitais apontados pelos médicos como os melhores em oncologia em pesquisa Datafolha têm em comum a preocupação com o paciente após a alta. Com equipes multidisciplinares, eles acompanham reações adversas, solicitam novos exames quando necessário e oferecem suporte psicológico e nutricional.
Esse cuidado foi o que o administrador Kleber Dias, 48, encontrou após receber, em janeiro de 2020, o diagnóstico de um sarcoma de retroperitônio, tipo raro de câncer abdominal. Foi no Hospital Israelita Albert Einstein que passou a sentir que era cuidado para além da doença.
Apontado por 23% dos médicos como o melhor hospital privado em oncologia, o Einstein conta com um programa de medicina integrativa para acompanhamento de pacientes durante e após o tratamento. O survivorship, ou sobrevivência, oferece suporte físico, emocional e social de forma contínua, mesmo fora do hospital.
“Descobri o câncer em grau 4, e as células cancerígenas já tinham migrado do lugar inicial para a cabeça, pâncreas, ossos e pulmão. Estava bem avançado”, relata.
Composta por uma equipe multidisciplinar, a iniciativa avalia se o paciente consegue se alimentar adequadamente, manter uma vida social ativa, como está emocionalmente e se conta com apoio das pessoas ao seu redor. Também monitora a evolução da doença ou, no caso de pacientes em remissão, possíveis sinais de recidiva.
“Com essa estratégia, conseguimos m udar a forma que o paciente encara a doença”, diz o diretor médico da oncologia e hematologia do Einstein, Nam Jin Kim. “A gente trabalha para que o paciente possa viver bem, com qualidade, e, se possível, ser curado.”
Kleber Dias faz pilates, ioga, acupuntura e fisioterapia no Einstein, além de acompanhamento nutricional e psicológico. “Eu queria um hospital que olhasse para o Kleber não só pela doença base, mas como um todo. E foi isso que o Einstein me ofereceu.”
O Hospital Sírio-Libanês, que aparece com 11% na pesquisa Datafolha, tem como prioridade o cuidado altamente especializado no tratamento de câncer, segundo o oncologista Carlos Henrique dos Anjos.
“Os médicos são dedicados a áreas específicas na oncologia, o que garante um acompanhamento mais aprofundado e preciso”, afirma.
Para o médico, essa organização permite que cada oncologista concentre seus estudos e prática clínica em um segmento da especialidade e, como resultado, os pacientes têm acesso a um cuidado alinhado com os avanços mais recentes da medicina.
A publicitária Fernanda Natel, 35, percebeu esse cuidado de perto. Aos 24 anos, recebeu o diagnóstico de sarcoma de Ewing, um câncer ósseo raro e agressivo. Ela conta que passou por vários médicos e que somente no Sírio-Libanês o oncologista considerou o seu sonho de ser mãe.
“Todos os especialistas anteriores falaram: ‘é um câncer superagressivo, vamos operar o quanto antes’. O Sírio foi o único que pensou no meu futuro e no congelamento dos meus óvulos”, diz.
O tratamento da publicitária envolveu cirurgia, 51 sessões de quimioterapia e 26 de radioterapia. Ela frequentou o hospital por dois anos e meio. Onze anos depois, ela ainda faz uma consulta por ano.
“Engravidei naturalmente, não precisei usar os óvulos congelados, mas eles estão guardados. Os remédios me curaram, mas o carinho, a atenção especializada, com médicos de várias especialidades me acompanhando, fizeram a diferença.”
O A.C.Camargo Cancer Center, em terceiro lugar na pesquisa, é o hospital oncológico mais antigo: completa 72 anos em 2025. A instituição, que tem sete unidades -cinco delas assistenciais-, atendeu cerca de 20 mil novos pacientes no ano passado.
“Tudo que fazemos aqui é em função do atendimento ao câncer. Acompanhamos a jornada completa do paciente, desde a prevenção até o seguimento da doença”, diz Antonio Antonietto, diretor médico do A.C.Camargo.
Ele destaca também as atividades de ensino e pesquisa. “Neste momento, por exemplo, temos uma pesquisa muito importante com células CAR-T, com metodologia de tratamento para doenças hematológicas.”
Além de receber usuários de plano de saúde e particulares, o A.C.Camargo mantém um contrato com a Prefeitura de São Paulo para oferecer atendimento de alta complexidade a pessoas encaminhadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Outro destaque em oncologia foi o Hospital do Amor, em Barretos, no interior de São Paulo. Apesar de ser privado, ele foi lembrado entre os públicos por 8% dos médicos entrevistados pelo Datafolha. Criada nos anos 1960 e mantida pela fundação Pio 12, a instituição trata apenas pacientes do SUS -no ano passado, foram quase 600 mil pessoas vindas de 2.540 municípios.
“A maior parte da nossa renda vem de doações. Temos 980 municípios fazendo eventos em prol do Hospital do Amor”, diz Henrique Prata, presidente da instituição e filho dos fundadores.
A organização oferece prevenção, tratamento e reabilitação. No local ainda funciona um instituto de ensino e pesquisa com um centro de estudos em oncologia molecular, que atua também na formação de profissionais.
Além do ranking de instituições privadas, a pesquisa Datafolha perguntou sobre os melhores hospitais públicos em oncologia. Em primeiro lugar ficou o Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), com 21%.
Um dos institutos do Hospital das Clínicas de São Paulo, o Icesp concentra todo o atendimento de oncologia da instituição e é administrado por meio de um contrato com uma OSS (Organização Social de Saúde).
“Somos 100% SUS, e mais de 60% dos pacientes que chegam ao Icesp precisam de tratamento de alta complexidade, então contamos com uma estrutura para o atendimento dos tumores mais raros”, explica Joyce Chacon Fernandes, diretora-executiva do Icesp.
A instituição, que neste mês completa 17 anos, já atendeu 140 mil pacientes -40 mil deles continuam em acompanhamento. No prédio do instituto, localizado na avenida Dr. Arnaldo (região central de São Paulo), circulam por dia cerca de 10 mil pessoas, entre pacientes, colaboradores e prestadores de serviços.
“O Icesp congrega assistência, ensino e pesquisa”, explica a diretora Joyce Fernandes. “Também capacitamos muitos dos especialistas que atuam na área no Brasil e, junto com a USP, produzimos mais de 50% de todas as pesquisas científicas que são publicadas sobre oncologia no país.”
O impacto aparece em histórias como a do aposentado Antônio Carlos Vieira, 70, de Sorocaba, interior de São Paulo. Em 2012, foi diagnosticado com câncer gástrico avançado. O tumor já havia tomado todo o estômago. Foi operado no Icesp após rápida avaliação.
Foram seis meses de tratamento: 38 sessões de quimioterapia e 28 de radioterapia. “Fazia químio de manhã e rádio à tarde. Ficava bem cansado. Mas o Icesp dava todo o suporte, inclusive emocional e nutricional”, conta.
Enquanto ele fazia as sessões, a família participava de aulas de culinária voltadas à adaptação alimentar no pós-operatório.
Após oito anos de acompanhamento, veio a alta, em 2020. Hoje, com 58 kg, Antônio vive sem estômago, mas sem sequelas importantes. “Já tivemos parentes com câncer tratados em outros hospitais públicos, mas nenhum se compara ao Icesp.”