SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrava alta leve, enquanto a Bolsa tinha queda nesta terça-feira (3), com os investidores acompanhando as tensões comerciais no exterior e monitorando a solução do governo para o impasse sobre os aumentos no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Mas após as falas do presidente Lula sobre o imposto, os movimentos se inverteram.

Às 11h45, a moeda americana caía 0,45%, a R$ 5,647. No mesmo horário, a Bolsa subia 0,12%, a 136.963 pontos.

Pela manhã, os movimentos do real tinham como pano de fundo uma aparente recuperação da divisa norte-americana no exterior, depois das perdas profundas obtidas na véspera na esteira de nova escalada nas disputas comerciais. Na máxima da sessão, a divisa dos EUA chegou a ser cotada a R$ 5,710.

No entanto, a moeda desacelerou alta e passou a cair com a coletiva de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Brasília.

Lula afirmou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não teve problema em rediscutir o decreto que elevou alíquotas do IOF, acrescentando que uma nova proposta será discutida mais tarde em um almoço no Palácio da Alvorada.

O presidente afirmou ainda que “não deu tempo” para discutir a mudança no decreto que aumentou o IOF.

“O [Fernando] Haddad, no afã de dar uma resposta à sociedade, elaborou uma proposta da Fazenda”, disse. “Não acho que tenha sido erro não, foi momento político e em nenhum momento o companheiro Haddad teve qualquer problema de rediscutir o assunto. A apresentação do IOF foi o que pensaram naquele instante.”

O mercado já seguia monitorando o impasse dos aumentos nas alíquotas do imposto. Pela manhã, Haddad havia dito que enviaria ao Congresso Nacional um pacote de ajustes nas contas públicas com “impacto duradouro ao longo do tempo”, e que discutiria essas medidas com o presidente Lula durante a tarde.

Essas medidas serão propostas para calibrar o decreto de elevação do IOF.

“Hoje nós vamos ter uma reunião com o presidente da República bastante produtiva, porque nós chegamos a um entendimento [proposta de ajuste] até superior ao que nós fizemos no ano passado”, disse Haddad a jornalistas na manhã desta terça. “No meu ponto de vista, dá uma estabilidade duradoura para as contas de um próximo período.”

Desde 22 de maio, quando o Ministério da Fazenda anunciou elevações de várias alíquotas de IOF para cumprir a meta fiscal do ano, os ativos brasileiros vêm sendo pressionados, ainda que o governo tenha voltado atrás em algumas medidas. O Congresso, por sua vez, tem criticado as medidas relacionadas ao IOF.

Durante um evento do CDPP (Centro de Debate de Políticas Públicas), em São Paulo, nesta segunda-feira, o presidente disse que sempre teve uma visão de que o IOF não deveria ser usado com objetivo arrecadatório, nem para apoio à política monetária.

“Não é desejável que você tenha uma escolha de uma linha ou de um produto específico em função de uma arbitragem tributária”, afirmou.

No radar dos investidores também estavam os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a produção industrial no Brasil, que cresceu 0,1% em abril, na comparação com o mês anterior, abaixo do esperado.

Segundo o IBGE, o recuo nessa base de comparação foi influenciado tanto pelo efeito-calendário, já que abril de 2025 teve dois dias úteis a menos, além das incertezas relacionadas às tarifas de Trump.

Na cena internacional, a política comercial dos EUA voltou a ocupar as atenções dos mercados. O presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que planeja aumentar as tarifas sobre importações estrangeiras de aço para 50%, intensificando a pressão sobre os produtores globais de aço e prometendo aprofundar sua guerra comercial.

“É a incerteza contínua, não saber se a guerra comercial está acontecendo ou não”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research.

“Algo novo é adicionado, algo é adiado, então, essencialmente, a incerteza reina.”

As preocupações ainda foram fomentadas por nova escalada nas tensões entre EUA e China. Na sexta, Trump acusou os chineses de violarem a trégua estabelecida no meio do mês.

“Eu fiz um acordo rápido com a China para salvá-los do que eu achava que seria uma situação muito ruim, e eu não queria ver isso acontecer”, publicou o presidente na plataforma Truth Social.

“A China, talvez não surpreendentemente para alguns, violou totalmente seu acordo conosco. Adeus ao papel de bonzinho!” Trump não deu detalhes de como essa violação ocorreu.

Nesta segunda-feira, o Ministério do Comércio da China disse que as acusações de Trump de que Pequim violou o consenso acordado nas negociações de Genebra são ” medidas enérgicas para proteger seus interesses.

Os comentários de ambos os lados sugerem que as tensões voltaram a escalar entre as duas potências econômicas, após um lento progresso nas negociações de longo prazo. Há duas semanas, China e EUA chegaram a um acordo em Genebra que reduzia temporariamente as tarifas retaliatórias, que haviam subido para até 145%.

O tarifaço anunciado no mês passado foi posto à prova na semana passada, depois que um tribunal comercial dos EUA decidiu que o presidente não tinha poderes legais para impor as taxas.

No entanto, um tribunal superior suspendeu a decisão na quinta, e a Casa Branca, em paralelo, b usca recurso. A batalha judicial aumenta a incerteza em torno das negociações dos EUA com a China e outros parceiros comerciais importantes.

Os investidores temem que a política tarifária de Trump possa levar a maior economia do mundo a uma recessão e acelerar a inflação. O temor tem provocado um abandono de ativos dos EUA, sendo o dólar o mais prejudicado nesse processo.

Na perspectiva de Larissa Quaresma, analista de Equity Research na Empiricus, a saída de recursos dos EUA e a busca por novos destinos impulsiona o interesse pela América Latina, especialmente o Brasil.

“Enquanto o ‘Trumponomics’ pressiona os Treasuries, mercados emergentes se beneficiam de ‘valuations’ atrativos e um ambiente político e econômico mais interessante”, disse.