BERLIM, ALEMANHA E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Lindsey Graham, senador americano que defende uma tarifa de 500% para países que compram petróleo russo, classificou seu projeto de draconiano em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. “Nós amamos tarifas”, respondeu o republicano, ao ser indagado sobre o caráter sem precedentes da sanção que tem o Brasil na mira.
Cerca de 70% do diesel importado pelo mercado brasileiro tem origem russa e o número é crescente. O congressista não cita o Brasil, mas usa um dos maiores compradores e parceiro estratégico de Vladimir Putin como exemplo durante boa parte da entrevista. “A China é fundamental. Se a China parasse de comprar petróleo russo barato e de apoiar o complexo militar-industrial na Rússia, a máquina de guerra de Putin pararia.”
Desde que invadiu a Ucrânia e se tornou objeto de uma série de sanções econômicas e políticas formuladas por União Europeia e EUA, a Rússia se vale de um sistema em boa parte clandestino de transporte e vendas de petróleo, que chega mais em conta aos compradores. Há um teto internacional que limita o preço via seguro da carga, e grande parte do mercado, receoso de punições, deixou de comprar o produto.
Empresas que adquirem petróleo russo no Brasil afirmam que as sanções, até aqui, não atingem o mercado nacional. A chamada sanção secundária proposta por Graham obrigaria os EUA a impor 500% de tarifa nas importações de qualquer produto de países que compram combustível da Rússia. “No fim das contas, haverá exceções”, disse Graham.
Desde a semana passada, o senador cumpre um périplo na Europa para tranquilizar os interlocutores traumatizados com o vaivém tarifário de Donald Trump. “Sim, optei por tarifas de 500% porque isso soa como Trump.” Existem 12 países da UE que, por contingência, ainda compram gás ou urânio russo. Há usinas nucleares, de tecnologia russa, que só funcionam com combustível fornecido pelo país. O Reino Unido também está na lista.
“Todos esses países têm em comum o fato de estarem ajudando a Ucrânia. Talvez com exceção da Hungria”, declarou. “Queremos que todos tenham que escolher entre ajudar
a Rússia, de um lado, ou a decência humana e o acesso ao mercado americano, do outro.” Quem ajudar a Ucrânia, afirmou o senador, não será objeto de sanções.
O discurso bate de frente com a posição dos Brics, Brasil incluído, que advogam uma negociação de paz que não decolou. Mais importante, estão com as economias voltadas para a oferta do produto russo, como é o caso da Índia, sua maior compradora.
Diante da ponderação dos repórteres de que os 500%, diante da guerra comercial já travada por China e EUA, talvez não separem Pequim de Moscou, Graham lembrou dos cemitérios na Europa, em alusão às Guerras Mundiais. “O preço da liberdade é alto. Ouvi dizer que nosso pacote prejudicará o mercado de títulos. É verdade. Ainda é melhor do que morrer. O que estou trazendo à mesa aqui é clareza moral. Qualquer um que ajude a Rússia é mau. Qualquer um que ajude a Ucrânia é bom”, diz o republicano da Carolina do Sul, que, quando militar, nos anos 1980, ficou estacionado na Alemanha.
A expectativa é que o projeto entre na pauta do Senado americano até a próxima semana. Movimentação parecida já ocorre na Câmara, disse Graham, que assina a proposta com Richard Blumenthal, democrata de Connecticut, e afirma já ter o apoio declarado de 82 dos 100 senadores. O tema é um dos poucos não afetados pela polarização política no Congresso americano.
“Conversei com Ursula sobre a possibilidade de o próximo pacote de sanções da UE também se basear no meu projeto de lei, exercendo assim mais pressão sobre a China”, afirmou o senador ao jornal econômico alemão. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que a conversa com o senador americano na segunda (2) tinha sido boa.
“Pressão funciona, e o Kremlin não entende outra coisa”, afirmou porta-voz de seu gabinete em Bruxelas. O bloco prepara o 18º pacote de sanções e a imposição de sanções secundárias, combinadas ou não com o pacote de Graham, está em estudo há semanas.
