RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O cantor MC Poze do Rodo afirmou nesta terça-feira (3) que seus filhos pequenos têm trauma da polícia e que sua família sofre perseguição por parte das forças de segurança. A declaração foi feita ao chegar em casa, na zona oeste do Rio, após ser solto por decisão da Justiça.

“Meus filhos pequenos têm trauma de polícia. Se meus filhos veem a polícia, eles choram. Vocês [polícia] não param de vir aqui em casa. Me deixa em paz”, disse.

A chegada do funkeiro ocorreu horas depois de uma confusão entre fãs e a polícia na porta do presídio.

Centenas de pessoas aguardavam a libertação do cantor quando houve confronto com agentes. A Polícia Militar lançou bombas de efeito moral e spray de pimenta, e os fãs responderam com protestos. Segundo Poze, seus admiradores foram tratados como criminosos.

“Eu sou trabalhador, artista. (…) A polícia do Rio de Janeiro não gosta de mim, e faz isso aí que vocês estão vendo: jogando spray de pimenta nos meus fãs, tiro de borracha, bomba nos meus fãs. Pra quê? O que eles estavam fazendo de crime? Quem era criminoso ali? Não tem traficante aqui não”, afirmou o cantor.

A decisão de soltura impôs algumas medidas cautelares, como a proibição de manter contato com outros investigados, a restrição de frequentar determinados locais e a obrigação de comparecer periodicamente à Justiça.

Em trecho da decisão, o desembargador Peterson Barroso Simão fez críticas à forma da prisão do artista. “Há indícios que comprometem o procedimento regular da polícia. Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente”, escreveu.

Segundo a Polícia Civil, as investigações apontam que o artista se apresentava em comunidades dominadas pelo Comando Vermelho, com a presença ostensiva de traficantes armados que fariam a segurança dos eventos.

A influenciadora Vivi Noronha, mulher do cantor e mãe de três dos cinco filhos dele, também é investigada em outro inquérito. Segundo a Polícia Civil, ela é suspeita de atuar numa engrenagem financeira do Comando Vermelho, usando uma empresa de produção de eventos para movimentar recursos ilícitos.

“A gente não pode deixar tranquilo aqueles que movimentam quantias milionárias de uma facção criminosa, muito menos do CV, que é a maior facção criminosa do estado e uma das maiores do país”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi. “A Viviane foi identificada no meio dessa engrenagem, que envolve tráfico de armas, tráfico de drogas, empresas de fachada e outras que fazem mescla com atividades lícitas e ilícitas.”

Ela nega qualquer ligação com o tráfico e acusou os policiais de terem furtado joias da casa onde vive com Poze durante a operação. A Polícia Civil diz que ela acompanhou as buscas e que um inquérito foi aberto para apurar a acusação.

“A Viviane estava presente no momento da realização das buscas. Foi chamada por mim para acompanhar a apreensão. Isso é uma mentira. Inclusive, foi instaurado um inquérito policial para apurar as falas dela. Então, ela vai ser intimada para explicar e provar quais joias teriam sumido”, disse o delegado Moyses Santana, da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).

A investigação da Polícia Civil também levou à prisão outros suspeitos e tem como foco a lavagem de dinheiro e a associação para o tráfico.

Segundo informações da polícia, a operação tem o objetivo de desarticular o núcleo financeiro do CV que seria responsável pela lavagem de mais de R$ 250 milhões. Os valores teriam origem no tráfico de drogas e na compra de armas de uso restrito.

Na entrevista coletiva realizada após a operação, o subsecretário da Polícia Civil, Carlos Oliveira, rejeitou as acusações de racismo na abordagem policial, levantada por aliados do artista e por sua defesa.

“O que importa para a polícia se o criminoso é preto ou branco? Não importa, não tem a menor importância. (…) A polícia age quando todo o resto falhou”, afirmou o delegado.

Já o diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada, delegado André Neves, classificou as críticas como tentativa de enfraquecer a ação policial. “Não vi nenhuma crítica deles com relação a integrantes do Comando Vermelho, a narcoterroristas, a assaltantes de banco. Essa é mais uma narrativa para deslegitimar a ação policial.”

A defesa de Poze e de Viviane contesta as acusações e diz que a investigação é baseada em estereótipos e preconceito.