SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com uma temperatura de 18°C, céu nublado e garoa intermitente, uma mulher angolana estava com sua filha de duas semanas no colo, na manhã desta sexta-feira (6), sentada em um banco da praça Elias Chaibub, no Pari, na região central de São Paulo.

Perto dela, outras dez mulheres acompanhadas dos filhos, crianças pequenas em sua maioria, esperavam o horário de retornar ao Centro Temporário de Acolhimento (CTA) 18, um albergue localizado na rua Comendador Nestor Pereira. O local é especializado em atendimento a famílias.

A explicação é que o local passa por dedetização. As mulheres afirmaram que tiveram de deixar o local por volta das 9h e só poderia voltar depois das 15h. A cena, segundo elas, repete-se semanalmente.

Nesta sexta, cada pessoa recebeu uma sacola com dois pães, uma garrafa de água, um suco ensacado e uma maçã. Seria a única refeição de alguns deles até o retorno ao abrigo, administrado pela Associação Evangélica Beneficente, contratada pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para gerir o local.

Procuradas, a prefeitura e a associação não responderam até a publicação deste texto.

Embrulhada em um cobertor azul, a bebê de duas semanas fica praticamente invisível no colo da mãe. A mulher veio ao país com o marido e os filhos, de 15, 13, 8 e 5 anos, há três meses. A família viajou em busca de oportunidades de trabalho para o pai e de estudo para as crianças e adolescentes. A bebê de colo é a primeira brasileira da família.

Ajudada por outras mulheres, a mãe reclamava da posição desconfortável de ficar com a menina no colo, sentada em um banco de concreto. Outras crianças se espalhavam pela praça, nos brinquedos e no cuidado com mães e irmãos mais novos.

Na mesma praça, uma mulher venezuelana amamentava sua bebê de seis meses. Ela chegou a São Paulo há três meses, com o marido e outros dois filhos, de 8 e 7 anos. O marido estava trabalhando pela manhã e ela estava com as crianças na praça, também preocupada com o frio e a falta de um lugar mais confortável para esperar a dedetização do abrigo.

Ela afirmou que a bebê de colo teve febre durante a noite e agora temia pelo agravamento de sua saúde.

As famílias dizem que são avisadas com uma semana de antecedência do dia em que será feita a dedetização mensal.

Uma delas contou que, quando consegue juntar algum dinheiro, chega a pagar uma diária para ficar com os filhos de 10, 7 e 3 anos em um hotel. Não foi o caso desta vez.

Ela disse que chegou a ser abordada pela Guarda Civil Metropolitana durante a manhã, que questionou o motivo de ela estar lá parada na praça.

Apesar de a dedetização ser feita mensalmente, uma mulher mostrou as marcas nos braços dos ataques de percevejos e conta que chegou a cortar os cabelos curtos por temer o espalhamento de doenças.

Nascida em Manaus (AM), ela e os filhos moram há cerca de um ano no abrigo, depois de, segundo conta, deixar seu estado e viajar a São Paulo para fugir da violência do ex-marido.