BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez um movimento que foi descrito por aliados como uma reaproximação com Jair Bolsonaro (PL) após o ex-presidente ter demonstrado resistências em indicá-lo como sucessor na direita para concorrer ao Palácio do Planalto em 2026.
Um dos pontos considerados centrais nesse processo foi uma ida do governador ao gabinete que Bolsonaro ocupa na sede do PL, em Brasília, há cerca de duas semanas.
Na conversa, Tarcísio reiterou seu apoio e solidariedade ao ex-presidente, num momento em que ele enfrenta o processo pela trama golpista de 2022. Os dois combinaram que devem se falar com maior frequência para evitar futuros ruídos.
A discussão não foi resolutiva sobre o futuro do bolsonarismo, mas, segundo interlocutores de ambos, manteve a porta aberta para que o ex-presidente declare apoio ao governador, se assim preferir, no próximo ano.
Bolsonaro está inelegível, mas mantém discurso, publicamente, de que levará sua candidatura até o final.
Tarcísio faz gestos sutis, de acordo com seus aliados. Ainda que decida ser candidato à reeleição em São Paulo, o governador não teria interesse em nenhuma indisposição com Bolsonaro, que já demonstrou grande capacidade de fritar ex-aliados junto à militância, ao menor sinal de desavença ou deslealdade.
O ex-presidente embarcou para São Paulo nesta sexta-feira (6) para se preparar com advogados para depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) na próxima semana. Ficará hospedado, como de hábito, no Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador.
Discussões sobre a sucessão de Bolsonaro costumam ser tratadas com delicadeza por aliados. Eles temem desagradar ao ex-presidente, que insiste no discurso de uma candidatura para manter seu capital político.
Aliados de Tarcísio dizem que ele não tem interesse em deixar a reeleição, considerada garantida, para se lançar ao Planalto neste momento -a menos que Bolsonaro aponte a ele o que seria uma “missão”.
Segundo relatos, o ex-presidente chegou a sinalizar que Tarcísio seria seu sucessor. Depois, voltou atrás, expressando essa posição mais de uma vez.
A dúvida mantida por Bolsonaro provoca entre aliados do governador o receio de que ele deixe o cargo, em abril do ano que vem, para concorrer à Presidência, e que o ex-presidente desista de indicá-lo como candidato.
Antes do encontro ocorrido há cerca de duas semanas, Bolsonaro vinha demonstrado resistência em indicar Tarcísio. Uma ala próxima ao ex-presidente vinha reforçando críticas ao governador –o que, segundo interlocutores dos dois lados, contaminava Bolsonaro.
O ex-presidente se queixou de movimentos de aliados de Tarcísio para emplacar seu nome como presidenciável. Também reclamou que o governador não demonstrava solidariedade suficiente ao padrinho.
Aliados de Bolsonaro apontam desconforto com o fato de que as pontes que o governador preserva com o STF não se traduzem em alívio para o seu grupo político no Judiciário. Bolsonaro permanece inelegível e está a caminho de uma provável condenação que deve levá-lo à prisão.
Foi neste ambiente que ocorreu o encontro de Tarcísio e Bolsonaro no dia 21 de maio, sem divulgação na agenda de ambos, mas registrada nas redes sociais.
O governador de São Paulo vive uma incerteza com seu padrinho político. Ele busca se equilibrar na busca por exposição política, sem aparecer demais, ao ponto fazer sombra ao ex-presidente.
Tarcísio tem negado convites para participar de eventos em Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e outros estados. Desde o mês passado, intensificou agenda no interior de São Paulo.
Aliados de Tarcísio dizem que pessoas mais próximas de Bolsonaro sempre tiveram críticas ao ex-ministro de Infraestrutura, mas apontam que isso não define a relação entre os dois –que estaria em bons termos.
Um exemplo de solidariedade com o ex-presidente teria sido o fato de que Tarcísio aceitou prontamente o pedido para ser testemunha de defesa de Bolsonaro no STF -durante a audiência, ele exaltou o governo do ex-mandatário.
O governador também negou que o ex-presidente tenha citado, em conversas no fim de 2022, alternativas para reverter o resultado das eleições presidenciais.
O futuro do ex-presidente depende, em boa medida, de seu eventual sucessor. Um futuro presidente poderia ter peso político para reverter sua inelegibilidade ou tirá-lo da prisão. Em entrevista ao UOL no mês passado, Bolsonaro cobrou de governadores de direita questionamentos públicos sobre as decisões que o impedem de se candidatar.
O apoio também passará, segundo aliados, por uma promessa de indulto a Bolsonaro, algo com que o governador de Romeu Zema (Minas Gerais) e Ronaldo Caiado (Goiás) já se comprometeram publicamente.
Enquanto o cenário não se define, as bolsas de apostas sobre os sucessores de Bolsonaro permanecem abertas. Recentemente, o ex-ministro Paulo Guedes chegou a ser citado como um desses nomes, mas negou a interlocutores essa possibilidade.
Uma chapa considerada imbatível em círculos do bolsonarismo e do centrão seria formada por Tarcísio e Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama.
Outro nome que circula como eventual vice do governador seria o da senadora Tereza Cristina (PP-MS), já considerada para a chapa de Bolsonaro em 2022, mas preterida para acomodar o general Braga Netto -hoje preso sob acusação de ser um dos articuladores da trama golpista.
Muitos integrantes do centrão e do bolsonarismo, porém, dão como certo que Bolsonaro vai preferir indicar um membro de sua família, como uma aposta total na lealdade de quem carrega seu sobrenome. Neste cenário, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ganha força.
Pesa contra essa possibilidade o fato de que ele é hoje investigado pelo STF por atuação contra autoridades brasileiras nos Estados Unidos. O avanço do inquérito ainda é uma incógnita, mas seu retorno ao Brasil é visto como incerto por aliados.