BARRA MANSA, RJ (FOLHAPRESS) – Estudos clínicos de fase 2 mostraram resultados promissores no uso da imunoterapia com células CAR-T para o tratamento do câncer de estômago. A pesquisa, conduzida por cientistas chineses, foi publicada na prestigiada revista científica The Lancet.
No trabalho, os indivíduos que receberam a nova abordagem terapêutica viveram, em média, 40% mais tempo do que aqueles tratados com os métodos convencionais. Células CAR-T são capazes de reconhecer células tumorais por meio de receptores de antígenos quiméricos. Essa tecnologia vinha sendo utilizada apenas em casos de neoplasias hematológicas, mas esse estudo faz o uso inovador desse material no tratamento de tumores sólidos.
Segundo o cirurgião oncológico Gustavo Gilteman, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (CH-UFRJ/Ebserh), o trabalho representa um ponto de partida para o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer gástrico. Essa doença ainda conta com poucas opções de tratamento que oferecem, em geral, apenas alguns meses a mais de vida.
No entanto, Gilteman ressalta que a tecnologia ainda é cara e de difícil acesso. Além do custo elevado, poucos centros no Brasil e no mundo têm estrutura para produzir as células CAR-T. Outro desafio é o risco de efeitos colaterais graves, que podem ser fatais em alguns casos.
O tratamento começa com a coleta de células T, responsáveis pela defesa do organismo, do próprio paciente. Em laboratório, esse material biológico é ativado e geneticamente modificado por meio de um lentivírus, transformando-se nas chamadas CAR-T. Após o cultivo, são administradas no organismo do paciente, onde atuam com mais eficácia contra os tumores.
A pesquisa incluiu mais de 100 pacientes chineses em estágio avançado da doença, divididos aleatoriamente em dois grupos. Um recebeu o tratamento com células CAR-T, enquanto o outro foi tratado com medicamentos convencionais.
Os resultados mostraram que os pacientes que receberam a imunoterapia viveram, em média, 7,9 meses após o início do tratamento. Já o grupo submetido ao tratamento padrão teve uma sobrevida média de 5,5 meses. Além disso, o tempo sem progressão da doença foi de 3,3 meses no grupo tratado com CAR-T, em comparação a 1,8 meses no grupo convencional.
Estudos de fase 2, como esse, avaliam a eficácia do tratamento em relação à dose administrada e analisam o perfil de segurança do medicamento a curto prazo. Mas antes que o tratamento esteja disponível para o público, pesquisas mais robustas ainda são necessárias.
O câncer de estômago é o quinto tipo mais comum e o terceiro mais letal no mundo. Para tumores localizados, a remoção cirúrgica é o tratamento curativo mais comum, mas recentemente, como conta Williams Barra, professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará, tem sido aliado à quimioterapia e radioterapia, como formas de prevenir a recidiva da doença. Novas tecnologias, como a imunoterapia, vem somar ao arsenal de ferramentas médicas para garantir a saúde dos pacientes.
Quando detectado precocemente, as chances de cura são elevadas. No entanto, a doença costuma ser silenciosa e seus sintomas podem ser confundidos com problemas gastrointestinais. Fatores genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento da doença. Homens com mais de 40 anos estão entre os mais afetados. Além disso, alimentação inadequada, tabagismo e infecção pela bactéria Helicobacter pylori são fatores de risco importantes.
O sedentarismo também pode ser determinante para o surgimento destes tumores. É o que mostrou um estudo brasileiro feito com 297 voluntários da região norte. Divididos entre pacientes e grupo de controle, eles foram convidados a preencher um questionário avaliando o nível individual de atividade física.
Segundo os resultados, pessoas que praticaram exercícios por cinco anos antes da entrevista tiveram 71% menor probabilidade de desenvolver câncer de estômago. Essa redução também foi vista para praticantes de atividades por lazer e para locomoção.
O professor Williams afirma que o diagnóstico, hoje, é baseado majoritariamente nos sintomas, e posterior endoscopia, exames de imagem ou pela detecção de linfonodos em estágio avançado. Entre os sinais mais frequentes estão dor ou desconforto na parte superior do abdômen, náusea, falta de apetite, perda de peso e sangramentos, tanto por vômito quanto pelas fezes. O problema é que o câncer de estômago, em geral, é silencioso nas primeiras fases, e acaba sendo detectado apenas tardiamente, quando as chances de cura são menores.
Um estudo publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva aponta que o atraso no diagnóstico e no tratamento do câncer de estômago no Brasil está relacionado a fatores socioeconômicos. A análise de 106.669 casos mostrou que as chances de cura aumentam significativamente quando a cirurgia é realizada logo após o diagnóstico.
No entanto, fatores como idade, região de residência, estado civil, escolaridade, município e estágio da doença podem atrasar o acesso ao tratamento inicial, passo decisivo para o sucesso terapêutico.