SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em sua primeira novela na TV Globo, ´”Sétimo Guardião”, Nany People conheceu a famosa gentileza e também o bom humor de Tony Ramos, colega de elenco. “Seja muito bem-vinda, minha filha”, ele cumprimentou. Em seguida, aconselhou a atriz a sempre ter o texto decorado para facilitar a vida da equipe técnica. E arrematou: “Tudo vale a pena, pelo dia 30, minha filha”.

A história com o ator veterano é uma das contadas por Nany no livro autobiográfico “Ser mulher não é para qualquer uma – a saga continua”, que ela lançou às vésperas de completar 60 anos. O livro foi escrito em parceria com o jornalista Flavio Queiroz.

Antes da novela, a atriz já havia feito diversas participações em programas da TV, inclusive como repórter do da Hebe e participante de “A Fazenda”, o reality da Record. Porém, interpretar a transexual Marcos Paulo no horário nobre foi um passo importante na trajetória artística, e a recepção de Tony Ramos ajudou a diminuir o nervosismo.

“Apelei para o humor sempre que a vida me disse não”, ela diz no livro. Criada em Poços de Caldas (MG), Nany enfrentou bullying na escola, dificuldades para ser compreendida pelo pai, perdas de amigos e de quatro cachorros que criou como filhos.

Na autobiografia, lembra os anos de apresentações em boates de São Paulo e do país, a transição de drag queen para mulher trans e o direito de mudar o nome e o gênero na certidão de nascimento, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), em 2018.

“Antes, alguém descobrir o meu nome de batismo era uma pedrada na minha vidraça”, diz. “Agora, já não me diz mais respeito”.

Nany fala sobre sua paixão por São Paulo, cidade para onde veio para construir a carreira e onde recebeu o título de cidadã, por iniciativa da ex-vereadora Soninha Francine.

Na capital paulista, trabalhou durante quase 20 anos na boate Tunnel do Tempo e foi garçonete no lendário Café Piu Piu, no Bixiga, região central da cidade.

Moradora da Bela Vista, a atriz celebra, no livro, a possibilidade de ter comprado também um apartamento em Poços de Caldas e conta que ajudou muitos conhecidos na pandemia, período em que sobreviveu de empréstimos bancários e participações em lives.

Nessa época, Nany redescobriu o prazer de cuidar da própria casa e decidiu viver com mais leveza, sem acumular tantas roupas e objetos.

“Achei inclusive três gogo boys dos anos 1990 perdidos dentro do guarda-roupa. Fiz um bota-fora tão grande que um dia eu quase fui junto”, brinca. “Eu fiquei comigo mesma. Eu e meus três cachorros: a Graça, a Naomi e o Aquiles. Assisti todas as séries da Netflix. Li o livro da Rita Lee. Ouvi Fafá de Belém. Como eu ouvi Fafá!”

A cantora paraense é uma das grandes paixões de Nany People. Ela é, ao mesmo tempo, fã e amiga de Fafá.

“Essa paixão incontrolável surgiu depois de eu ouvir uma fala dela sobre liberdade. O discurso tinha uma força que me impactou demais”, recorda.

Depois, a admiração aumentou quando viu uma capa de revista em que a cantora apareceu com um arranjo feito de bolas de Natal na cabeça.

“Era como se eu ouvisse um chamado: vem por aqui. É possível ser feliz sendo quem você é”.

Nany canta o repertório da amiga no show “Sob Medida” e, vira e mexe, conta com a participação dela em entrevistas e homenagens.

“Ela é das artistas mais completas desse país”, disse Fafá, esta semana, em participação no “Encontro com Patrícia Poeta”

Outra inspiração é Lilia Cabral, que Nany viu no teatro em “Feliz Ano Velho” e nunca esqueceu. As duas contracenaram em “O Sétimo Guardião” e ficaram amigas.

“Lilia Cabral cuidou demais de mim”, revela.