BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse em entrevista à Folha de S.Paulo que as crises do Pix e do INSS prejudicaram o esforço de recuperação da popularidade do presidente Lula (PT).

“Mesmo que você queira comunicar medidas positivas, elas ficam ofuscadas pela administração das crises”, afirma.

Para ela, no entanto, o patamar de aprovação de 40% é uma condição suficiente para reversão do quadro. A ministra reconheceu, ainda, que parte dos partidos que hoje integram a base de apoio estará em campo adversário nas eleições de 2026.

PERGUNTA – O presidente Lula enfrenta alta rejeição. É possível revertê-la a tempo das eleições?

GLEISI HOFFMANN – O patamar de 40% de aprovação a ele e ao governo é condição suficiente para uma boa disputa eleitoral. Tenho certeza que o governo vai melhorar. É mostrando o que está acontecendo para a população, os feitos do governo. Temos tempo para isso.

P. – Com a chegada do ministro Sidônio Palmeira (Secom), havia uma expectativa de melhora. É uma prova de que o problema não é só de comunicação?

GH – Enfrentamos crises que prejudicaram muito o esforço de comunicação de Sidônio. Tivemos a crise do Pix e, agora, a do INSS. Com certeza, tem impacto na avaliação da opinião pública. Mesmo assim, continua em um patamar de 40%. Daqui para a frente, a gente consegue chegar mais diretamente à população. É melhorar cada vez mais a comunicação e a disputa política na sociedade. Lula vai viajar mais o Brasil, conversar mais com o povo. Esse é um quadro que a gente reverte.

P. – Acha que o problema é só comunicação ou reconhece uma questão mais estrutural, de coordenação do governo?

GH – Não acho que seja um problema a comunicação. Acho que tem problemas e tem que melhorar. Estou dizendo que nesse ínterim tivemos duas grandes crises que absorveram completamente a comunicação. Então, mesmo que você queira comunicar medidas positivas, elas ficam ofuscadas pela administração das crises.

Não se pode deixar de considerar que temos uma oposição sistemática, muito diferente do que tivemos nos dois primeiros mandatos de Lula. Não tínhamos essa oposição militante, que é a da extrema direita, uma oposição de rua, de rede, de Congresso e que disputa o tempo inteiro. Isso manteve quase que a realidade que tivemos na disputa eleitoral.

P. – Com o escândalo do INSS, a oposição tenta imprimir em Lula a marca da corrupção. Como o governo enfrenta essa questão, também no momento em que os 20 anos do mensalão ocupam o noticiário?

GH – A oposição está fazendo o papel dela. Em relação ao INSS, o governo está tomando todas as medidas e não restam dúvidas de que esse esquema foi montado no governo passado. Até então, não tínhamos entidades sem ligação com uma base. Você pode até criticar as entidades anteriores, mas elas têm uma base social, um serviço prestado.

A partir de 2018, 2017, é que tivemos entidades que não tinham isso e que tiveram um crescimento muito grande nos descontos da folha do INSS. Você pode dizer assim: “Ah, o governo demorou”. Talvez aí tenha sido um problema nosso, mas não deixou de investigar. Desde 2023 a investigação está sendo feita. Enquanto isso, o governo tomou todas as medidas e vai ressarcir o dinheiro dos aposentados.

P. – A adesão de petistas do Senado à CPMI do INSS pode prejudicar a articulação do governo para impedir sua instalação? O presidente Davi Alcolumbre disse que lerá o requerimento. Há tempo de reverter?

GH – Acho que a CPMI é uma realidade. Não temos medo, nem problema com a CPMI. O que alertei quando havia essa discussão é que essa investigação pelo Congresso pode ter impacto na investigação da polícia.

P. – O governo tem dificuldades no Congresso diante de uma base instável, apesar de partidos terem representantes na Esplanada. A sra. defende a demissão de indicados por siglas “infiéis”?

GH – Sempre soubemos que não teríamos 100% de votação. Aliás, na nossa campanha foi assim. Fizemos uma aliança ampla com setores de partidos que não vieram inteiros conosco. O MDB veio uma parte, tinha candidatura da Simone [Tebet]; PSD veio uma parte; PP veio uma parte. Não adianta querer que agora venham 100% [dos votos]. A articulação com o Congresso, especialmente com os presidentes [Hugo] Motta e [Davi] Alcolumbre, tem sido excelente, pautada pelo compartilhamento de responsabilidades institucionais.

P. – O União Brasil ocupa três ministérios e anunciou federação com o PP, que é mais vinculado à oposição. Como avalia essa contradição?

GH – A gente faz coalizão com quem é possível fazer. Se não é possível fazer com o todo dos partidos, que façamos com uma parte. Precisamos de governabilidade, inclusive, com partidos de direita.

P. – Inclusive com partidos que prometem fazer oposição ao presidente em algum momento?

GH – Uma parte desses partidos [da base] acha que tem que ter outro candidato. Tudo bem. Já tivemos apoio do MDB, com o MDB tendo uma candidatura própria.

P. – Aliados do presidente divergem sobre a melhor estratégia para 2026. Uma ala defende que alguns ministros permaneçam no governo. Outros pregam o lançamento de todos que tenham potencial eleitoral. Qual é a sua opinião?

GH – Defendo que todos que têm potencial eleitoral concorram. Precisamos ter chapas fortes, precisamos ter uma boa eleição para a Câmara, para o Senado.

P. – A sra. pretende concorrer?

GH – Eu não conversei com o presidente, mas, dentro dessa visão, acho que eu teria que fazê-lo para ajudar a chapa e ajudar a bancada.

P. – Qual deve ser a reação do governo caso o governo Trump aplique sanções ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes?

GH – Temos mecanismos de reciprocidade. O governo brasileiro não aceitará essas medidas do Trump. O presidente foi claro nesse sentido de defesa da soberania e da democracia do Brasil. Não cabe a outro país aplicar sanções aqui. Não vamos admitir.

P. – A associação do nome de Bolsonaro a Donald Trump pesa contra o ex-presidente?

GH – Foi uma vergonha o que eles fizeram indo lá comemorar a vitória do Trump, depois uma vergonha usando bonezinho pró-Trump, depois uma vergonha defendendo as medidas que Trump estava tomando contra os outros países, inclusive contra o Brasil. É não defender o seu país. Não são nacionalistas nem um pouco.

P. – O governador Tarcísio usou um boné pró-Trump. Acha que isso pode ser usado contra ele numa eventual eleição?

GH – Foi uma vergonha ele ter usado aquele boné. Acho que ele até se arrependeu daquilo, porque como é que um governador de estado do tamanho de São Paulo usa um bonezinho para elogiar e para apoiar um presidente que ataca o seu país? É lamentável.

P. – A sra. considera que o Tarcísio é o principal adversário em 2026?

GH – Não faço avaliação sobre adversários. Aquele que vier, vamos enfrentar e vamos ganhar a eleição de qualquer. Eles têm um problema porque estão divididos, não sabem quem é o candidato deles, inclusive divididos dentro da família. Temos um candidato único, que é o Lula, e que é o melhor candidato.

P. – A sra. costuma defender a primeira-dama Janja das críticas. Como avalia a atuação dela?

GH – Tem muito preconceito em relação à atuação da Janja. E muita fofoca. Qualquer coisa que tenha problema se coloca nas costas da Janja. Ela é uma pessoa que tem militância política, opiniões, e é válido ela dar suas opiniões e colaborar. Não queremos uma primeira-dama que seja um vaso de enfeite. Ela cumpre um papel importante, fala de temas importantes e tem que ser respeitada por isso.

P. – Esfriou o debate sobre o PL da Anistia no Congresso. A sra. acha que isso já está sepultado ou o governo ainda tem alguma estratégia de como evitar que o PL avance?

GH – O fracasso do projeto da anistia é a maior derrota do Bolsonaro, que aliás vai sentar no banco dos réus a partir desta semana, que é o lugar onde ele merece estar no Estado democrático de Direito. Esse tema da anistia que interessava a ele -nós não estamos falando da moça do batom nem do pipoqueiro– está encerrado.

RAIO X | GLEISI HOFFMANN, 59

Deputada federal licenciada pelo Paraná, é ministra das Relações Institucionais do governo Lula. Formada em direito, foi chefe da Casa Civil do governo Dilma e presidente do PT de 2017 a 2025. Foi senadora da República de 2011 a 2019.