SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O pastor Silas Malafaia voltou a causar polêmica ao usar o púlpito da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), no Rio de Janeiro, para falar sobre o movimento Legendários — grupo que organiza retiros espirituais voltados exclusivamente para homens, com forte presença nas redes sociais.

Durante a pregação no culto de Santa Ceia no mês passado, Malafaia ironizou os altos valores cobrados para participar dos encontros do grupo, e questionou a lógica por trás da proposta: “De vez em quando aparece uma moda no mundo evangélico. Agora temos uma nova moda, Legendários. Só que legendário não é para pobre, não. Custa R$ 1.800 o mais barato. Então o pobre não vai aprender a ser homem?”, disparou, arrancando aplausos da igreja lotada.

Sem citar nomes diretamente, o pastor criticou a ideia de que é preciso pagar caro para aprender princípios como paternidade, masculinidade e espiritualidade. “Eu sou algum panaca? Eu sou algum idiota que não estou ensinando o cara a ser homem? A ser pai? Que conversa é essa?”, questionou. Para ele, tudo isso já é papel da igreja local: “A igreja já está aí. A igreja ensina a ser homem, ensina a ser mulher, ensina a ser cidadão, ensina a ser crente”.

A crítica, no entanto, não parou por aí. Malafaia apontou o que vê como uma elitização da fé, com a criação de diferentes pacotes pagos para acesso aos eventos. “Tem que comprar um kit, tem Legendário de cinco mil, tem Legendário VIP de oitenta pau. Ah, mas só para a turma da pesada mesmo”, ironizou.

O líder da igreja chegou a relatar uma conversa entre dois membros da igreja, em que um questiona o outro por ter pago quase R$ 2 mil para participar do evento. “Você já ofertou esse valor à igreja alguma vez?”, teria perguntado. Para Malafaia, a resposta revela um problema de prioridade espiritual: “Não sou contra ninguém ir. Mas vou deixar de falar? Não vou. Isso aí é moda. Isso aí distrai. Isso aí tira o foco da igreja e da vida cristã”, afirmou o pastor.

LEGENDÁRIOS SURGIU EM 2015 NA GUATEMALA

O movimento Legendários, que vem sendo alvo da crítica nas redes sociais, surgiu em 2015 na Guatemala, idealizado pelo pastor Chepe Putzu. A proposta é reunir homens em retiros que misturam espiritualidade cristã, desafios físicos e discursos de autoajuda. O lema do grupo é “trazer de volta o herói caçador para cada família”.

No Brasil, a primeira expedição aconteceu em 2018, e desde então os Legendários têm ganhado força nas redes sociais, impulsionados por figuras influentes como Tiago Nigro, Pablo Marçal, Eliezer (ex-BBB) e o pai de Neymar. A proposta é sempre voltada ao público masculino, com forte apelo simbólico — como o uso do grito “AHU”, que significa, segundo Ricardo Martins, um dos líderes do movimento no Brasil, “amor, honra e unidade” — e com ingressos que, de fato, podem ultrapassar os R$ 5 mil, chegando, em alguns formatos exclusivos, a valores ainda maiores.