NICE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encurtou a agenda do último dia de sua visita à França, nesta segunda (9), devido a sintomas de um resfriado ou gripe.

De manhã, ele participou da abertura da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC3), em Nice. Ele deveria ficar até a sessão plenária, mas saiu mais cedo que o inicialmente programado.

Em seu discurso, na sessão de abertura, o presidente da França, Emmanuel Macron, dirigindo-se diretamente ao “caro Lula”, lembrou a comunhão de objetivos entre a UNOC3 e a COP30, em novembro, em Belém.

Macron fez uma provocação indireta ao bilionário Elon Musk e seu projeto de viagens espaciais. Para o presidente francês, é preciso explorar “nossa última fronteira, os oceanos, em vez de nos precipitarmos para Marte”.

“A Groenlândia não está aí para ser tomada”, disse Macron em outro trecho do discurso, referindo-se ao projeto do presidente dos EUA, Donald Trump, de conquistar a ilha, território dinamarquês.

O presidente brasileiro só começou a discursar às 10h43, quase duas horas depois do anunciado pelo Planalto. Com a voz rouca, pigarreou em alguns momentos.

Lula fez uma brincadeira sobre o nome da cidade anfitriã da conferência. Disse achar que “Nice” era homenagem a uma mulher, mas que aprendeu que na verdade o nome “é resultado de muita luta” —vem de “niké”, “vitória” em grego.

“Temos orgulho de ser uma nação oceânica”, disse Lula, explicando o conceito de “Amazônia azul”. “As duas Amazônias sofrem o impacto das mudanças do clima”.

O presidente da conferência, Rodrigo Chaves, presidente da Costa Rica, mencionou aos presentes que o discurso de Lula não fazia parte originalmente da programação da sessão de abertura, evidenciando que a participação do brasileiro foi antecipada.

Lula encerrou o discurso dizendo que na COP30 é preciso tomar “decisões importantes”: convencer os chefes de Estado a acreditar nas mudanças climáticas, a investir na educação sobre o tema. “Quem defende a Amazônia precisa ir para ver a nossa COP30”, acrescentou, convidando os presentes a ir a Belém em novembro.

Ainda no final da manhã, ele visitaria a sede da Interpol, organização internacional de polícias, em Lyon. Esse evento estava originalmente marcado para o início da tarde. O secretário-geral da entidade é brasileiro, o delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, e Lula empenhou-se pessoalmente para que fosse eleito para o cargo.

No domingo (8), ao participar do Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco, Lula tossiu durante seu discurso e assoou o nariz em alguns momentos. Horas depois, o governo confirmou que ele havia cancelado a participação em um jantar de gala, naquela mesma noite, e anunciou as alterações na agenda de segunda-feira.

Lula, que completa 80 anos em outubro, teve uma agenda carregada na França, onde chegou no dia 4. No dia 5, enfrentou chuva fina e uma temperatura em torno de 15 graus para tirar uma foto com o presidente da França, Emmanuel Macron, e as respectivas primeiras-damas diante da Torre Eiffel iluminada com as cores da bandeira do Brasil.

Co-organizada por França e Costa Rica, a UNOC3 reúne chefes de Estado, organizações internacionais e sociedade civil até sexta-feira (13) em Nice para estabelecer um plano de ação em favor do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 das Nações Unidas.

O ODS 14, como é conhecido, prevê que até 2030 a humanidade consiga “conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos”.

O objetivo da UNOC3 é proteger 30% dos oceanos até 2030, por meio do fortalecimento do conhecimento científico marinho, da conclusão de processos multilaterais de proteção oceânica e do financiamento para a economia azul sustentável.

Uma das prioridades da UNOC3 será a entrada em vigor do Acordo BBNJ, sigla em inglês para “biodiversidade em áreas além da jurisdição nacional”, adotado em março de 2023. A França ratificou o tratado em novembro de 2024 e trabalha para alcançar as 60 ratificações necessárias. O acordo permite criar áreas marinhas protegidas em alto-mar e regular a atividade humana em 60% dos oceanos mundiais.

O nível médio do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018, com uma taxa de 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018. A temperatura dos oceanos aumentou 1,5°C no último século. A acidificação oceânica cresceu 30% desde a era pré-industrial. 37,3% dos estoques pesqueiros marinhos estão sendo explorados acima da capacidade de reprodução.

Entre os principais problemas em discussão no evento, está o impacto do transporte marítimo e da poluição plástica. A Organização Marítima Internacional estabeleceu meta de neutralidade de carbono até 2050. Calcula-se que 15 toneladas de plásticos são descartadas nos oceanos a cada minuto. Resíduos plásticos representam 85% dos materiais poluentes oceânicos.