O que começou como uma aliança improvável entre o presidente dos Estados Unidos e o magnata da tecnologia Elon Musk desmoronou em ritmo acelerado, diante dos olhos de todo o país — e do mundo. O que antes era um bromance bilionário, marcado por apoio político, viagens no Air Force One e conselhos de bastidores, virou uma batalha aberta travada em redes sociais e declarações públicas carregadas de ironia, mágoa e ameaças.

Durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz na Casa Branca, Donald Trump não poupou palavras para expressar sua frustração com Musk. Segundo ele, o bilionário — que havia sido um dos principais doadores e articuladores de sua campanha em 2024 — “o decepcionou profundamente” ao criticar o projeto de lei orçamentária recém-aprovado no Congresso. O texto reduz benefícios fiscais para veículos elétricos, diretamente afetando os interesses da Tesla.

Musk não demorou a reagir. Pelo X, sua rede social, disparou: “Tanto faz.” Em seguida, negou ter sido informado sobre o projeto de antemão e acusou Trump de distorcer os fatos. “Sem mim, ele teria perdido a eleição.”

A troca de farpas rapidamente escalou. Trump respondeu no Truth Social com uma ameaça direta: cortar subsídios e contratos governamentais das empresas de Musk, como a SpaceX. “É a maneira mais rápida de economizar bilhões”, afirmou. Também declarou ter “mandado Musk embora” do governo por estar sendo “irritante”, e zombou da aparência do empresário, que apareceu com um olho roxo em sua despedida discreta do Salão Oval.

Musk, por sua vez, foi além: sugeriu que Trump teria ligações comprometedoras com o falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein e insinuou apoio a um eventual processo de impeachment. Ele também anunciou que a SpaceX deixará de fornecer a cápsula Dragon à NASA. A Tesla, atingida em cheio pela crise, viu suas ações despencarem quase 12% em poucas horas.

O rompimento é especialmente dramático considerando o passado recente dos dois. Musk não só declarou apoio incondicional a Trump após uma tentativa de atentado contra o então candidato, como também investiu pesado em estratégias digitais de campanha e frequentou a Casa Branca como um conselheiro informal, vestindo boné vermelho e tudo.

Trump agora minimiza a importância do apoio de Musk e acusa o ex-aliado de sofrer de “síndrome de abstinência de Trump”. Segundo ele, algumas figuras, ao deixarem seu governo, tornam-se hostis justamente por sentirem falta do poder e da proximidade com o centro das decisões.

A briga também evidencia divisões internas no Partido Republicano e levanta questões sobre o futuro do financiamento político vindo da elite tecnológica. O pacote orçamentário, apelidado por Trump de “Big Beautiful Bill”, foi apontado por Musk como um desastre fiscal, projetando um aumento de US$ 2,4 trilhões no déficit em dez anos e afetando milhões de americanos que perderiam acesso ao seguro de saúde.

O fim da parceria, para muitos analistas, era apenas questão de tempo. Dois egos gigantes, acostumados a liderar, agora duelam publicamente — e ninguém parece disposto a dar o braço a torcer. Se antes Musk e Trump pareciam caminhar lado a lado rumo à reeleição e ao domínio do setor público, agora se atacam como rivais em plena arena política e empresarial.

O que era um casamento de conveniência virou um divórcio turbulento — e extremamente barulhento.