BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou em oitiva ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (9) que documentos encontrados em seu computador com ataques às urnas eletrônicas eram anotações privadas e nunca foram enviadas a qualquer pessoa.

O deputado federal, segundo na lista de interrogatórios do núcleo central da trama golpista, disse fazer anotações para “concatenar as ideias” e conversar em outros momentos que o tema estivesse em debate.

“Esses são documentos pessoais, são documentos privados. Não houve difusão qualquer, encaminhamento qualquer desse documento. Era algo privado, com opiniões privadas minhas. Todas as questões que eram anotações privadas diversas, todas essas anotações da urna eletrônica, mas sempre foi, em todas elas, concernente à discussão que estava tendo, no mesmo período, no Congresso Nacional.”

O congressista afirmou que após a derrota do então governo na votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 135 de 2019, sobre o voto impresso, em 10 de agosto de 2021 na Câmara dos Deputados, não voltou mais a falar ou escrever sobre o tema.

“Após essa, vamos dizer assim, derrota, porque o governo Bolsonaro estava tentando, era um pleito do governo que se passasse o voto impresso auditável, depois dessa votação, não há mais nenhuma anotação privada, discussão pública, não há.”

Ramagem foi o segundo réu a ser ouvido nesta segunda pela Primeira Turma do Supremo -dia que deu início à fase do depoimento dos acusados de integrarem o principal núcleo da trama golpista. Antes dele, veio Mauro Cid, que firmou acordo de colaboração premiada no caso.

O ex-diretor da Abin é acusado de participar da construção e do direcionamento das mensagens que passaram a ser difundidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em ataques às urnas eletrônicas e à democracia a partir de julho de 2021.

A denúncia contra o policial federal tem como base arquivos armazenados por Ramagem e apreendidos pela Polícia Federal no decorrer da investigação.

“Dentre os arquivos digitais a ele vinculados, localizou-se o documento intitulado ‘Presidente TSE informa.docx’, que apresentava uma série de argumentos contrários às urnas eletrônicas, voltados a subsidiar as falas públicas de Jair Messias Bolsonaro”, diz trecho da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Ramagem também disse à PF que costumava escrever textos de fontes abertas para comunicação de fatos de possível interesse do então presidente. Ele afirmou, porém, que nem sempre repassava o que produzia a Bolsonaro.

Os investigadores ainda encontraram nas anotações do deputado uma sugestão para que Bolsonaro usasse a estrutura da AGU (Advocacia-Geral da União) para permitir o descumprimento, pela PF, de ordens judiciais que desagradassem o grupo político do ex-presidente.

“A estratégia servia para anular decisões judiciais proferidas pelo Supremo Tribunal Federal contrárias aos interesses de Jair Bolsonaro”, reforça a PGR na denúncia.

Alexandre Ramagem também é citado pela PGR na parte da denúncia que trata sobre a Abin paralela, mas as citações são breves e não atribuem ao ex-diretor crimes relacionados ao uso da agência da inteligência para os crimes contra o Estado.

Após Cid e Ramagem, os demais réus serão questionados seguindo ordem alfabética: Almir Garnier (ex-chefe da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).

O tribunal reservou sessões diárias até esta sexta-feira (13) para ouvir os réus. Os depoimentos são transmitidos ao vivo pela TV Justiça.