SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após seguidos vaivéns ao longo do dia, a reunião do conselho de administração da ENBPar, estatal responsável por Itaipu e as usinas nucleares de Angra, foi cancelada nesta sexta-feira (6). O órgão é alvo de interferência do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que tenta indicar para a presidência um nome ligado ao seu clã político que nunca passou pelo setor elétrico nem nuclear.
Como a Folha mostrou na quinta (5), Silveira atua nos bastidores para driblar a escolha da maioria dos conselheiros por outro nome, o de Armando Casado, atual diretor de Finanças da estatal. A maior parte dos membros do colegiado é indicada por diferentes ministérios, o que demonstra tentativa do ministro de contornar até mesmo seus colegas de governo.
Na semana passada, o presidente da ENBPar, Silas Rondeau, precisou deixar o cargo para assumir uma vaga no conselho de administração da Eletrobras, fruto de acordo entre a ex-estatal e a União. Para seu lugar, o MME (Ministério de Minas e Energia) indicou o atual diretor de gestão de programas de governo da ENBPar, Miguel da Silva Marques.
Na reunião sobre o tema, no entanto, integrantes do conselho escolheram Casado sob argumento de que Marques não tem conhecimento suficiente do setor. Casado, por outro lado, já foi interino em outros momentos de transição, por ser um dos diretores que mais conhecem a empresa.
Após a votação, no entanto, Casado declinou do convite, citando questões pessoais. Conforme a Folha apurou, após as pressões do MME, a possibilidade de desgaste político o levou a recusar o cargo, apesar da insistência do conselho.
A recusa, então, abriu caminho para que o presidente do conselho, Thiago Barral, a pedido de Silveira, usasse da prerrogativa de nomear interinamente, ad referendum, um dos diretores -e nomeou o mesmo Marques. Barral é secretário de Transição Energética e Planejamento do MME e subordinado ao ministro.
Apesar de já estar atuando como presidente interino, o nome de Marques ainda precisa passar por nova votação do colegiado. Inicialmente, a reunião seria na sexta passada (30), que precisou ser cancelada por falta de quórum. Uma nova reunião aconteceria nesta sexta, mas a resistência dos conselheiros contrários à indicação de Silveira teria feito com que o encontro fosse adiado mais uma vez -a reunião chegou a ser pautada ao longo do dia.
Além disso, Barral está de saída do MME. Conforme adiantado pela Agência Infra, e confirmado pela Folha confirmou, ele deve deixar o atual cargo para integrar a coordenação da COP30. Procurado, o MME não confirmou. É incerto o que motivou a saída dele do ministério e se ele ainda continuará conselheiro da ENBPar.
Miguel da Silva Marques assumiu o posto de diretor da ENBPar em 2023, já no governo Lula -antes disso, ele nunca havia atuado no setor energético. Marques é concunhado do deputado federal mineiro Diego Andrade (PSD), do mesmo partido de Alexandre Silveira. Antes de assumir o posto, ele foi presidente da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) em 2021, também sob indicação de Andrade, e superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos de Belo Horizonte.
Ainda de acordo com pessoas que acompanham o cotidiano da ENBPar, ele é bem próximo de outro indicado de Silveira para a estatal: Leandro Xingó Tenório de Oliveira, conhecido como Xingozinho, que chefia a diretoria de Gestão Corporativa. Ex-vereador de Coronel Fabriciano (MG), no reduto político de Silveira, Xingozinho também não tem experiência na área de energia.
Sua nomeação chegou a ser questionada pela CGU (Controladoria-Geral da União), que depois recuou, reconhecendo que ele estava apto para a função. O ministro também já havia tentado nomeá-lo presidente da empresa.