BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS0 – Antes que um terremoto de magnitude de 6,5 atingisse cidades da Colômbia neste domingo (8) deixando ao menos seis feridos, a política local já tinha sofrido grande abalo com o atentado a tiros no dia anterior contra o senador de oposição e pré-candidato à Presidência Miguel Uribe, 39, e as reações do presidente Gustavo Petro ao ataque.

Uribe discursava perto de Bogotá quando foi atingido por disparos. Enquanto políticos de diferentes correntes se manifestaram lamentando o ocorrido e desejando a recuperação dele, que foi operado e segue hospitalizado, a primeira reação de Petro, por meio de uma publicação no X, foi considerada turva pelos opositores.

Ainda na noite de sábado, ele fez uma postagem em que nem mesmo mencionava o nome do ferido, referindo-se a ele como “o filho de uma mulher árabe”, em alusão à jornalista Diana Turbay, mãe do senador e que foi mantida refém por um grupo ligado ao cartel de Medellín e morta na tentativa de resgate, em 1991.

“Ah, a Colômbia e sua eterna violência. Eles querem matar o filho de uma mulher árabe em Bogotá, que já havia sido assassinada, e não se deve matar no coração do mundo. Eles matam o filho e a mãe”, escreveu o presidente.

O discurso, no entanto, gerou controvérsia e críticas de vários setores da oposição. Alguns líderes, como o ex-ministro da Saúde Alejandro Gaviria, expressaram descontentamento, chamando as palavras de Petro de tristes e preocupantes. A parlamentar pelo Aliança Verde Katherine Miranda também criticou duramente o discurso, descrevendo-o como ridículo e patético.

Outros membros do partido de Uribe, o Centro Democrático, como Juan Espinal, classificaram de um fracasso a postura de Petro, afirmando que suas palavras refletiam uma Presidência desgovernada. José Jaime Uscátegui, outro parlamentar, observou que o presidente desviou a atenção do ataque ao falar de assuntos não relacionados ao momento crítico que o país vivia.

Além disso, o vereador de Bogotá, Oscar Vahos, criticou o discurso de Petro por não conter autocrítica e por fazer referências a temas irrelevantes em um momento tão sério. Ele censurou o presidente por ter anteriormente incitado a divisão e o conflito e por ter dito coisas que considerou desconexas.

Mais tarde, Petro fez um novo pronunciamento, em vídeo, condenando o ato de forma mais objetiva e prometeu total transparência na identificação e julgamento dos responsáveis. Ele também pediu que, apesar das diferenças políticas, a prioridade fosse a saúde de Uribe, desejando sua rápida recuperação.

Enfatizou, ainda, que os colombianos deveriam se unir em apoio à vida do senador e terminou dizendo uma frase em árabe que significa “que a paz esteja com você”. Petro já destacou a importância da imigração árabe na Colômbia em outras ocasiões, ao se posicionar a favor da causa palestina. Uribe tem ascendência libanesa.

“Com grande dificuldade para articular suas palavras e pensamentos, Gustavo Petro termina falando com Miguel Uribe em árabe. Não era o momento certo”, criticou a ex-senadora Ingrid Betancourt, ex-candidata à Presidência e que foi sequestrada por guerrilheiros.

“Do fundo do meu coração, desejo a recuperação de Miguel e a paz de sua família”, escreveu Petro no X, na tarde deste domingo, tentando contornar as críticas. Ele também apoiou a marcha pelo fim da violência que ocorrera mais cedo, em Bogotá. “Diante da violência, o melhor remédio é sempre a arte e a união. Os assassinos buscam, acima de tudo, silenciar a cultura da sociedade bogotana, e isso não deve ser permitido. Que milhões de vozes cantem por Miguel Uribe Turbay”, escreveu.

As diferenças entre Gustavo Petro e Miguel Uribe vêm de longa data. Uribe é de uma família tradicional na política colombiana, sendo neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala (1978 a 1982). Antes do Senado, ele tinha sido secretário de governo de Bogotá e vereador. Também tentou a prefeitura da capital em 2019.

O senador não aparecia, até o momento, como um dos favoritos na corrida presidencial –a Constituição da Colômbia não permite reeleição. O site jornalístico La Silla Vacía agregou resultados de pesquisas de três instituições (Guarumo, CNC e Colombia Opina de Invamer). Em abril de 2025, Uribe aparecia em sétimo lugar (com 4,4% das intenções de voto).

Era visto, no entanto, como uma oposição ascendente. Uribe entrou para a política em 2012, ao ser eleito vereador com o apoio de líderes liberais. Sua passagem pela Câmara municipal coincide com o mandato de Petro na prefeitura, e ele se posicionou como um dos principais críticos do então prefeito, questionando a implementação de um programa de coleta de lixo e a política social do município.

Antes de despontar como um possível nome para as eleições de 2026, Uribe já vinha sendo um crítico frequente do governo Petro, desde que ele se tornou o primeiro líder de esquerda a chegar ao Palácio Nariño.

Dois dias antes do ataque, ele e Petro bateram boca pelas redes sociais, com o presidente questionando suas críticas. “O neto de um ex-presidente que ordenou a tortura de 10 mil colombianos falando de ruptura institucional?”, escreveu o chefe do Executivo. O senador rebateu que Petro “empunhou armas e participou de um grupo criminoso”, ao se referir à guerrilha M19.