SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Trump entra no modo valentão para encarar Xi Jinping e Elon Musk, encontro de Lula e Macron rende selfies e saias justas, Suzano quer conquistar o mundo, como falar de finanças sem papas na língua e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (6).
*TRUMP, O VALENTÃO*
Como você começa uma conversa quanto tem certeza de que está certo? Com os dois pés na porta, provavelmente. Imagine agora que as suas certezas podem mudar o curso da economia global. Ainda se sentiria 100% seguro?
Ontem, duas das únicas pessoas vivas com opiniões inabaláveis trocaram um telefonema muito importante. Durante uma hora e meia, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, discutiram o que é a pauta global há várias semanas.
O que foi dito. Não dá para saber com exatidão, então teremos de nos contentar com os relatos das partes. Segundo o americano, eles resolveram disputas envolvendo as exportações de terras raras e concordaram em retomar as negociações comerciais.
A questão das terras raras. Nunca ouvimos tanto falar nesses minerais quanto agora. É que antes não eram usados em tantas coisas. Os ímãs produzidos com eles são cruciais para a fabricação de veículos elétricos.
A China, que detém a maior parte da extração destes bens, colocou um torniquete na exportação deles para países da Europa e, claro, para os EUA o que estava tirando as noites de sono das montadoras.
Com as orelhas cansadas de ouvir reclamações do mundo corporativo, Trump, aparentemente, convenceu Xi a retomar o fluxo de envios ao Ocidente. Ele não explicou em que termos a situação foi resolvida.
Saiu um pouco fora dos trilhos…é como o líder americano descreveu a relação EUA-China. Jura?
Suspiro de alívio (de novo). Mais uma vez, o mundo dos negócios respirou tranquilamente depois de um momento atribulado. Como de costume, os principais índices das bolsas americanas reagiram bem. Ou não?
↳ Se você abrir o site do X, pode acompanhar a troca de farpas entre Trump e Elon Musk, ex-aliado do presidente que é crítico ferrenho da nova lei que o presidente quer emplacar.
A treta pressionou os índices americanos, que terminaram o dia assim:
Nasdaq Composite (-0,83%), S&P 500 (-0,53%) e Dow Jones (-0,25%) recuaram;
As ações da Tesla caíram 14,26%.
O recuo se deve, em partes, ao entendimento de que o líder republicano pode também, repentinamente, virar-se contra corporações, não somente nações. O de todo mundo está na reta.
→ O dólar cedeu com a trégua internacional. Atingiu R$ 5,58, menor valor desde outubro.
*ABRA SEU ❤️, MACRON*
Quando o presidente Lula vai a Paris, é garantia de fotos inusitadas e elogios rasgados. Ontem, ele encontrou seu colega chefe de estado francês Emmanuel Macron e, depois das boas-vindas amistosas, colocou-o em uma saia justa.
Em uma entrevista coletiva no Palácio do Eliseu, sede do governo, o líder brasileiro garantiu que o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul vai sair durante a presidência rotativa do Brasil do bloco sul-americano, que vai de julho a dezembro.
Meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul, disse Lula no começo da conversa.
O tempo não para. Foi desta forma enternecida que Lula tentou amolecer os franceses para alcançar o objetivo dentro do prazo prometido de seis meses.
O processo de convencimento, no entanto, não deve ser tão fácil assim. Macron elogiou o entusiasmo de Lula, mas reiterou que os franceses são contra o tratado. Eles alegam que os produtores do Mercosul não estão sujeitos às mesmas normas sanitárias que os da União Europeia.
Eu não saberia explicar aos agricultores como, no momento que eu lhes peço que respeitem mais normas, eu abro maciçamente o meu mercado a quem não respeita nada, afirmou o líder da França, acrescentando que precisam melhorar o acordo.
O que está em jogo? O tratado aumenta as cotas de importações sem tarifas de vários produtos dos dois blocos. Entre eles, produtos agrícolas. Vamos pensar, quem é mais famoso por ser uma potência do agronegócio, Brasil ou Europa?
Os líderes, sobretudo os franceses, temem que o campo do bloco seja engolido pelo agro sulamericano e com razão, porque é provável que os produtos daqui cheguem mais baratos e em maior quantidade lá.
O mercado de carne é um ponto sensível também, embora a cota prevista no acordo represente menos de 2% do consumo europeu.
Para debaixo do tapete. Lula disse que, se necessário, voltará à França para convencer os agricultores franceses da proposta. Portanto, o assunto continua sem resolução, mas Lula e Macron continuam amigos.
*HAJA EUCALIPTO*
O Brasil é o maior exportador de celulose do mundo, sabia desta? Os maiores produtores do mundo, no entanto, são os Estados Unidos.
Para vender tanta celulose, a gente deveria ter empresas fortes do setor por aqui, não? Bingo, temos mesmo. Hoje, vamos explorar uma indústria que não aparece tanto aqui na newsletter: a papeleira.
Dominando o mundo. A Suzano anunciou ontem um acordo para formar uma joint venture global com a Kimberly-Clark, que fabrica os lencinhos da Kleenex.
↳ Uma joint venture, ou empreendimento conjunto, é a união de duas outras para realizar um projeto específico. Aqui, as matronas são Suzano e Kimberly-Clark, que continuam a existir independentemente é diferente de uma fusão, por exemplo.
A companhia brasileira, que é a maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, já estava de olho há tempos em oportunidades de investir nos lenços de papel. Sim, tudo neste mundo é um mercado, até os lencinhos que você carrega na bolsa.
Os termos. US$ 1,7 bilhão (R$ 9,5 bilhões) serão investidos pela Suzano para ter 51% do projeto. Depois, ela terá a opção de comprar os 49% da parceira, se assim quiser.
Os ativos envolvidos na transação estão na América do Sul, América Central, Irlanda, Reino Unido, Europa, África, Oriente Médio, Ásia e Oceania. No bom português, vai ter Suzano no mundo todo.
Os resultados. 1 milhão de toneladas de lenços por ano distribuídos em 14 países e em duas linhas de negócios, com produtos para uso profissional e doméstico. Quantos eucaliptos para este tanto de celulose?
Raio-X. Aí vão as protagonistas do setor do papel no Brasil.
Suzano
Fundação: 1924
Funcionários: 56 mil
Receita líquida: R$ 11,5 bilhões
Produtos: celulose, papéis e embalagens
Marcas: Report, Couché Suzano, Pólen, Mimmo, Neve, Floral, Scott e KIeenex.
Klabin
Fundação: 1899
Funcionários: 18 mil
Receita líquida: R$ 4,86 bilhões
Produtos: madeira, celulose, papéis e embalagens
Eldorado Brasil
Fundação: 2010
Funcionários: 5 mil
Receita líquida: R$ 1,6 bilhões
Produtos: celulose
↳ A Eldorado esteve no centro de uma das maiores brigas corporativas no Brasil da última década. Ela chegou a uma resolução há poucas semanas.
*PARA OUVIR*
Unhedged
Podcast do Financial Times (em inglês). Disponível em Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Amazon Music e Youtube Music.
Você lembra do TACO Trade, que falamos na semana passada? Basicamente, é uma expressão para resumir o modo de negociar de Donald Trump: faz uma grande aposta e volta atrás. Quem cunhou o termo, que foi parar em todos os cantos, foi o apresentador deste podcast, o jornalista Robert Armstrong.
O programa tem dois episódios semanais, que saem às terças e às quintas, em que nerds do mercado financeiro (como nós e você) explicam temas em destaque no noticiário sem papas na língua.
*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*
⚠️ Atenção. A Renault está chamando os donos de Kwids e Dusters para um recall.
🚗 Falando em carros o primeiro veículo voador realizou o primeiro pouso no aeroporto JFK, em Nova York.
🎮 Demanda lá em cima. No primeiro dia de vendas no Brasil, o Nintendo Switch 2 já sumiu das prateleiras.
❌ Deu ruim. A Alaska Airlines, companhia aérea americana, suspendeu a entrega de jatos da Embraer depois do tarifaço de Trump.