BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (3), em entrevista coletiva em Brasília, que há um genocídio na Faixa de Gaza e que os defensores de Israel precisam parar de vitimismo.
“Você não pode, a pretexto de encontrar alguém, matar mulheres e crianças, deixar crianças com fome”, disse o presidente brasileiro. O governo israelense mantém ações militares em Gaza sob o argumento de buscar integrantes e lideranças do Hamas e destruir o grupo terrorista.
“O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra. É um Exército matando mulheres e crianças”, afirmou Lula. “Exatamente por conta do que o povo judeu sofreu na sua história que o governo de Israel deveria ter bom senso e humanismo no trato com o povo palestino”, acrescentou, em referência indireta ao Holocausto.
“E vem dizer que é antissemitismo? Precisa parar com esse vitimismo. Precisa parar com esse vitimismo e saber o seguinte: o que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio”, disse o petista, marcando as sílabas da palavra genocídio.
Lula criticou Israel várias vezes ao longo de seu mandato atual. No domingo (1º), o presidente disse durante convenção do PSB que a guerra é uma “vingança de um governo contra a possibilidade da criação do Estado palestino”. “Por detrás do massacre em busca do Hamas, o que existe, na verdade, é a ideia de assumir a responsabilidade e ser dono do território de Gaza”, afirmou ele na ocasião.
No último dia 21, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, condicionou o fim da guerra na Faixa de Gaza à implementação de um controverso plano de deslocamento forçado de palestinos defendido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foi a primeira vez que o governo israelense mencionou a proposta dos EUA como condição para encerrar o conflito. Em janeiro, Trump sugeriu a transferência da população de Gaza para outros países árabes com o objetivo de “limpar a coisa toda”
Em nota divulgada na segunda (2), a embaixada de Israel em Brasília havia dito, sem mencionar nomes, que autoridades ao redor do mundo “compram mentiras” do Hamas. “Em todas as suas ações, Israel não tem a intenção de prejudicar pessoas não envolvidas”, afirmou a representação. “Israel não quer a guerra e o sofrimento causados por ela, resultado do uso da população de Gaza como escudo humano pelo Hamas, utilizando hospitais, escolas e creches para fins militares.”
Nesta terça, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) publicou uma nota em que afirma que “o presidente Lula mais uma vez ataca os judeus”. O texto cita exemplos recentes de ataques que tiveram alvos judaicos, como o que matou dois funcionários da embaixada de Israel em Washington.
“A comunidade judaica lamenta muito que Lula não compreenda nem se sensibilize com isso. Seus pronunciamentos sobre o assunto provocam um aumento imediato de ataques contra os judeus e Israel nas redes sociais brasileiras, alimentando o antissemitismo que o presidente minimiza como vitimismo e pondo em risco a comunidade judaica brasileira”, diz a nota.
Lula embarca para a Europa ainda nesta terça-feira, onde fará uma visita de Estado à França. Ele disse que discutirá o “massacre do Exército de Israel à Faixa de Gaza” com o presidente francês, Emmanuel Macron. Também estará na pauta o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Aliada histórica de Israel, a França tem subido o tom de críticas a Tel Aviv em meio à retomada caótica de entrada e distribuição de ajuda humanitária no território palestino. Paris tem pressionado inclusive pelo reconhecimento oficial de um Estado palestino. “Não é simplesmente um dever moral, mas uma exigência política”, afirmou Macron sobre o assunto na semana passada.
O Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, confirmou que os presidentes vão falar de Gaza e informou que possivelmente haverá uma declaração conjunta sobre o assunto. Não mencionou, porém, o acordo UE-Mercosul entre os temas a serem tratados pelos dois presidentes.
Questionado pela Folha de S.Paulo sobre a omissão, a assessoria do Eliseu respondeu que o governo francês teve a oportunidade de apresentar sua posição em várias ocasiões: “Que o acordo não é aceitável no estado atual.”
“Resta saber se a parte brasileira deseja trocar ideias sobre o assunto, mas já houve muitos diálogos com o presidente durante visitas anteriores para apresentar nossa posição, que não mudou”, afirmou.
O presidente brasileiro também afirmou que tentará vender o “bom momento do Brasil” a empresários franceses para tentar atrair investimentos.
Lula é próximo de Macron, que já visitou o Brasil durante o governo do petista. Além disso, o francês recebeu o político brasileiro em Paris quando o petista ainda não era presidente da República.
Ele terá compromissos oficiais no território francês de 4 a 9 de junho. Nesse período, a Torre Eiffel deverá ser iluminada com as cores do Brasil, uma demonstração de prestígio. Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro à França em 13 anos a última foi feita por Dilma Rousseff, em 2012.
O primeiro compromisso de Lula em Paris, nesta quarta (4), será a cerimônia oficial de recepção no Pátio de Honra da Esplanada dos Inválidos, local tradicional de eventos militares e desfiles na França, de acordo com o governo brasileiro. Em seguida, o presidente terá um encontro com Macron no Palácio do Eliseu, a sede do governo francês. A reunião contará com a participação das delegações dos dois países e será seguida por uma cerimônia de assinatura de atos.
Ao todo, Lula e Macron devem assinar 20 atos bilaterais, incluindo acordos de cooperação nas áreas de vacinas, de segurança pública, de educação e de ciência e tecnologia, segundo a Agência Brasil.
A agenda inclui outros compromissos com simbolismo político e diplomático, como a visita à sede da Interpol, em Lyon, no dia 9 a organização internacional de polícia atualmente é comandada por um brasileiro. Inicialmente estava prevista na agenda, no dia 7, a ida à base naval de Toulon, onde são fabricados submarinos nucleares. O evento, porém, foi retirado da programação, ainda sem explicações por parte do Itamaraty e do Palácio do Eliseu.
Lula será homenageado em uma sessão especial da Academia Francesa, no dia 5. No dia seguinte, ele também visitará, no Grand Palais tradicional pavilhão de exposições de Paris, uma mostra dedicada ao Ano do Brasil na França. Também deverá receber o título de doutor honoris causa da Universidade Paris 8, onde lecionaram intelectuais como o filósofo Michel Foucault e o psicanalista Jacques Lacan.
A agenda ambiental também está contemplada, com a inauguração de uma “floresta urbana” em frente à prefeitura de Paris, no dia 5, e a participação de Lula na Conferência das Nações Unidas sobre o oceano, que será realizada em Nice, no litoral mediterrâneo, no dia 9.
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PRINCIPAIS COMPROMISSOS DE LULA NA FRANÇA
4.jun – Lula participa de cerimônia oficial de recepção no Pátio de Honra da Esplanada dos Inválidos, em Paris; em seguida, o presidente brasileiro encontra Macron no Palácio do Eliseu para assinatura de atos e participa da inauguração de uma “floresta urbana” em frente à prefeitura
5.jun – Líder petista deverá receber homenagens em sessão especial da Academia Francesa;
6.jun – Lula deverá receber o título de doutor honoris causa da Universidade Paris 8, onde lecionaram intelectuais como Michel Foucault e Jacques Lacan; ele também visitará uma mostra dedicada ao Ano do Brasil na França
8.jun – Lula foi convidado para participar de evento em Mônaco sobre a economia, com enfoque na questão da utilização econômica e mobilização de financiamento para a conservação dos oceanos;
9.jun – Presidente vai a Nice para participar da Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos.



