PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta quinta-feira (5) que o Brasil tem uma papel importante a desempenhar para o fim da Guerra da Ucrânia. A declaração foi dada durante entrevista coletiva conjunta com o presidente Lula (PT), em visita de Estado do brasileiro a Paris.

“O Brasil tem um papel muito importante, a iniciativa [de paz] tomada com a China é muito importante. O presidente fez uma defesa do multilateralismo, e defender o multilateralismo é defender a Carta das Nações Unidas”, disse o francês.

Ele, no entanto, diferenciou-se do tom de Lula ao tratar das origens do conflito e dos motivos pelos quais a guerra ainda não teve uma resolução.

“O papel do Brasil e da China é defender a resolução desse conflito e a paz em pleno respeito à Carta da ONU. Essa carta prevê o respeito à integridade territorial dos Estados, e ela foi violada por só um país, a Rússia, não a Ucrânia. Então, busquemos a paz mas não nos enganemos: só há um país que violou o direito internacional e ele, infelizmente, é um integrante permanente do Conselho de Segurança. Há um só país que lançou essa guerra e há um só país que recusa a paz”, afirmou Macron.

Pouco antes, em sua resposta sobre o assunto, Lula disse que as duas partes do conflito teriam que decidir negociar a paz.

“Discuti muito com o Xi Jinping [líder chinês] e nos colocamos à disposição: quando os dois [Moscou e Kiev] quiserem negociar a paz, nós estaremos dispostos a dar nossa contribuição. Mas são os dois que têm que decidir”, afirmou o brasileiro.

A pergunta sobre Ucrânia foi feita pela Folha, após sorteios. O Palácio do Planalto pediu que os jornalistas não questionassem o presidente sobre política interna, “por respeito ao presidente Macron”, que estava a seu lado. Lula respondeu a uma pergunta da imprensa brasileira, e Macron respondeu a duas de jornalistas franceses. A assessoria do brasileiro disse que ele poderá responder sobre temas domésticos em entrevista coletiva no sábado (7).

Lula havia aproveitado também para levantar pleito tradicional da diplomacia brasileira de expansão do Conselho de Segurança da ONU, mas, diferentemente de Macron, sem citar o caráter da Rússia como membro permanente —e portanto com poder de veto.

“Lamentavelmente a ONU está enfraquecida politicamente e tem pouco poder de dar opinião sobre a guerra, não apenas essa, mas qualquer outra. É por isso que o Brasil tem brigado há muitos anos para o fortalecimento da representação do Conselho de Segurança”, disse o brasileiro.

A cerimônia oficial de chegada do presidente Lula à França começou às 10h (5h em Brasília) desta quinta-feira (5) nos Invalides, complexo militar histórico em Paris, seguindo o protocolo formal de visita de Estado, que inclui apresentação de tropas e execução dos hinos dos dois países.

O monumento, criado no século 17 para receber soldados mutilados, hoje abriga o túmulo de Napoleão Bonaparte e o Museu do Exército. É tradicionalmente usado para recepções oficiais de chefes de Estado estrangeiros em visita à França.

Na chegada, Lula recebeu de Macron uma camiseta do Paris Saint-Germain, que conquistou pela primeira vez o título da Liga dos Campeões da Europa, com o nome do presidente brasileiro e o número 10 —a entrega foi registrada no perfil de Macron no Instagram.