Um estudo, publicado na revista Global Change Biology, revela que aproximadamente um quinto dos oceanos do mundo está vem escurecendo nos últimos 20 anos – uma área de cerca de 75 milhões de quilômetros quadrados.
Os pesquisadores avaliaram as mudanças nas zonas fóticas, áreas onde as interações ecológicas dependem da luz solar e da luz lunar. E, justamente nessas zonas, as águas estão ficando mais escuras e a profundidade atingida pela luz vem diminuindo nas últimas décadas.
Segundo o estudo, “o escurecimento oceânico ocorre quando mudanças nas propriedades ópticas dos oceanos reduzem a profundidade na qual luz penetra para facilitar os processos biológicos Essas áreas não recebem mais luz suficiente para sustentar as interações ecológicas, um fenômeno conhecido como escurecimento do oceano.”

“Se a zona fótica estiver se reduzindo em cerca de 50 m em grandes áreas do oceano, os animais que precisam de luz serão forçados a se aproximar da superfície, onde terão que competir por alimento e outros recursos de que necessitam. Isso pode causar mudanças fundamentais em todo o ecossistema marinho”, explicou Tim Smyth, coautor do estudo e chefe do Departamento de Biogeoquímica Marinha e Observações do Laboratório Marinho de Plymouth.
Os resultados mostram que 21% dos oceanos do mundo ficaram mais escuros desde 2003, com mais de 9% dos oceanos sofrendo uma redução da profundidade atingida pela luz na zona fótica de mais de 50 metros e 2,6% dos oceanos sofrendo uma redução de mais de 100 metros.

Causas e consequências
Essas mudanças podem ser causadas por diversos fatores, incluindo a carga de nutrientes, matéria orgânica e sedimentos provenientes do escoamento agrícola, aumento das chuvas, proliferação de algas e aumento da temperatura da superfície do mar.
O estudo também determinou que algumas das regiões mais impactadas pelo escurecimento dos oceanos incluem áreas altamente afetadas pelas mudanças climáticas, como o Ártico, a Antártida e a parte superior da Corrente do Golfo.
De acordo com os cientistas, a tendência global é de escurecimento dos oceanos, embora cerca de 10% dos oceanos tenham ficado mais claros.

Smyth e o colega autor Thomas Davies, professor associado de conservação marinha na Universidade de Plymouth, usaram dados do Ocean Color Web da NASA para rastrear o escurecimento do oceano, bem como modelos de irradiância solar e lunar para investigar como as mudanças na disponibilidade de luz nas zonas fóticas poderiam potencialmente impactar a vida marinha.
Os cientistas escreveram que os impactos do escurecimento dos oceanos na ecologia marinha ainda são em grande parte desconhecidos, mas com 90% de toda a vida marinha dependente dessas zonas fóticas, as perturbações causadas pelo escurecimento dos oceanos “provavelmente serão graves” e de longo alcance.
“Nossos resultados fornecem evidências de que tais mudanças causam um escurecimento generalizado que reduz a quantidade de oceano disponível para os animais que dependem do Sol e da Lua para sua sobrevivência e reprodução”, disse Davies.

“Também dependemos do oceano e de suas zonas fóticas para o ar que respiramos, os peixes que comemos, nossa capacidade de combater as mudanças climáticas e para a saúde e o bem-estar geral do planeta. Levando tudo isso em consideração, nossas descobertas representam um motivo genuíno de preocupação”, finaliza o pesquisador.
Fonte: Ciclo Vivo