BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Durante encontro com Friedrich Merz no Salão Oval, da Casa Branca, nesta quinta-feira (5), Donald Trump não escondeu o rancor em relação a Elon Musk. “Estou muito decepcionado.” Desde que deixou o governo para se dedicar a seus negócios, o bilionário empreende uma campanha contra o projeto de lei tributário patrocinado por Trump que pode elevar a dívida dos EUA em US$ 2,4 trilhões (R$ 13,5 trilhões).

“Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se ainda temos”, disse Trump no Salão Oval. “Ele disse coisas maravilhosas sobre mim e nunca falou mal de mim pessoalmente, mas tenho certeza de que isso virá a seguir. Mas estou muito decepcionado com Elon. Eu o ajudei muito.”

Enquanto Trump falava, Musk disparava postagens no X, contestando afirmações, como a de que teve acesso antecipado ao projeto. “Sem mim, Trump perderia a eleição”, chegou a publicar. “Ele não é o primeiro”, disse o presidente, sobre a defecção do ex-aliado. “As pessoas deixam o meu governo. Depois, em algum momento, sentem tanta falta que algumas delas passam a abraçá-lo e outras até se tornam hostis.”

Musk foi um dos alvos preferidos de Trump durante os mais de 40 minutos da reunião que foram acompanhados pela imprensa. Também não economizou críticas a Joe Biden, sobre o qual determinou investigação a partir de boatos que dizem que o ex-presidente assinou documentos sem ter ciência de seu teor.

Havia enorme expectativa de como Merz se sairá no encontro depois que diversos líderes foram submetidos a constrangimentos no Salão Oval nos últimos meses. Não só passou ileso, como ainda ouviu de Trump que os EUA iriam “acabar logo com a guerra na Ucrânia”.

Horas antes do encontro, a imprensa alemã projetava certa tensão com a informação publicada pelo jornal The New York Times de que a Casa Branca havia alterado a programação do dia. O encontro no Salão Oval, antes previsto para depois de reuniões e almoço, foi antecipado.

A equipe do primeiro-ministro também transpirou aos repórteres alemães que o acompanham na viagem que havia informação passada pelo estafe de Trump de que perguntas sobre liberdade de expressão e a AfD estavam no cardápio. A preparação de Merz para o encontro já imaginava que o assunto emergiria.

J.D. Vance e Elon Musk, à época das eleições parlamentares alemãs, declararam apoio à extremista AfD, e o vice-presidente, na Conferência de Segurança de Munique, afirmou que Europa e Alemanha cerceavam a liberdade de expressão. O ministro da Defesa, Boris Pistorius, que estava na plateia e discursaria em seguida, correu com um assessor para uma sala para alterar seu texto. Pesada, sua resposta pública condenando a interferência dos EUA no pleito causou comoção entre alemães e líderes europeus.

Mais recentemente, quando o serviço de inteligência do país classificou a AfD definitivamente como um partido de extrema direita, Marco Rubio, secretário de Estado americano, classificou o ato como “tirania disfarçada”.

Desde que o presidente americano e Vance constrangeram Volodimir Zelenski em audiência transmitida ao vivo, no fim de fevereiro, acompanhar líderes mundiais no alçapão de Trump se tornou um esporte mundial. A última vítima foi o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em maio, quando foi grosseiramente inquirido sobre um fantasioso genocídio branco em seu país. A argumentação de Trump, com filmes e documentos, era baseada em fake news, mostrou-se depois.

Ramaphosa lamentou não ter recursos para um presente, como o Qatar, que deu ao presidente um Boeing 747-8I de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões). Acabou elogiado na África do Sul por não responder às provocações do americano.

Merz não foi tão longe, mas apelou para o passado europeu, que Trump tanto valoriza. Entregou ao presidente uma certidão de nascimento folheada a ouro de seu avô, que deixou a Alemanha aos 16 anos em 1896 e emigrou para os EUA.