BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Uma obra na margem do rio Reno encontrou três bombas da Segunda Guerra Mundial adormecidas em Colônia, quarta maior cidade da Alemanha. Nesta quarta (4), uma grande operação evacuou um perímetro de um quilômetro de raio em torno dos artefatos, localizados em uma região central, obrigando a remoção de mais de 20 mil moradores.
Após mais de 11 horas, já começo da noite na Europa, as bombas foram enfim desarmadas, depois que as autoridades asseguraram que o isolamento da região tinha sido alcançado. Uma senhora acamada, que não tinha ouvido os alertas, foi resgatada na terceira e última rodada de verificação, mas o que atrasou mesmo o processo foi um homem que montou uma barricada em uma praça e desafiou agentes de segurança. Ações coercitivas e multa de até 1.000 (R$ 6.377) estavam previstas no plano de emergência.
Voluntários, bombeiros e policiais passaram o dia batendo de porta em porta para garantir que ninguém permanecesse na área, que inclui um hospital, dois asilos, nove escolas, 58 hotéis e museus no movimentado bairro de Deutz. A famosa catedral gótica da cidade escapou por metros, mas o centro histórico em grande parte acabou bloqueado. Muitos idosos, sem ter para onde ir, família ou amigos, foram alojados em um pavilhão de exposições.
A navegação no Reno, o maior rio da Alemanha e uma das vias fluviais mais importantes da Europa, também foi interditada no trecho. Imagens publicadas pela imprensa alemã lembravam as do período da pandemia, com ruas vazias e comércio fechado.
Um estúdio da RTL, maior TV privada do país, também teve que ser esvaziado. Um dos apresentadores da emissora, afirmando que tinha que sair, pegou uma mochila e deixou a bancada de apresentação enquanto as luzes eram apagadas em plena transmissão. O humor também foi usado pela Gaffel am Dom, uma das cervejarias mais famosas da cidade, localizada na praça da catedral, que abriu as portas logo pela manhã para servir de “abrigo aos deslocados”, segundo o diretor da casa.
“Venham, vocês têm um lugar seguro aqui. Sintam-se à vontade para ficar por seis ou sete horas”, declarou Dennis Lieske à imprensa alemã, sublinhando que seu estabelecimento era um dos dois únicos da cidade que não ficariam fechados pelas medidas de restrição.
Sites e jornais acompanharam a operação de isolamento, colecionando curiosidades. Casamentos tiveram que ser transferidos para outros distritos, dois foram adiados e a festa de aniversário de Lukas Podolski, ex-atacante da seleção alemã e morador de Colônia, teve que ser confirmada por um assessor, após ter sido cancelada nas redes sociais. Aos 40 anos, completados nesta quarta (4), Podolski ainda atua, no futebol polonês.
Sobraram também explicações para o fato de Colônia com frequência encontrar bombas não detonadas da Segunda Guerra, mesmo oito décadas mais tarde. Apenas no ano passado, 31 artefatos foram descobertos na cidade. Porém os desta semana, de origem americana, eram de alto potencial explosivo, o que explica o esforço e a dimensão da evacuação na cidade de 1 milhão de habitantes.
Colônia era considerada um alvo estratégico pelos aliados devido à quantidade de indústrias e linhas de trem, vitais para distribuição de bens e mercadorias. Em 1942, a Força Aérea britânica adotou uma nova diretriz, trocando os ataques de precisão por bombardeios maciços que afetassem “o moral da população inimiga”, na descrição de historiadores.
Um marco dessa estratégia ocorreu em 31 de maio de 1942, quando 1.330 aviões despejaram mais de 1.500 toneladas de explosivos e bombas incendiárias sobre a cidade. O saldo foi de 1.700 incêndios, 480 mortos e 5.000 feridos. Um ano mais tarde, a Alemanha nazista de Adolf Hitler já perdia a soberania aérea do conflito.
No total da guerra, Colônia sofreu mais de 260 ataques aéreos, que mataram cerca de 20 mil pessoas.
Outro fator para a quantidade de bombas encontradas na área da cidade foi o rio Reno, percebido pelos pilotos como uma faixa escura com margens iluminadas que facilitava a navegação noturna. Colônia ficava no caminho dos bombardeiros ingleses, que em voos de regresso frequentemente despejavam a munição excedente sobre a cidade, segundo estudiosos alemães.