SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Centros acadêmicos da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) criticam a suspensão de 30 dias a colegas que chamaram estudantes da USP de “cotistas” e “pobres”. Para eles, a pena é branda.
A decisão foi tomada pelo reitor, Vidal Serrano Nunes Júnior, e anunciada na quinta (5). Durante o afastamento, os quatro graduandos –todos do curso de direito– não poderão frequentar aulas nem comparecer ao campus.
O início da punição será em 1º de agosto, ao fim do recesso acadêmico e início do segundo semestre letivo. Como condição para voltar às aulas, os alunos deverão participar de cursos sobre discriminação e direitos humanos por um ano.
Em sua decisão, o reitor cita um compromisso histórico e institucional da PUC em promover a justiça social. Também afirma que a universidade é um espaço de formação cidadã e que é papel da instituição promover medidas que responsabilizem, eduquem e tragam a reflexão crítica.
Para os diretórios acadêmicos da universidade, a sanção é desproporcional à gravidade das ofensas e “escancara a inaceitável leniência e o vergonhoso descaso da reitoria diante de práticas racistas”.
“A punição imposta não corresponde nem a uma fração da dor, humilhação e indignação causadas às vítimas diretas das ofensas, tampouco à comunidade negra e cotista que assiste, mais uma vez, ao racismo estrutural se materializar impunemente nos corredores da universidade”, dizem em nota conjunta.
Para a comunidade, a permanência desses estudantes na PUC é um “ultraje aos docentes, discentes e funcionários negros” e “mancha a história da instituição”.
“A decisão da reitoria de aplicar uma punição simbólica aos alunos envolvidos reflete e reafirma o pacto da branquitude que estrutura nossa sociedade e se manifesta também no espaço universitário. Ao minimizar a gravidade dos atos racistas, a universidade protege simbolicamente os agressores.”
Os diretórios solicitam ao reitor Vidal Serrano uma atitude à altura da gravidade do ocorrido.
A decisão institucional foi divulgada semanas após estudantes ocuparem o campus Monte Alegre, na zona oeste de São Paulo, para denunciar casos de discriminação racial.
RELEMBRE O EPISÓDIO
As ofensas aconteceram durante uma partida de handebol entre PUC e USP em Americana (SP), em novembro de 2024. Vídeos mostraram os estudantes da universidade particular fazendo gestos de contagem de dinheiro e gritando “cotista” e “pobre” para provocar a torcida adversária.
O caso repercutiu nas redes sociais e resultou na demissão dos estudantes dos escritórios de advocacia onde estagiavam. Um dos estudantes envolvidos não foi julgado pela universidade. Ele já havia se formado e não tinha mais vínculo com a universidade.
Os envolvidos afirmaram terem sido provocados.
No último dia 5, a reitoria da PUC determinou também a elaboração de um código de conduta específico para a participação da comunidade universitária em eventos esportivos, com vistas à prevenção de comportamentos discriminatórios e à promoção e uma cultura institucional pautada na ética, no respeito e nos direitos humanos.