BERLIM, FOLHAPRESS (FOLHAPRESS) – Não falta assunto para uma conversa entre Friedrich Merz e Donald Trump. Guerra da Ucrânia, guerra em Gaza, guerra comercial, tarifas sobre aço e alumínio e até o lugar mais adequado para se fabricar uma Mercedes. O que a Alemanha quer saber, no entanto, é como o primeiro-ministro se sairá no Salão Oval da Casa Branca, nesta quinta-feira (4).
Desde que o presidente americano e seu vice, J.D. Vance, constrangeram Volodimir Zelenski em audiência transmitida ao vivo, no fim de fevereiro, acompanhar líderes mundiais no alçapão de Trump se tornou um esporte mundial. A última vítima foi o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, em maio, quando foi grosseiramente inquirido sobre um fantasioso genocídio branco em seu país. A argumentação de Trump, com filmes e documentos, era baseada em fake news, mostrou-se depois.
Ramaphosa lamentou não ter recursos para um presente, como o Qatar, que deu ao presidente um Boeing 747-8I de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões). Acabou elogiado na África do Sul por não responder às provocações do americano.
Não se sabe se Merz levará algum mimo para Trump. Os dois já se falaram por telefone mais de uma vez, trocam mensagens por SMS e se tratam pelo primeiro nome. Em um evento em Berlim, nesta semana, quando perguntado como é conversar com Donald, Friedrich foi espirituoso. “A cada duas ou três palavras, ele usa um great.”
E o imitou para dar um exemplo: “This is a great city, Chicago is a great city”. Chicago entrou na conversa, a primeira que tiveram, contou Merz, porque o assunto era o papa Leão 14, nascido na cidade.
Antes do Salão Oval, a comitiva do primeiro-ministro deve participar de uma série de reuniões e de um almoço. Os assuntos em pauta são complexos, e o imaginário alemão, além do histórico recente, lembra também do primeiro mandato de Trump, quando a então premiê, Angela Merkel, foi emparedada pelo presidente por sua política de acolhimento de refugiados da Síria.
Nesse item, Merz tem o que mostrar. Prestes a completar um mês no cargo, o primeiro-ministro vem se esforçando para cumprir a promessa de campanha de fronteiras fechadas, a despeito das críticas da oposição e de grupos de direitos humanos. Nesta semana, soou como Trump ao afirmar que uma decisão judicial em favor de três refugiados somalis não o impediria de barrar a entrada de solicitantes de asilo.
A lista de assuntos complicados, porém, é bem mais extensa. Vance e Elon Musk declaram apoio à extremista AfD antes das eleições parlamentares, e o vice-presidente declarou em plena Munique, durante a Conferência de Segurança, que a Alemanha cerceava a liberdade de expressão, provocando reação imediata do governo, então capitaneado por Olaf Scholz.
Há também um lobby da indústria alemã para que Merz consiga um acordo bilateral na área siderúrgica. Nesta semana, Trump dobrou as tarifas de aço e alumínio para 50%. O presidente americano também mira a indústria automotiva, citada mais de uma vez em seus discursos na campanha eleitoral. Empresas como Mercedes e Volkswagen, inclusive, já negociam abertamente acordos em separado com o governo dos EUA.
A Alemanha é o maior exportador de carros para o mercado americano, um dos fatores que mais pesam na balança comercial entre União Europeia e EUA _não à toa, um item frequente na argumentação tarifária de Trump.
Merz também procurará apoio para mais sanções contra a Rússia. Após seu chanceler, Johann Wadephul, acenar com o aumento de gastos militares para 5%, como Trump exigiu dos países da Otan, o premiê alemão quer assegurar que os EUA não se afastem do esforço transatlântico de pressionar Vladimir Putin a uma negociação de paz.
O objetivo é garantir uma posição coesa na reunião do G7, marcada para este mês no Canadá. UE e congressistas americanos negociam um conjunto de sanções contra a economia russa. Entre elas, a iniciativa do senador Lindsey Graham, que diz ter apoio para aprovar sanções secundárias de 500% para compradores de óleo russo, caso de China, Índia e também do Brasil. O andamento do projeto depende do sinal verde de Trump.