LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) – O quarto dia de protestos em Los Angeles contra a política de imigração do presidente Donald Trump começou de forma pacífica, depois de um fim de semana de confrontos entre manifestantes e a polícia.
Por volta das 13h, horário local, desta segunda-feira (9), uma passeata reuniu milhares de pessoas ao redor do centro de detenção que faz parte do complexo de prédios federais da maior cidade da Califórnia.
O protesto foi levado por palavras de ordem de “o povo unido não será vencido” e “fuck ICE” (em referência ao serviço de imigração dos EUA) e acompanhado por um “trio elétrico” pelas ruas de Downtown, o centro de Los Angeles, com músicas improvisadas de protesto cantadas ao vivo por uma banda e acompanhadas pelos pedestres: “Imigrantes estão sob ataque/O que fazemos?/Lutamos!”.
A polícia observava tudo de longe, sem grandes indícios de tensão durante o início da tarde. Ao ser questionado pela Folha de S.Paulo sobre o melhor caminho para o centro de detenção, um policial mais velho respondeu de forma simpática “não saber” e pediu para “termos cuidado”. Neste momento, o policiamento era ostensivo e presente em diversos quarteirões, mas sem nenhuma ação mais provocadora de ambas as partes.
Os manifestantes também não pareciam a fim de confusão. Entre pessoas fantasiadas de Batman e garotas hippies cantando hinos de paz, o cenário passava longe do caos perigoso que Trump pintou ao convocar milhares de soldados da Guarda Nacional sem a permissão do governador da Califórnia, Gavin Newsom, algo que não acontecia desde a década de 1960.
Dezenas de soldados da Guarda Nacional da Califórnia podiam ser vistos guardando a entrada do maior prédio federal de Downtown. Os uniformes militares e os escudos eram uma visão diferente de todos os protestos recentes em Los Angeles.
Até aquele momento, duas horas após o início das manifestações, não havia qualquer confronto visível. Os momentos de maior tensão eram protagonizados por carros da polícia com sirenes ligadas e se aproximando do centro de detenção e da Union Station, a principal estação ferroviária da cidade, outro ponto de encontro dos manifestantes.
Bandeiras de vários países da América Latina eram vistas na manifestação, de Cuba a Honduras. Carros passavam pelo grupo com motoristas buzinando em apoio. Apesar de tudo isso, o centro de Los Angeles, uma das áreas mais movimentadas da cidade, estava com um trânsito melhor que o normal, possivelmente pelo fato de muitos trabalhadores evitarem a região em decorrência dos últimos acontecimentos.
Do lado de fora, os manifestantes continuavam a bradar gritos de guerra, especialmente exigindo a libertação de David Huerta, presidente do Sindicato Internacional dos Empregados em Serviços da Califórnia, detido na sexta-feira (6).
“Fui parar no hospital com minha irmã por causa do gás de pimenta que lançaram contra a gente. Estou aqui para apoiar todos meus irmãos latinos e pedir a liberdade de um homem bom e trabalhador”, disse Oscar, americano descendente de mexicanos que preferiu não dar o sobrenome e participou de todos os dias de protestos. Cerca de 20 minutos depois, Huerta foi liberado pelas autoridades.
As lojas, mesmo nas proximidades do núcleo dos protestos, estavam todas abertas e funcionando normalmente. Algumas com a segurança reforçada para impedir os saques que ocorreram nos dias anteriores. O turista desatento só notaria que tinha algo errado se chegasse no quarteiro próximo da prefeitura, onde fica o Grand Park: helicópteros da polícia sobrevoando, muitas pichações contra o ICE e Trump até em edifícios governamentais (era possível ver “Fuck ICE” na frente da prefeitura, um dos cartões-postais da cidade), e pontos de ônibus com vidros quebrados.
O transporte público estava funcionando normalmente até às 15h, no horário local, quando três estações do metrô nas proximidades dos protestos foram fechadas. Os funcionários avisavam os usuários sobre como proceder, mas não havia gente suficiente para causar caos -os trens de Los Angeles não são utilizados em massa como em Nova York, por exemplo. Podia ser um indício de uma noite mais tensa que o dia.
A decisão de Donald Trump em enviar a Guarda Nacional e, posteriormente, os fuzileiros navais virou um contraste gigante em relação a como a cidade está lidando com os protestos. É uma manifestação grande, mas localizada.
O ICE foca bairros mais pobres e lojas de artigos de construção, onde imigrantes sem documentos oferecem seus serviços. Fora desses pontos, Los Angeles parece viver uma segunda-feira normal de calor. A maior diferença talvez esteja na presença da Guarda Nacional diante de outro prédio federal, em Westwood, bairro nobre que abriga a Universidade da Califórnia.