PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon agradeceu pessoalmente ao presidente Lula por ter dito, diante de Emmanuel Macron, que Israel está cometendo um genocídio em Gaza. Segundo ele, isso é um reforço para a esquerda francesa.
“A tomada de posição do presidente do Brasil sobre Gaza nos ajuda enormemente”, disse Mélenchon à Folha de S.Paulo na saída de um encontro de cerca de uma hora com Lula, nesta sexta-feira (6), no hotel onde o presidente brasileiro está hospedado em Paris.
Lula usou o termo genocídio, em referência às ações de Israel, durante entrevista à imprensa com Macron no Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, na quinta-feira (5).
Mélenchon, 73, eterno candidato à Presidência francesa, lidera o partido França Insubmissa, de ultraesquerda. Desde os primeiros meses da guerra em Gaza, em outubro de 2023, ele denuncia o que considera genocídio cometido pelos israelenses. Essa postura o deixou isolado politicamente e em baixa nas pesquisas, acusado de antissemitismo.
“Lula é um dos raros chefes de Estado de um grande país que assume posição claramente para dizer chega. Ele é uma grande figura moral da humanidade”, acrescentou.
Macron vem adotando uma posição cada vez mais crítica de Israel e do governo de Binyamin Netanyahu. Mas já declarou que o uso da palavra genocídio é uma decisão “para os historiadores”
“Hola, qué tal?”, saudou efusivamente Mélenchon, em espanhol, ao reencontrar Lula, de quem é amigo há décadas. Em 2019, o político francês foi a Curitiba visitar o colega brasileiro, que cumpria pena de prisão na sede da Polícia Federal.
As posições de Mélenchon e Lula podem ser idênticas em relação à questão palestina, mas são totalmente diferentes em relação a outro tema: o acordo entre União Europeia e Mercosul. Na França, a classe política é quase unânime na rejeição ao tratado de redução de tarifas, temendo a reação negativa dos agricultores locais, influentes junto ao eleitorado.
Mélenchon entregou a Lula uma carta e um relatório, expondo as razões da oposição da esquerda francesa ao acordo. “Tentamos fazer entender ao presidente que nossa oposição não é ao Brasil, e sim ao modelo econômico que o Mercosul carrega”, afirmou o francês.
Segundo Mélenchon, Lula propôs superar o atual impasse com encontros. O presidente disse que quer organizar uma reunião entre agricultores da França e do Mercosul para que se entendam. Já havia aventado ideia semelhante na véspera, ao conversar com Macron.
Para falar do acordo UE-Mercosul, Mélenchon levou ao hotel dois importantes deputados da França Insubmissa, Aurélie Trouvé e Eric Coquerel. Eles presidem, respectivamente, as comissões de Assuntos Econômicos e de Finanças da Assembleia Nacional, a Câmara dos Deputados francesa.
A deputada Trouvé se disse “muito honrada” por encontrar Lula pela primeira vez pessoalmente. “Sou inspirada por seus combates e suas ideias.”