BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, diz acreditar que o número maior de evangélicos no país, revelado pelo Censo 2022, não representa, necessariamente, um aumento no apoio ao conservadorismo.
O levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que os evangélicos são hoje 26,9% do Brasil, o segundo maior bloco religioso, atrás dos 56,7% de católicos.
No entanto, o crescimento foi menor que o esperado para a categoria, que já havia chegado a ser projetada como um terço da sociedade brasileira.
A fala da ministra sobre a porcentagem evangélica foi dada ao ser questionada acerca da declaração desta sexta-feira (6) feita pelo líder do PL na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), de que um número maior de crentes deveria significar maior apoio ao conservadorismo na política.
“A gente sabe que o Brasil é um país cristão, em sua maioria, sempre foi. Eu como católica, desde pequena, também entendo e sei que enquanto católica, a gente também faz parte de vários grupos, católicas de esquerda, católicas pelos direitos humanos e tantos outros, então não todo cristão, necessariamente, precisa ser conservador”, disse Anielle à reportagem.
O líder do partido de Jair Bolsonaro havia afirmado que “evangélicos têm tendência a serem conservadores e de direita, na sua maioria”.
Conforme esse último levantamento, os evangélicos com mais de 10 anos crescerem 35,3% entre 2010 e 2022, enquanto a população total no mesmo recorte etário aumentou 9% no período. No intervalo anterior (2000-2010), esse bloco havia dilatado em 69,2%, enquanto a soma de todos os brasileiros expandiu 18,3%.
A ministra da Igualdade Racial também comentou o resultado do Censo de que o número de adeptos a religiões de matriz africana triplicou em relação a 2010, se tornando hoje 1% da população.
“É claro que o Censo vem de um período maior do que o do nosso governo, mas eu também acho que tem uma influência concreta de políticas públicas que alcançam essas pessoas que hoje se sentem mais seguras e à vontade para falarem”, diz Anielle.
“Ao mesmo tempo que se sentem segura para dizerem que fazem parte dessa religião, mas também para denunciar, porque sabem que tem pessoas que também do lado de cá, à frente de cargos como esse que estão cuidando cada vez mais para que essa liberdade de fato aconteça e seja promovida cada vez mais no nosso país.”
O advogado-geral da União, Jorge Messias, é um dos membros do governo Lula (PT) autodeclarados evangélicos, tendo travado um diálogo com essa parte do eleitorado em momentos deste terceiro mandato do petista.
Procurado sobre os dados, ele afirmou que as informações mostram uma oportunidade para estreitar laços entre o governo e a comunidade evangélica, e acredita no “grande potencial” em uma colaboração entre o grupo com a gestão, sobretudo na implementação de programas sociais.
“É importante ressaltar que os valores compartilhados entre meus irmãos, como os ensinamentos de Cristo, nos incentivam a agir com solidariedade, promover a igualdade e cultivar a empatia em relação ao próximo. Esses princípios estão alinhados com a visão do governo do presidente Lula”, diz. Assim, percebo uma oportunidade clara para estreitar laços entre o governo e a comunidade evangélica, a exemplo do que temos feito nos últimos anos.
Auxiliares do Planalto apontam que, apesar de movimentações que visam aproximar o presidente desse público, o petista ainda tem resistência em “atrelar fé e política”.
Ainda assim, Lula já fez diversos acenos a esses fiéis, como durante as eleições de 2023, e frequentemente reforça ser cristão, durante seus eventos públicos. A gestão do petista não é bem avaliada pelo grupo, conforme mostrou pesquisa Datafolha de fevereiro deste ano. Para 48%, Lula estava fazendo um trabalho ruim ou péssimo.
Presidente em exercício durante a passagem de Lula pela França, Geraldo Alckmin, por sua vez, afirmou que o governo preza pelo bom convívio entre todas as religiões e trabalha pela população em geral, “independentemente do credo que professe”.