BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O desmatamento na amazônia voltou a acelerar em maio deste ano, o que liga um sinal de alerta no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para um dos biomas mais importantes para o equilíbrio ecológico do planeta. Já no cerrado e no pantanal, houve queda.

Segundo dados do Deter —sistema de monitoramento via satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial)—, divulgados nesta sexta-feira (6), pelo segundo mês seguido os alertas de destruição para o bioma amazônico em 2025 superaram o registrado em 2024.

Em maio deste ano foram 960 km² de floresta destruída, contra 500 km² de 2024, um aumento de 92%. Em abril, houve aumento de 55% na mesma comparação, cenário que preocupa pela proximidade com uma nova temporada de incêndios.

Segundo integrantes dos ministérios do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia, a degradação da floresta tem, agora, um novo perfil, efeito da mudança climática e das graves secas consecutivas, com incêndios, ocorridas neste século (2005, 2010, 2015, 2016, 2023 e 2024).

“Não estamos falando do ponto de não retorno nem de colapso do bioma, mas do colapso da área incendiada e que era floresta”, diz o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

Claudio Almeida, do Inpe, afirma que esse colapso acontece quando um mesmo local é incendiado reiteradamente, e aquela área deixa de ter as características de floresta.

“Aquela estrutura perde carbono, biodiversidade, função ecológica. Deixa de ter um papel de floresta, colapsou a estrutura florestal que existia ali”, afirma.

Segundo ele, esse impacto ainda é local, mas pode se ampliar para ser regional, se mais áreas passarem pelo mesmo processo.

“Uma das áreas que analisamos, de mais de 10 mil hectares, vem tendo alerta de queimada e desmatamento há nove anos. Desde 2016 pedaços dessa área já estavam em alerta, o que levou ao longo desse muitos anos ao colapso da floresta.”

Para Capobianco, isso demonstra uma mudança de “uma trajetória histórica que até hoje não conhecíamos”.

“É uma realidade nova. De certa forma, tínhamos a expectativa de que a floresta úmida não seria vítima dessa realidade [climática de forma] tão grave como as florestas temperadas. No entanto, estamos assistindo uma situação dramática aqui no Brasil”, afirma.

No comparativo entre as causas da destruição, pela primeira vez o desmatamento com vegetação, causado pelos incêndios, superou o corte raso, a derrubada da floresta.

Segundo Capobianco, o “desmatamento com vegetação” significa “uma floresta incendiada a tal ponto que ela chega agora a uma floresta colapsada”.

Em 2025, o primeiro motivo representa 51% dos alertas do Deter, contra 48% do segundo. Em 2024, por exemplo, esses índices foram de 21% e 76% respectivamente.

“[Esse índice] superou o do corte raso, que era historicamente nosso maior problema”, afirma Capobianco. “Isso abre uma situação nova, que tem a ver diretamente com o agravamento do quadro climático. Esse é um fato absolutamente inquestionável.”

Para Osvaldo Moraes, diretor para clima e sustentabilidade do Ministério de Ciência e Tecnologia, essa nova realidade pode afetar a conservação da biodiversidade, a capacidade de absorção de gás carbônico do bioma e a rede hídrica que dele depende.

“É de se assustar. E não há dúvida nenhuma que a seca que está impactando a amazônia é fruto não de um fenômeno natural, mas das ações antrópicas”, diz.

Entre agosto de 2024 e maio de 2025, a floresta amazônica perdeu 3.502 km², segundo os dados agregados do Inpe —um crescimento de 9,1% com relação ao mesmo período anterior (3.186 km²).

Em outros biomas, o desmatamento está em queda.

No cerrado, após um aumento nos alertas entre abril de 2024 e 2025 (de 547 km² para 690 km²), houve queda de 15% em maio (de 1.040 km² para 885 km²), e 22% no acumulado (de 5.908 km² para 4.583 km²).

No pantanal, o número de incêndios caiu drasticamente em 2025. A soma dos últimos três meses não chega a 10 km² queimados, e houve uma redução 99% no fogo registrado em maio deste ano, na comparação com o ano anterior.

No agregado entre agosto e maio, os alertas de desmatamento apresentam queda de 74% na comparação com o mesmo período do ano anterior.