SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um relatório elaborado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo, a pedido da secretaria estadual de Habitação do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), aponta a situação de ruína do silo localizado dentro da favela do Moinho, considerada a última grande comunidade da região central da cidade.
O documento, feito com base em informações da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), sugere a “demolição responsável” da edificação. A informação precisa ser confirmada por um laudo técnico, que pode indicar um risco de queda e a possibilidade ou não de recuperação da estrutura.
A situação do silo é um dos pontos de discussão no processo de desocupação da favela que está em curso e que causou uma série de conflitos entre o poder público estadual e os moradores.
Proprietária do terreno, a União fechou um acordo com o estado para garantir financiamento 100% subsidiado para que os moradores consigam novas moradias em outros locais.
O plano da gestão Tarcísio é transformar a área, que fica entre duas linhas férreas, em um parque. A retirada da favela faz parte de uma série de ações do governo estadual no centro da cidade, e que inclui também o projeto de transferência da sede administrativa para a região.
Moradores consultados pela reportagem defendem que o silo seja mantido, mesmo depois de saírem do local. Consideram que a edificação marca a memória do espaço a favela chama Moinho exatamente devido ao silo.
Os arquitetos que cuidam do projeto de construção do parque no local também mostram simpatia pela ideia de preservação da construção.
A edificação era gerida desde 1949 pelo Moinho Fluminense da Santista Alimentos S.A. Não há informação exata da data de sua construção. Em seguida, foi repassado para a Bunge Alimentos, que o utilizou até 1980, quando o moinho foi desativado. É no fim desta década que a favela teria começado a se formar, com o abandono do espaço.
O imóvel chegou a ser repassado para a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), que o vendeu, em leilão. Como o registro da compra não foi concluído, o terreno permaneceu sob a propriedade da RFFSA até 2007, quando a empresa foi extinta e seus bens repassados para a União.
Coordenador do comitê formado pelo CREA, o engenheiro Roberto Racanicchi afirma que a conclusão se baseia na falta de informações sobre possíveis manutenções da edificação. Segundo ele, as normas criadas nos anos 1940 para manutenção de edificações desse tipo indicam a necessidade de manutenção nos 50 anos seguintes.
“Como a construção passou esse tempo todo sem informações de manutenção, seu estado é considerado de ruína”, explica. Segundo ele, construções como silos e moinhos daquela época são construídos apenas em alvenaria, sem reforços de ferro ou aço.
Para ele, cabe ao poder público analisar se é o caso de fazer o esforço de restauração do prédio ou se é o caso de fazer a demolição. Além das questões técnicas, uma decisão deve levar em conta o custo e o benefício da obra, que não é tombada pelos órgãos de proteção ao patrimônio histórico.
Integrante do escritório modelo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que representa os moradores, o advogado Vitor Nery afirma que a situação do silo nunca foi discutida com os moradores.
O advogado afirma também que os próprios moradores demoliram os primeiros andares de escada do moinho. “Eles fizeram isso para evitar que usuários de drogas se instalassem lá dentro e para evitar situações de risco para as crianças que moram lá”, diz.
O relatório leva em conta também uma análise feita pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) que indica que o local tem alta concentração de substâncias nocivas à saúde.
O documento também aponta que a maioria das casas tem “características precárias e sem qualquer amparo técnico em questões associadas às boas práticas de engenharia, tendo sido construídas de forma empírica e com conceitos culturais, não técnicos.” Cita ainda problemas nas instalações hidráulicas e elétricas e risco à população pelo fato de a favela estar localizada entre as linhas férreas.