RIO DE JANEIRO, RJ E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar do nome, o município gaúcho de Arroio do Padre (a cerca de 270 km de Porto Alegre) voltou a registrar o menor percentual de católicos do Brasil em 2022. Em compensação, a cidade seguiu com a maior proporção de evangélicos.

É o que apontam novos dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta sexta-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De um contingente de 2.353 habitantes de dez anos ou mais em Arroio do Padre, 66 eram declarados católicos, o equivalente a 2,8%. Outros 2.088 eram evangélicos, ou 88,7% do total em 2022.

No Censo anterior, relativo a 2010, os percentuais eram de 8% e 86,1%, respectivamente. Arroio do Padre também tinha o menor patamar de católicos e o maior de evangélicos na ocasião.

A história local tem raízes na imigração alem㠗país de maioria protestante. O predomínio de evangélicos na cidade está bastante associado à fé luterana, como mostrou a Folha de S.Paulo em reportagem de 2017.

A origem do nome do município é motivo de divergências. Uma das versões aponta para a suposta existência de um pastor que costumava se banhar em um arroio (córrego), mas era confundido e chamado de padre, segundo publicação de 2015 disponível no site da Câmara Municipal.

Outra hipótese indicada no documento é que o pastor, ao voltar de uma visita a um enfermo em um dia de chuva, teria se descuidado e caído no arroio.

Os dados divulgados pelo IBGE nesta sexta não trazem a desagregação da população evangélica, que abrange diferentes igrejas.

Essa lista vai desde os evangélicos de missão, como os luteranos, até as crenças de origem pentecostal, como Assembleia de Deus e Universal do Reino de Deus.

O IBGE reconheceu que enfrenta dificuldade para desmembrar as informações e ainda não definiu se divulgará o detalhamento. A expectativa é de que a decisão seja tomada no segundo semestre.

O Censo anterior, de 2010, trouxe dados segmentados sobre os evangélicos.

“O que a gente percebeu é que nesse Censo [2022] as declarações não foram tão completas como vinham sendo nos Censos anteriores”, afirmou Luiz Felipe Barros, analista da pesquisa do IBGE.

“Isso gera um pouco mais de dificuldades na desagregação desses dados. A gente está trabalhando e avaliando as possibilidades de desagregação”, completou.

O fato é que, segundo a pesquisa, os evangélicos vêm ganhando participação no país. O grupo correspondia a 15,1% da população de dez anos ou mais em 2000. A parcela aumentou para 21,6% em 2010 e para 26,9% em 2022.

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EVANGÉLICOS SÃO MAIS DA METADE DOS MORADORES EM 58 MUNICÍPIOS

O IBGE diz que os evangélicos representavam mais da metade dos habitantes de dez anos ou mais em 58 municípios brasileiros em 2022. Vinte ficavam no Rio Grande do Sul.

Depois de Arroio do Padre (88,7%), Arabutã (SC), com 76,5%, e Santa Maria de Jetibá (ES), com 73,5%, mostraram os maiores percentuais de evangélicos. O instituto afirma que um traço marcante desses locais é a colonização alemã ou pomerana.

O menor percentual de evangélicos, por outro lado, foi registrado na cidade gaúcha de Montauri (1,3%) em 2022. O município teve a maior parcela de católicos do país (98,3%).

Ainda de acordo com o Censo 2022, os evangélicos formavam o grupo de religião predominante em 244 cidades. Ou seja, tinham a maior parcela da população de dez anos ou mais nesses municípios.

Considerando somente os locais com mais de 100 mil habitantes, a proporção mais elevada ocorreu em Manacapuru (AM): 51,8%. Itabaiana (SE), por outro lado, mostrou a menor (10,3%).

PROPORÇÃO DE EVANGÉLICOS AVANÇA MAIS EM CIDADES DO NORTE

Na comparação dos últimos dois recenseamentos, a cidade com o maior aumento no percentual de evangélicos foi Santa Rosa do Purus (AC).

Houve salto de 29,2 pontos percentuais na proporção desse grupo, que passou de 18,5% da população de dez anos ou mais em 2010 para 47,7% em 2022.

Itamarati e Carauari, ambas no Amazonas, vieram na sequência –mais 26,1 e 24,1 pontos percentuais, respectivamente.

Nove dos dez maiores aumentos foram registrados no Norte. A exceção veio de Guaimbê (SP), onde a proporção de evangélicos subiu de 18,4% em 2010 para 40,6% em 2022 —alta de quase 22,3 pontos percentuais.