SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem assistiu a “O Esquema Fenício”, em cartaz nos cinemas, pode ter ficado com a impressão de que conhecia de algum lugar a jovem que interpreta a noviça Liesl. Trata-se de algo improvável, já que Mia Threapleton, 24, tem no filme seu primeiro papel de destaque internacional.

Mas é bem possível que, sem perceber, o público tenha sido impactado pela semelhança física que ela guarda com a mãe, Kate Winslet, 49. Ela é filha da atriz vencedora do Oscar por “O Leitor” (2008) e do cineasta e artista plástico britânico Jim Threapleton, 51.

Mia nasceu em Londres no ano 2000, pouco depois de os pais dela se conhecerem nas filmagens de “O Expresso de Marrakesh” (1998). Eles se divorciaram no ano seguinte, e a menina cresceu -como boa parte dos filhos de pais separados- entre duas casas.

Sobre ter sido criada nesse contexto, Mia disse recentemente ao New York Times que seus pais “mandaram muito bem”. “Tudo funcionou perfeitamente. Tenho ótimas relações com ambos, e me sinto muito sortuda por isso”, afirmou.

Apesar de sua mãe ser mundialmente conhecida, ela diz que só entendeu a fama dela quando, por volta dos dez anos de idade, presenciou uma multidão fãs se acotovelando para ver a estrela de Hollywood fazer a leitura de um texto em um festival literário. Mia também conta que nunca teve redes sociais, algo que mantém até hoje.

A jovem também não se sente uma “nepo baby”, como são conhecidos os filhos de famosos que teriam acesso facilitado às profissões dos pais. Afirma que recebeu apoio de Kate Winslet, mas procurou trilhar o próprio caminho.

“Ela foi incrivelmente solidária com o meu desejo de querer fazer isso sozinha porque foi assim que ela fez também”, comentou à revista Vanity Fair. “Agora, posso contar para ela sobre as histórias descoladas que eu tive no trabalho também, o que é ótimo.”

A vontade de ser atriz foi verbalizada por ela aos 13 anos, segundo lembra. Até então, queria ser bióloga marinha, mas percebeu que talvez não fosse tão boa em ciências e matemática. Mais ou menos nessa época, fez a primeira ponta em um filme. Foi em “Um Pouco de Caos” (2014), estrelado pela mãe, com quem só voltou a trabalhar em um episódio da britânica “I Am…”, em 2022.

Já mais madura, passou a procurar papéis ativamente, mas nunca usou sobrenome da mãe. Fez “Shadows” (2020) e, em seguida, trabalhou com o cineasta brasileiro Karim Aïnouz em “O Jogo da Rainha” (2023). Na TV, participou da série “Ligações Perigosas” (2022) e depois de “Os Bucaneiros”, da Apple TV+.

Contudo, nada a preparou para a surpresa que foi ser escolhida para estrelar um filme de Wes Anderson. Ela chegou a confessar que, quando recebeu a notícia, pediu para o agente ligar para o diretor de elenco para confirmar se não haviam se enganado.

Em “O Esquema Fenício”, ela contracena com nomes como Benicio del Toro, Michael Cera e Scarlett Johansson. Até pequenos personagens são defendidos por astros do porte de Tom Hanks, Bryan Cranston, Benedict Cumberbatch, Riz Ahmed, Willem Dafoe, Bill Murray e Charlotte Gainsbourg.

Na trama, o magnata Zsa-zsa Korda (Del Toro) sofre várias tentativas de assassinato. Ele decide se entender com a única filha, a irmã Liesl, e resolve testá-la como administradora de seus negócios. Junto com o atrapalhado Bjorn (Cera), que é contratado como tutor dos outros nove filhos do ricaço, eles visitam diversos parceiros de negócios para concretizar a construção de um empreendimento megalomaníaco no deserto.

Para não fazer feio em meio a tantos nomes consolidados, Mia tentou se preparar ao máximo nos três meses que teve antes de começarem a gravar. Ela se debruçou sobre os meandros da Igreja Católica para entender como uma freira deveria se comportar. Conversou com um diácono, viajou para Roma e fez leituras da Bíblia.

“Foi uma empolgação avassaladora e estava apenas querendo absorver o máximo de informação que eu humanamente conseguisse”, contou em bate-papo com a imprensa internacional, do qual a reportagem participou. “Fiz muitas anotações simples, como o que tal coisa significa, então acho que isso provavelmente acabou aparecendo subliminarmente ali. Tudo meio que se fundiu nessa construção.”

Outro recurso que usou foi gravar o que diziam os personagens com quem a irmã Liesl iria contracenar, para poder treinar as próprias falas ouvindo-as uma e outra vez. “Eu gravava mudando o tom e a altura das falas das outras pessoas”, conta. “Uma vez fui mostrar para o Wes [Anderson] e ele pensou que eu estava ensaiando com outras cinco pessoas na sala, mas era só eu (risos).”

Ela diz que, ao final do processo de descoberta da personagem, tirou tantas fotos e fez tantos apontamentos que, ao espalhar tudo no chão da cozinha, ficou parecendo “uma investigação de assassinato”. E, mesmo assim, ainda houve espaço para surpresas.

Um exemplo é a forma como o véu de sua personagem foi escolhido. Ela diz que no segundo teste de vídeo, estava experimentando diferentes figurinos, mas não haviam chegado a um adereço adequado para a cabeça. Foi quando ela viu um guardanapo deixado na mesa do almoço, que ela colocou sobre os cabelos, preso com grampos. “Foi daí que veio”, diverte-se.

Já na gravação das cenas havia menos espaço para experimentar. “[Wes Anderson] é muito planejado, você sabe desde o começo o que ele está procurando”, diz. Ela conta que o diretor usava animatics (storyboards animados) para mostrar a eles como tinham que se posicionar. “Você tem que acertar suas marcas, não só porque você quer fazer direito, mas pelo movimento da câmera.”

Paradoxalmente, ela diz que saber tudo o que tinha que entregar a ajudou bastante durante as filmagens. “Você está simplesmente lá, brincando e se divertindo enquanto faz isso. E está sendo orientado por alguém que sabe exatamente o que quer e como fazer isso”, celebra.