SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fernando Haddad sofre pressão de todos os lados e tenta manter o equilíbrio na corda bamba. Para isto, anunciou um acordo sobre o decreto do IOF, fusão de Marfrig e BRF sofre novo revés, a China (criadora) está com medo de seus próprios carros elétricos (criatura) e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (9).

*ORELHA VERMELHA*

No espetáculo de hoje, temos ministro na corda bamba. Até o momento, Fernando Haddad mantém o equilíbrio e parece segurar firme a chefia da pasta econômica. Contudo, as pressões crescem por todos os lados e pode ficar cada vez mais difícil não tombar.

Empurra pra lá, empurra pra cá. De um lado, a Faria Lima continua irritada com aumentos de impostos para fechar as contas. Do outro, aliados do governo aumentam a pressão para que o petista concorra às eleições em 2026. Vamos entender.

[1] Reclamação sem fim. Você já entendeu, nós já entendemos, todo mundo já entendeu que os empresários e atores da economia privada detestaram o aumento da cobrança do IOF.

Neste final de semana, o empresariado subiu o tom contra o Planalto em um evento em Guarujá, organizado pelo grupo Esfera, de João Camargo. Uma das mesas reuniu André Esteves (BTG Pactual), Milton Maluhy (Itaú), Wesley Batista (J&F Investimentos) e Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central.

“Compara o Brasil com o resto dos países: crescimento do gasto, do déficit nominal está muito alto, muito fora. E quem está achando que gasto é vida, não é verdade. Gasto excessivo é morte”, disse Esteves.

Com um discurso na mesma linha, Wesley Batista pediu engajamento pela causa e também disse que está vendo nascer na sociedade e no meio político um consenso de que o ajuste das contas públicas via receita chegou ao limite.

Aquela história que você está careca de saber. Ainda estava presente no evento Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, que se manifestou repetidamente contra a medida –ela deve ser pautada em breve na casa legislativa.

[2] De volta para casa (?) Um dia frio, um bom lugar para ler um livro e…o pensamento lá nas eleições de 2026. Os aliados do presidente Lula começam a pensar em nomes para substituir Haddad na pasta econômica caso este entre na corrida pelo governo do estado de São Paulo.

O ministro não está afim de concorrer e já disse isto publicamente algumas vezes. Mas, a base petista considera importante ter um palanque forte em São Paulo, para compor o coro pela reeleição do presidente. Ele e o número 2 do Planalto, Geraldo Alckmin (PSB), estão entre as opções para governo e Senado.

Em 2022, Haddad obteve 44,7% dos votos para o governo de São Paulo —feito apontado como fundamental para a vitória de Lula contra Jair Bolsonaro (PL).

Mesmo contra a vontade, os aliados acham difícil que Haddad contrarie um pedido de Lula.

*FALANDO EM IOF…*

…Haddad anunciou ontem à noite um acordo com o Congresso para reduzir as alíquotas do decreto que elevou a tarifa.

O governo deve ajustar os percentuais determinados antes e criar outras medidas para equilibrar a arrecadação –fator que deu mais problema até aqui.

Mais uma reunião. O ministro da Fazenda tem batido ponto em encontros com diferentes autoridades nos últimos dias: lideranças do setor bancário e do Legislativo com esperança de convencer Haddad a mudar de ideia, ou serem convencidos de que o decreto é a melhor solução para as contas públicas. Na noite de domingo, a reunião foi com líderes partidários.

O que rolou? O chefe da pasta econômica pediu para preservar a taxação, mas aceitou negociar alíquotas menores para ela –a redução média deve ser de 65%.

Para compensar a perda de receita com essa mudança, o governo apresentou propostas como um corte em isenções fiscais e o aumento da tributação de outras maneiras.

📉 Baixa lá…mas aumenta cá. As novas medidas não devem passar ilesas pelas reclamações do empresariado. O acordo prevê:

Maior tributação sobre o JCP (juros sobre capital próprio), uma das formas como investidores são remunerados;

Cobrança de Imposto de Renda de 5% sobre títulos atualmente isentos, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola);

Mais impostos sobre apostas esportivas, o que coloca as bets de volta na mira do governo.

As duas primeiras medidas devem mexer com a Faria Lima, que, como já falamos, anda irritada.

Diálogo. Sem pressa, dessa vez. Antes de anunciar oficialmente as mudanças, que devem vir na forma de uma medida provisória, Haddad disse que vai discutir os detalhes desse plano com o presidente Lula na próxima terça-feira (10).

O governo também vai apresentar um projeto de lei complementar para realizar um corte estimado em 10% em isenções fiscais.

↳ Na semana passada, o presidente Lula declarou apoio a cortes em isenções para aumentar a arrecadação. Segundo ele, o governo perde R$ 800 bilhões com benefícios fiscais.

*DEU ZEBRA*

Aquele que, supostamente seria o maior negócio do ano, está cada vez mais distante da glória. Algumas pedras apareceram no caminho da fusão entre Marfrig e BRF.

Parem as máquinas. A Latache Capital, acionista da BRF, acionou a CVM (Comissão de Valores Monetários) para pedir o adiamento da assembleia geral da companhia, convocada para 18 de junho. Lá, será votada a proposta de incorporação total por sua controladora, a Marfrig.

⏮️Recapitulando. A Marfrig, frigorífico, já detinha 50,49% das ações da BRF, empresa originada pela fusão entre a Sadia e a Perdigão. Agora, a maior decidiu engolir o que restava das ações da menor, criando uma gigante do setor alimentício.

O negócio dará origem à MBRF, um negócio global do setor de carnes e alimentos processados com receita de R$ 152 bilhões ao ano.

O primeiro xabu…foi o anúncio da chegada da gripe aviária ao Brasil no mesmo dia em que o negócio foi divulgado.

A BRF produz muitos (muitos mesmo) produtos com carne de frango. Os olhos do mercado foram direto para a granja comercial infectada em Montenegro, no Rio Grande do Sul –e a fusão do ano foi ofuscada pelo ciclo de notícias.

O xabu mais recente…é o pedido da Latache. Na petição, a gestora também pede a interrupção da convocação por até 15 dias e a apuração de eventuais ilegalidades no processo.

💰O que aconteceu? A acionária acusa Marcos Molina, fundador da Marfrig e presidente do conselho, e sua esposa, de comprarem massivamente ações da própria companhia através de outra empresa vinculada a eles.

O valor estimado, de cerca de R$ 400 milhões, compreende a compra de 21,1 milhões de ações somente entre o quarto trimestre de 2024 e o primeiro trimestre deste ano.

Qual o problema? Para Molina, nenhum. Ele comprou as ações de forma pública e já havia anunciado que tinha a intenção de aumentar sua participação no negócio que criou.

A questão é que os acionistas minoritários, como a Latache, estão se sentindo passados para trás nesse movimento –afinal, eles perdem cada vez mais controle do negócio. Ainda segundo ela, a fusão, da forma como está sendo planejada, pode representar significativa transferência de valor dos acionistas minoritários da BRF para o controlador da Marfrig.

↳ A Folha de S.Paulo apurou que a CVM já acionou a empresa e o empresário.

*CRIATURA VS. O CRIADOR*

Em 1818, a escritora Mary Shelley criou a história do cientista Victor Frankenstein, onde a criatura a que ele deu a vida se revolta contra ele. De vez em quando, a vida imita a arte.

Apostamos que você não achou que íamos falar sobre carros elétricos chineses depois desta introdução, mas é exatamente isto que vai acontecer. A China está ficando assustada com os preços baixos que a sua própria tecnologia permite alcançar.

Sintoma de um problema maior. O país saiu na frente na corrida pelo domínio da produção de VEs (Veículos Elétricos) modernos e com um custo menor do que o restante do mundo –fato que tem deixado as montadoras ocidentais com os cabelos em pé.

Em 23 de maio, a maior fabricante de VEs da China, BYD, causou comoção quando reduziu o custo de 22 modelos elétricos e híbridos.

Agora, o preço inicial de seu modelo mais barato, o Seagull, caiu para apenas 55.800 yuans (US$ 7.700 ou R$ 43,1 mil).

A questão é que a concorrência pode chegar a um nível tão predatório, que barra os avanços em pesquisa e desenvolvimento e pode levar a falhas de segurança, segundo o governo chinês.

Em 31 de maio, o ministério da indústria da China disse à agência de notícias Xinhua que “não há vencedores na guerra de preços, muito menos um futuro.”

Questão de imagem. O setor industrial do país tenta, há muito tempo, lutar contra o estereótipo dos produtos “made in China”, vistos como de baixo valor agregado e pouca qualidade.

Agora, que o país se meteu em uma guerra comercial contra os Estados Unidos, colocar VEs ruins no mercado seria um revés importante. A ideia, neste momento, é difundir a imagem como uma nação que bate de frente com a comandada por Trump no desenvolvimento de tecnologia de ponta.

Repeteco. Pequim teme ver a história do mercado imobiliário acontecendo novamente. O setor deu muito lucro há algumas décadas e, vendo isto, os investidores viram sua galinha dos ovos de ouro.

Prédios e mais prédios foram erguidos nas metrópoles e a oferta acabou sufocando a demanda –o que deixou milhares de unidades vazias e prédios abandonados.

*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*

🐔 Alerta vermelho (de novo). O governo registrou, desta vez em Minas Gerais, um novo foco de gripe aviária em aves domésticas.

🪮 Belas madeixas. A Skala e a Lola From Rio, conhecidas de quem gosta de cuidar do cabelo, anunciaram a fusão, que dará origem a uma nova holding.

❗“Exagerada”…é como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, descreveu a reação do mercado à medida que eleva o IOF.

🌊 Segurando a onda. O BC pisou no freio na PEC que aumenta a autonomia da instituição, diante da agenda conturbada e os desentendimentos com o governo.