BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, se submeterá a um voto de confiança na quarta-feira (11). A manobra é a primeria consequência prática da vitória do nacionalista Karol Nawrocki, que, em resultado apertado, bateu o candidato de Tusk, Rafal Trazkowski, no segundo turno presidencial no fim de semana.
Tusk, que voltou ao poder em 2023, também em eleição concorrida, trabalha com uma coalizão frágil no Parlamento polonês, montada com forças liberais, de centro e de esquerda. “Esta votação não é um esforço para continuar o que vínhamos fazendo antes, porque sabemos que algumas coisas podem ser feitas melhor e mais rapidamente”, declarou Tusk a jornalistas nesta terça (3). “Este é um dia que marca um novo impulso.”
Nawrocki, que nunca ocupou um cargo político e começou a campanha fazendo flexões nas redes sociais, foi eleito pelo PiS, o partido conservador do atual presidente, Andrzej Duda, e do nêmesis político de Tusk, Jaroslav Kaczinski. No sistema político polonês, a Presidência tem a capacidade de propor e vetar legislações, o que tem freado a tentativa de Tusk de reverter oito anos de PiS no poder, uma coleção de retrocessos democráticos e sociais.
Com a agenda travada e preocupado com o destino da eleição presidencial, o premiê modulou seu discurso para fazer frente às bandeiras conservadoras e da extrema direita do país, especialmente a questão da imigração. Desde o advento da guerra da Ucrânia, em 2022, a Polônia se tornou uma rota de migração ilegal. A União Europeia, inclusive, acusa as vizinhas Belarus e Rússia de estimularem a passagem como uma forma de ataque híbrido ao bloco europeu.
A estratégia de Tusk, uma repetição do que tem acontecido na centro-direita de boa parte do continente, desagradou aos integrantes da coalizão mais à esquerda e também aos eleitores. Pesquisa de opinião, citada pela agência Reuters, mostra que apenas 32% dos poloneses apoiam o atual governo.
Ainda que integrantes da coalizão reservem palavras duras para Tusk, analistas da política polonesa afirmam que a convocação do voto de confiança pode também se tornar um trunfo para o primeiro-ministro. No quadro atual de impopularidade, votar contra a permanência do premiê e se arriscar em uma nova eleição pode ser temerário para os partidos menores da coalizão. Há uma cláusula de barreira de 5%, o que poderia tirá-los do Parlamento em um novo pleito, que neste momento interessa mais ao PiS e às siglas de extrema direita.
As eleições parlamentares estão previstas para 2027, mas se forem antecipadas podem dar maioria ao partido do novo presidente se o PiS fizer uma coalizão com a Confederação, sigla de extrema direita com discurso abertamente antissemita e homofóbico.
A derrocada de Trazkowski, prefeito liberal de Varsóvia que liderava com folga as pesquisas de opinião antes do primeiro turno, preocupa os principais líderes europeus. Além do papel estratégico da Polônia na contenção da Rússia e no suporte à Ucrânia, a polarização do país renova a onda populista que atinge vários países no continente, agora anabolizada por Donald Trump.
Nesta terça (3), o governo holandês caiu, após o líder da extrema direita do país, Geert Wilders, anunciar sua saída da coalizão no poder. Wilders defendia um pacote radical contra imigração, tema que domina o debate público na Europa, e claramente aposta em novas eleições para se tornar primeiro-ministro. Seu partido já foi o mais votado no pleito anterior, mas não encontrou condição política de indicá-lo ao cargo.