BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A sustentabilidade guia os barcos do projeto Kara Solar pelos rios da amazônia. Isso porque as embarcações são movidas por meio de energia solar, e deixou de lado o uso de diesel -combustível extraído do petróleo, que colabora com o aquecimento do planeta.

Nantu Canelos, diretor executivo do projeto, relata que a iniciativa surgiu em 2012 durante uma cerimônia sagrada do povo indígena Achuar, do Equador. Segundo ele, os anciões sugeriram a ideia após consumo do chá tradicional de wayusa (Ilex guayusa), uma planta amazônica.

A comunidade, então, começou a trabalhar na substituição do uso de combustíveis fósseis por energia renovável. Para isso, eles tiveram que desenvolver as próprias baterias e motores de barcos, capazes de se movimentar por meio do novo recurso energético.

Em 2018, o grupo fundou o Kara Solar, que colocou o primeiro barco elétrico nas águas da amazônia equatoriana naquele ano. Agora, o projeto conta com dez embarcações espalhadas também em outros países: Suriname, Peru e Brasil.

“Proteger os nossos territórios e conservar nossos recursos naturais contra a mineração e exploração não são problemas apenas dos achuar, são também dos irmãos da amazônia. Por isso expandimos o projeto”, disse Canelos.

Conforme dados do projeto, os barcos solares percorreram, em 2024, o total de 9.660 km, em 847 viagens e transportaram 6.428 passageiros no território Achuar. As viagens eram, prioritariamente, atendimento médico e serviços comunitários essenciais.

Ainda de acordo com o levantamento, no ano passado, 404 pessoas em comunidades remotas receberam capacitação prática em energia solar, do básico a engenharia elétrica avançada.

Ao todo, o projeto teria evitado emitir 210 toneladas de emissões de CO? ao substituir motores e geradores a gasolina por infraestrutura solar, deixando de consumir 26 mil galões de combustível.

O diretor executivo indígena apresentou os resultados do projeto du rante um encontro em abril, em Brasília, com cerca de 200 ativistas climáticos de 70 países. A programação teve como foco a transição energética justa, principalmente para populações mais vulneráveis.

Além disso, esse encontro, intitulado “Renovando Nossa Energia”, buscou pressionar a comissão da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas, por transição energética justa e mais espaço para as populações vulneráveis nas decisões globais. O evento será em novembro, no Pará.

“O meu sonho de futuro sustentável é que as energias solares sejam aproveitadas”, destacou Canelos. “É preciso apoiar e ajudar os temas de produção de energia renovável nas áreas de educação, saúde e conservação da natureza.”

Nantu Canelos, diretor executivo e um dos fundadores do projeto Kara Solar Mariana Abdalla Divulgação/350.org Um indígena usa uma tira de penas e uma pinta no rosto. Ele também carrega diversos colares indígenas e usa uma camisa social azul. **** Nantu Canelos afirma que o projeto foi fundamental para colaborar, também, na autonomia de locomoção das comunidades, principalmente as mais isoladas. Outro ponto positivo, em sua visão, seria a economia financeira da população, pois o consumo de diesel é caro.

“Há dificuldade de conseguir combustível na cidade para seus territórios por causa do custo e da distância”, explicou. “Alguns financiadores querem indicadores que realmente tenham impacto.”

No Brasil, a embarcação do projeto percorre os rios que banham o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, localizado entre o Amapá e o norte do Pará, uma das áreas mais isoladas e de difícil acesso da região, onde habitam diversos povos indígenas.

A proposta chegou à amazônia brasileira durante a pandemia de Covid-19, em 2020, com apresentações online para as comunidades sobre a iniciativa e, em seguida, levou oficinas e treinamento até o barco elétrico navegar pela primeira vez, no ano seguinte.