RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Produção que chegou ao top 10 global da Netflix dias após estrear, no início de maio, “Nonnas” é um filme que vem recebendo críticas emocionadas e calorosas na imprensa e nas redes sociais. Dirigido por Stephen Chbosky, é baseado na história real do Enoteca Maria, restaurante em Staten Island (Nova York) onde a cozinha é comandada por mulheres mais velhas —as “nonnas” [avós] do título.

A história é a seguinte: Joe Scaravella (Vince Vaughn) está de luto pela mãe e, no escaninho de sua memória, as melhores recordações estão intimamente ligadas às refeições e ao carinhoso preparo dos pratos italianos —simples e deliciosos— das matriarcas de sua família ítalo-americana.

Ele decide então investir o dinheiro que tem e o que não tem abrindo um restaurante tocado não por chefs, mas por “nonnas” de diferentes regiões do país —aqui há um licença poética, já que uma delas não tem netos. Lorraine Bracco, Talia Shire, Susan Sarandon e Drea de Matteo interpretam os papéis principais e, juntas, somam nove indicações ao Oscar ao longo de suas carreiras.

Um filme sobre avós, comida italiana e com um elenco desses teria tudo para deixar afetivamente tocado Gero Fasano, restaurateur de origem milanesa que seguiu os passos de seu “nonno”, ergueu um império e hoje está à frente de hotéis e restaurantes em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Punta del Este e Nova York. Que nada. Gero está revoltado com o filme. Patético, ridículo, grosseiro e irritante são alguns dos adjetivos usados por ele ao analisar o que viu na tela da TV.

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PERGUNTA – Por que você não gostou do filme?

GERO FASANO – Apesar dos ótimos atores, ‘Nonnas’ é patético. Mostra uma Itália ignorante e que só pensa em regionalidades. Como filho e neto de italianos, fico muito triste em ver o país retratado assim. Mostrar as ‘nonnas’ histéricas daquele jeito, à beira de um ataque de nervos, é um absurdo. A cena em que uma avó da Sicília e outra de Bolonha cospem no chão por causa da rivalidade… Aquilo é ridículo.

P – Acha que elas não estão bem representadas?

GF – Eu fui criado pela minha ‘nonna’, a pessoa mais civilizada e educada que conheci na vida. Ela não gritava como essas do filme. Esse tipo de coisa me magoa, porque fica parecendo que tudo na Itália é uma bagunça, uma zona. Tem cidades que poderiam estar na Suíça de tão educadas e respeitadoras que são. Estereotipar assim me irrita, me incomoda.

P – Mas não há rivalidade entre os italianos?

GF – A Itália é uma colcha de retalhos, e há, sim, uma rivalidade grande, sobretudo na parte gastronômica. Mas é uma rivalidade respeitosa. Não tem isso de cuspe, de jogar tomate na cara da outra. Quem vê o filme fica com péssima impressão da relação dos italianos entre si. Tudo não passa de uma bobagem para pegar o público. Forçaram a barra.

P – Seria viável um restaurante como o do filme, com ‘nonnas’ na cozinha?

GF – Acho superviável, só que de dificílima execução fora da Itália. Porque lá é assim realmente, as mulheres vão para a cozinha e os homens para o salão. Os restaurantes são familiares mesmo. Mas ‘nonna’ não emigra. Quem emigra são os netos. ‘Nonna’ de 70 anos não vai querer vir para São Paulo, para o Rio de Janeiro. Eu até tentei trazer uma para um restaurante meu, de comida baseada no sul da Itália. Fui lá e entrevistei três ‘nonnas’.

P – E como a ideia foi recebida?

GF – Elas não se interessaram. Uma delas disse que poderia dar uma consultoria, vir uma vez por ano, ficar um mês. Não era o que eu queria. Isso eu não preciso. Queria mesmo era uma ‘nonna’ que andasse pelo salão, sabe? Fosse na mesa, perguntasse como está… Seria um barato. A ideia é boa, como marketing também é muito bem sacado. Mas não consegui.