SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um país dominado pelas religiões católica e evangélica, os dados do Censo Demográfico divulgados nesta sexta-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) destacam um município como o único em que a proporção de espíritas é maior do que qualquer outra crença: Palmelo, no interior de Goiás.

Com apenas 2.259 habitantes, 42,6% deles se declararam espíritas na última pesquisa realizada pelo IBGE. O motivo para isso é que a cidade surgiu a partir de um centro espírita construído na fazenda Palmela em 1929: o Centro Espírita Luz da Verdade.

Naquela época, ainda havia muito preconceito contra as pessoas que seguiam o espiritismo, uma doutrina criada pelo francês Allan Kardec no século 19. Por isso, as reuniões na fazenda passaram a receber cada vez mais participantes até que, em 13 de novembro de 1953, o município se emancipou e manteve a tradição espírita.

A página oficial da prefeitura diz que a cidade é hoje considerada “Cidade de Estância e Reequilíbrio Físico, Mental e Espiritual, muito procurada por criaturas de toda parte, em busca da cura”.

Se Palmelo possui a maior proporção de espíritas, a gaúcha Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, é a que teve mais respondentes dizendo que seguem religiões de matrizes africanas, com 9,3% da população de 224.112 habitantes.

De acordo com o babalorixá Gamby Ty Sàngó, presidente da Federação Afro-Brasil, o Rio Grande do Sul é o berço do batuque, também conhecido como nação, uma religião afro-brasileira que tem sua origem em meados do século 19.

Viamão possui muitas comunidades que praticam a religião e eventos que celebram a cultura. Talvez por isso os habitantes não temeram responder ao Censo que são seguidores.

Para Ty Sàngó, no entanto, o Censo não mostra o coeficiente correto de qual município possui uma quantidade maior ou menor de religiosos de matriz africana devido à intolerância religiosa que ainda existe no país, principalmente, sobre as religiões afro-brasileiras.

“Devido à intolerância religiosa, a pessoa prefere optar por uma coisa que não faça você olhar com olhos tortos. Ela vai se sentir coagida. Isso infelizmente acontece. Não é dito, mas acontece”, diz o babalorixá, destacando que muitas vezes as pessoas dizem ser espíritas ou católicas para não falarem abertamente que são candomblecistas ou umbandistas.

“Se você é candomblecista não se encaixa como espírita, que é kardecista. Ainda há a pajelança, o pessoal do batuque, da umbanda. Quando você não acha a sua crença na pesquisa, coloca que é católico. Nosso Censo não mostra a realidade do povo de matriz africana.”

Para fins de divulgação, o IBGE juntou todas as respostas de religiões de matrizes africanas no grupo Umbanda e Candomblé.

Em relação às pessoas que seguem tradições indígenas, Amajari, em Roraima, é a cidade com a maior porcentagem de respondentes, com 25,4% dos 13.927 habitantes.

Esse dado era esperado uma vez que 65,5% da população do município que faz fronteira com a Venezuela se diz indígena. A divisão entre as outras religiões está equilibrada, com católicos correspondendo a 31,5% e evangélicos, a 26,3%.

Segundo o IBGE, nas terras indígenas e nos setores de agrupamentos indígenas, a redação da pergunta “Qual é sua religião ou culto”, feita a toda a população de 10 anos ou mais, foi alterada para “Qual a sua crença, ritual indígena ou religião?”, de forma automatizada, para facilitar o recenseamento.

Durante o Censo, as declarações de multirreligiosidade e as declarações de religiosidade mal definidas, assim como outras que não se encaixam nos grupos de católicos, evangélicos, umbanda e candomblé, espíritas e indígenas foram reunidas em um grupo chamado Outras Religiosidades.

Nesse grupo, a cidade que se destaca é Alegrete do Piauí, na qual 30,3% dos habitantes entraram nessa divisão. No entanto, o IBGE não explicou quais crenças foram respondidas para que o município assumisse essa posição com tamanha proporção de seguidores de outras religiosidades.

Por fim, o Censo 2022 também identificou a cidade com a maior proporção de pessoas sem religião: Chuí, no extremo sul do país, na fronteira com o Uruguai. De acordo com os dados da pesquisa, 37,8% dos 6.262 habitantes declararam não seguir qualquer tipo de religião.

Essa porcentagem é a maior entre as opções da pesquisa, mais que os 35,6% de católicos, 11,4% de outras religiosidades, 7,4% de evangélicos, 4,5% de religiões de matrizes africanas e 3,2% de espíritas.