SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar teve forte queda de 1,03% nesta quinta-feira (6) e encerrou o dia cotado a R$ 5,585, a menor cotação desde outubro do ano passado. Na mínima da sessão, chegou a R$ 5,577.

O movimento teve como catalisador a ligação entre o presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping, no que foi o primeiro contato formal entre os dois desde que o republicano assumiu a Casa Branca. Até então, a última conversa havia ocorrido em janeiro, antes da posse.

O telefonema partiu de Trump, segundo a agência estatal chinesa Xinhua. A repórteres no Salão Oval, o presidente afirmou que as discussões comerciais continuam em andamento e estão em boa forma, acrescentando que espera ir à China em algum momento em que Xi Jinping também visite os EUA.

Além disso, disse que os representantes norte-americanos se reunirão com as principais autoridades chinesas para dar continuidade às tratativas.

Foco de pressão nos mercados desde o início do mandato de Trump, a relação entre as duas maiores economias do mundo tem se deteriorado nas últimas semanas. Os dois lados se acusam de violar o acordo comercial estabelecido em maio, quando a guerra de tarifas teve uma pausa. O entendimento, firmado em Genebra com duração de 90 dias, reduziu as taxas aplicadas pelos EUA sobre produtos chineses de 145% para 30%, e a China concordou em diminuir os encargos para 10%, ante 125%.

Um ponto crítico da discussão emergiu nos últimos dias: exportações de terras raras. Os EUA acusaram a China de voltar atrás na promessa de relaxar os controles de exportação sobre metais necessários para a eletrônica de ponta. Além disso, Pequim tem se frustrado com as novas restrições americanas sobre a venda de software de design de chips e planos para começar a revogar vistos para estudantes chineses.

“Não deve mais haver dúvidas sobre a complexidade dos produtos de terras raras”, escreveu Trump na rede social Truth Social. “Nossas respectivas equipes se reunirão em breve em um local a ser determinado.”

Com a troca de acusações ameaçando o entendimento, a esperança é de que, com a ligação, uma nova trégua esteja no horizonte.

A notícia sobre a conversa veio a público às 10h (horário de Brasília), e a repercussão foi imediata nos mercados. O dólar aprofundou a queda no Brasil e em outros mercados emergentes, como África do Sul e Chile, e o índice DXY, que o compara a uma cesta de seis moedas fortes, foi às mínimas do dia.

O recuo contra as divisas fortes também foi embalado pela decisão de juros do BCE (Banco Central Europeu) nesta quinta. A autoridade europeia optou por um novo corte de 0,25 ponto percentual na taxa, agora em 2% ao ano, e sugeriu uma pausa no ciclo de afrouxamento.

“Com o corte de hoje e o nível atual das taxas de juros, acho que estamos chegando ao fim de um ciclo de política monetária que estava respondendo a choques compostos, incluindo a Covid-19, a guerra ilegítima na Ucrânia e a crise energética”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde.

Essa sinalização favoreceu o desempenho do euro globalmente, pontua Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, o que ajudou a enfraquecer a divisa americana.

Nos mercados acionários, o Ibovespa fechou em queda de 0,55%, a 136.236 pontos, seguindo o mau humor de Wall Street. Por lá, pesou a rusga entre Trump e Elon Musk, CEO da Tesla, que pressionou as ações da montadora de carros elétricos a um tombo de mais de 9%.

Os operadores também refletiram a percepção de que a economia norte-americana já está sendo baqueada pela política comercial errática de Trump.

Dados econômicos de maio estão apresentando resultados mais baixos do que o esperado: o relatório ADP, por exemplo, que mede a criação de vagas no setor privado, indicou que 37 mil postos de trabalho foram abertos no mês passado, bem abaixo da projeção de 110 mil de pesquisa da Reuters. Nesta quinta, o governo norte-americano informou que os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram para 247 mil na última semana, acima dos 235 mil projetados.

O foco está voltado para a divulgação do “payroll” (folha de pagamento, em inglês) nesta sexta-feira. O relatório traz uma leitura mais abrangente do estado do mercado de trabalho do país e baliza as decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

“Os dados estão fortalecendo a tese de que a economia dos EUA está desacelerando mais rapidamente por conta dos impactos negativos do choque tarifário e das idas e vindas do presidente. As incertezas elevadas e a imprevisibilidade das políticas econômicas também estão prejudicando a economia do país, fazendo com que investidores diminuam a exposição a ativos norte-americanos e diversifiquem suas carteiras”, diz Mattos.

Já no ambiente doméstico, o foco segue voltado ao fiscal. A equipe econômica do governo busca soluções para o impasse do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou, na véspera, que medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional, prevista para domingo.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, a sinalização foi importante para os investidores locais.

“O governo parece bastante determinado a buscar uma alternativa para o IOF como solução para a crise atual. Mesmo quando questionado sobre medidas mais duras, o presidente Lula não negou a possibilidade de negociar com as lideranças”.

Por outro lado, pesquisas recentes têm indicado queda na popularidade do presidente. De acordo com o levantamento Genial/Quaest, a avaliação negativa do governo é de 43%, e a positiva, de 26%. Consideram a gestão regular 28%, e 3% não sabem ou não responderam.

Com o novo ciclo eleitoral em vista, o mercado teme que o governo possa apostar em medidas de impulso fiscal para melhorar a imagem do presidente.