SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Incêndio em um cortiço a cerca de 100 metros da rua dos Protestantes, na região central de São Paulo, foi o estopim para a saída dos usuários do local onde funcionava a cracolândia. Segundo o secretário municipal de Segurança Urbana, Orlando Morando, o endereço na rua dos Gusmões era um dos principais pontos de venda de drogas da região central.

O fogo atingiu os barracos de madeira no dia 9 de março, cerca de dois meses antes de os usuários sumirem do principal ponto de aglomeração de dependentes químicos. Na ocasião, de acordo com dados da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), eram contabilizados cerca de 300 usuários no período vespertino.

A quantidade de pessoas na rua dos Protestantes se manteve estável nos dez dias seguintes ao incêndio, e, a partir de 21 de março, começou a cair até chegar quase à metade um mês depois, em 21 de abril, quando havia 179 usuários na rua dos Protestantes, segundo a estimativa oficial. O local amanheceu vazio 20 dias depois, em 11 de maio, quando os usuários se espalharam pelas ruas do centro.

A movimentação também coincidiu com a operação policial que removeu os moradores da favela do Moinho, anunciada em 14 de abril, cerca de um mês antes do esvaziamento da cracolândia. A favela é apontada pelas gestões municipal e estadual como mais um ponto de armazenamento e distribuição de drogas no centro da capital. “Os traficantes tiveram que se afastar da rua dos Protestantes, o que dificultou a chegada da droga”, diz Morando.

O cortiço incendiado e desabitado por risco de desabamento foi alvo de uma série de operações policiais. O terreno foi desapropriado pela prefeitura em 2007 para a construção de moradia popular, mas foi invadido e ocupado por dezenas de barracos de madeira.

Trechos da rua dos Gusmões foram ocupados pela cracolândia ao longo dos últimos três anos, principalmente, próximo ao cruzamento com a avenida Rio Branco.

A relação entre aglomerações de usuários de drogas e pontos de tráfico também foi mapeada pela Polícia Civil após a cracolândia sumir da noite para o dia, em março de 2022, do entorno da praça Júlio Prestes, no centro, onde funcionou por mais de 40 anos.

Ao longo dos dois anos seguintes, ao menos oito vias da região foram tomadas, em momentos diferentes, por dependentes químicos e traficantes. Em comum, os locais escolhidos ficam próximos a hotéis clandestinos mantidos por pessoas ligadas à facção criminosa PCC, que comanda o tráfico de drogas no centro da capital, segundo investigação do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico da Polícia Civil, o Denarc.

Desde a dispersão, grupos de usuários passaram a se aglomerar de forma errática por ruas da região central. Diante disso, equipes de saúde da prefeitura e guardas municipais que monitoravam os usuários na rua dos Protestantes têm peregrinado pelo centro para dar continuidade aos atendimentos.

O monitoramento dos grupos é feito por meio das câmeras de segurança, drones da GCM e informações de moradores. Os alertas para as equipes são dados quando há identificação de formação de grupos.

Uma base da Polícia Militar foi instalada na praça Marechal Deodoro, um dos pontos de aglomeração de usuários após a dispersão da rua dos Protestantes. Em nota, a Secretaria da Segurança Pública da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que “a iniciativa tem como objetivo reforçar a presença policial na área para prevenir ações criminosas”.

A GCM e a Polícia Militar têm acionado sirenes para dispersar as aglomerações de usuários, o que tem gerado reclamações de moradores devido ao barulho, principalmente durante a madrugada.

Questionado, o prefeito Nunes não respondeu se há alguma ordem ação para a GCM dispersar os usuários e afirmou que “a determinação é a ordem da cidade”. “A população quer a ordem, a população deseja a ordem, a população quer ter paz, a população quer ter tranquilidade, quer ter o direito de ir e vir, quer ter o direito de vir e dormir”, disse. “Não quer dizer que eles possam usar a sirene numa abordagem sem necessidade. A sirene é só realmente para abordagem”, continuou.