SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda firme nesta quinta-feira (5), com os investidores atentos às negociações comerciais entre Estados Unidos e China, além de dados sobre a maior economia do mundo.

Às 13h04, a moeda norte-americana tinha perdas de 0,92%, cotada a R$ 5,591. Já a Bolsa, que tem oscilado entre os sinais ao longo do dia, marcava alta de 0,15%, a 137.216 pontos.

Os presidentes Donald Trump e Xi Jinping tiveram uma conversa por ligação nesta quinta-feira, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da China.

O telefonema é o primeiro contato formal conhecido entre os líderes desde que Trump assumiu o cargo. Até então, a última conversa entre os dois havia ocorrido em janeiro, antes do retorno do republicano à Casa Branca.

A ligação partiu de Trump, segundo a agência estatal chinesa Xinhua. O presidente afirmou a repórteres que as discussões comerciais continuam em andamento e estão em boa forma, acrescentando que espera ir à China em algum momento e que Xi Jinping também visite os EUA.

Além disso, disse que o representante comercial norte-americano, Jamieson Greer, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, se reunirão com as principais autoridades chinesas.

A relação entre as duas maiores economias do mundo tem se deteriorado nas últimas semanas, com ambos os lados se acusando de violar o acordo comercial estabelecido em maio. Com o novo conflito ameaçando o entendimento, a esperança é de que uma nova trégua esteja no horizonte.

Um ponto crítico da discussão emergiu nos últimos dias: terras raras. Os EUA acusaram a China de voltar atrás na promessa de relaxar os controles de exportação sobre metais necessários para a eletrônica de ponta. Além disso, Pequim tem se frustrado com as novas restrições americanas sobre a venda de software de design de chips e planos para começar a revogar vistos para estudantes chineses.

“Não deve mais haver dúvidas sobre a complexidade dos produtos de terras raras”, escreveu Trump no Truth Social. “Nossas respectivas equipes se reunirão em breve em um local a ser determinado.”

Trump há muito tempo afirma que conversas diretas com Xi eram a única maneira de resolver as diferenças entre as nações, mas o líder chinês estava relutante em aceitar o contato, preferindo que assessores negociassem questões-chave.

A notícia trouxe alívio e apetite por risco nos mercados emergentes, que têm relações comerciais profundas com a China e são sensíveis ao desempenho da economia chinesa, impulsionando divisas como o real, o rand sul-africano e o peso chileno.

A queda do dólar também tem como pano de fundo a percepção de que a economia norte-americana já está sendo baqueada pela política comercial errática de Trump.

Dados econômicos de maio estão apresentando resultados mais baixos do que o esperado: o relatório ADP, por exemplo, que mede a criação de vagas no setor privado, indiciou que 37 mil postos de trabalho foram abertos no mês passado, bem abaixo da projeção de 110 mil de pesquisa da Reuters. Nesta quinta, o governo norte-americano informou que os pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram para 247 mil na última semana, acima dos 235 mil projetados.

Ainda, o déficit comercial dos EUA ficou em US$ 61,6 bilhões em abril —melhor do que o esperado—, quando Trump anunciou as tarifas do “dia da libertação” e pausou a aplicação delas em 90 dias para negociações, mantendo uma taxa mínima de 10% sobre todas as importações para os EUA.

O foco está voltado para a divulgação do “payroll” (folha de pagamento, em inglês) na sexta-feira. O relatório traz uma leitura mais abrangente do estado do mercado de trabalho do país e baliza as decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

“Os dados estão fortalecendo a tese de que a economia dos EUA está desacelerando mais rapidamente por conta dos impactos negativos do choque tarifário e das idas e vindas do presidente. As incertezas elevadas e a imprevisibilidade das políticas econômicas também estão prejudicando a economia do país, fazendo com que investidores diminuam a exposição a ativos norte-americanos e diversifiquem suas carteiras”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

Também na cena internacional, investidores repercutem a decisão de juros do BCE (Banco Central Europeu), que cortou a taxa básica mais uma vez, agora a 2% ao ano.

A autoridade europeia “sinalizou que está bem posicionada para navegar o período de incerteza econômica, dando a entender que não vai fazer novos cortes de juros tão cedo”, diz Mattos, “o que está ajudando o euro”.

Já no ambiente doméstico, o foco segue voltado ao fiscal. A equipe econômica do governo busca soluções para o impasse do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou, na véspera, que medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional, prevista para domingo.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, a sinalização foi importante para os investidores locais.

“O governo parece bastante determinado a buscar uma alternativa para o IOF como solução para a crise atual. Mesmo quando questionado sobre medidas mais duras, o presidente Lula não negou a possibilidade de negociar com as lideranças”.

Por outro lado, pesquisas recentes têm indicado queda na popularidade do presidente. De acordo com o levantamento Genial/Quaest, a avaliação negativa do governo é de 43%, e a positiva, de 26%. Consideram a gestão regular 28%, e 3% não sabem ou não responderam.

Com o novo ciclo eleitoral em vista, o mercado teme que o governo possa apostar em medidas de impulso fiscal para melhorar a imagem do presidente.

Já na cena corporativa, destaque para as ações da Suzano, que avançavam 5,86%. A companhia anunciou um acordo para formar uma joint-venture global com a Kimberly-Clark, em que serão investidos US$ 1,7 bilhão para ter 51% de participação em uma operação que envolve 22 fábricas de papéis sanitários, conhecidos como “tissue”, no mundo.

Vale subia 1,51%, mesmo com a queda do minério de ferro na China, e as ações preferenciais da Petrobras marcavam leve alta, a 0,27%.