SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de El Salvador devolveu aos Estados Unidos nesta sexta-feira (6) Kilmar Abrego Garcia, imigrante salvadorenho que foi preso e deportado por engano em março, segundo a emissora ABC News. Garcia estava detido na controversa prisão construída pelo presidente Nayib Bukele para abrigar membros de facções criminosas, apesar de não ter sido condenado por nenhum crime.
De acordo com a ABC News, Garcia volta aos EUA para responder a uma acusação criminal, registrada sob sigilo pela Justiça federal americana em maio. Ele é acusado de supostamente transportar imigrantes em situação irregular dentro dos Estados Unidos em um esquema que teria durado anos e que teria tido o envolvimento da facção salvadorenha MS-13.
O esquema teria durado quase dez anos e envolvido o transporte de milhares de imigrantes em situação irregular, incluindo crianças, de acordo com a acusação. A imprensa americana já havia relatado que Garcia foi detido, em novembro de 2022, em uma rodovia no estado do Tennessee dando carona para oito pessoas que não tinham bagagem.
O governo Donald Trump utilizou o caso para dizer que Garcia praticou tráfico humano, mas ele não foi acusado nem condenado por esse crime na Justiça. Sua defesa diz que era comum que o salvadorenho, que trabalhava com construção civil, desse carona a colegas do canteiro de obras.
Abrego Garcia vivia com a esposa e seus filhos no estado de Maryland quando foi preso pelo ICE, o serviço de imigração americano, e deportado para El Salvador, apesar de uma ordem judicial proibindo seu envio para esse país devido a alto risco de que ele sofresse tortura lá. O governo Trump chegou a reconhecer que o homem foi deportado erroneamente, mas também disse repetidas vezes, sem apresentar provas, que Garcia faz parte do MS-13, o que sua defesa nega.
O caso se tornou um dos mais emblemáticos da campanha de Trump para deportar o maior número de imigrantes em situação irregular possível muitas vezes, sem que eles tenham tempo de questionar sua detenção.
A proporção foi tamanha que Garcia recebeu uma visita na cadeia do senador do Partido Democrata Chris van Hollen, do estado de Maryland. Depois de ter sua entrada na prisão negada, o governo Bukele acabou permitindo que os dois se encontrassem no hotel onde o senador se hospedava. Na ocasião, van Hollen disse que Garcia passou dias na prisão de segurança máxima antes de ser transferido para outro local, e que ele estaria sem notícias da esposa e dos filhos.
O caso chegou à Suprema Corte dos EUA, que determinou que o governo Trump tomasse medidas para “facilitar o retorno” de Garcia ao país. O termo vago virou alvo de disputa entre a Casa Branca, a oposição e cortes inferiores o governo dizia que a decisão significava apenas que, se Garcia “se apresentasse” em uma fronteira americana, sua entrada “seria facilitada”, mas que o Executivo não tinha obrigação de fazer nada além disso.
O próprio presidente Nayib Bukele, acusado de violar direitos humanos ao prender cerca de 1% da população do país em sua guerra contra o crime organizado, saiu em defesa do governo Trump.