O ex-governador Marconi Perillo (PSDB) surpreendeu ao suavizar o tom em relação a Jair Bolsonaro e ensaiar um discurso de afinidade com o ex-presidente — uma guinada que muitos interpretam como tentativa de reconquista do eleitorado conservador para as eleições de 2026. A fala aconteceu na noite de segunda-feira (2), durante participação no programa Papo Aberto, da TV Capital, onde Perillo, antes crítico do bolsonarismo, se declarou simpático à “coragem” de Bolsonaro e chegou a se colocar na mesma posição de “perseguido político”.

No programa, ao ser provocado no quadro “Dá like ou bloqueia?”, Marconi demonstrou cautela e, ao contrário do que se esperava de um histórico adversário do ex-presidente, adotou um tom conciliador. “Tenho críticas à condução da pandemia, à forma como ele lidou com a ciência. Mas reconheço que ele teve acertos”, declarou. E foi além: “Assim como ele, também fui alvo de perseguições. Ele seguiu lutando, e eu também. Por isso, dou like.”

O gesto destoa do posicionamento assumido pelo PSDB nas eleições de 2024, quando o partido protagonizou embates diretos com bolsonaristas e, em muitos estados, mirou mais em Bolsonaro do que no tradicional adversário petista. No entanto, o próprio Marconi já havia admitido, em entrevista ao Estadão no fim do ano passado, que a estratégia de atacar apenas Bolsonaro afastou o eleitor conservador: “Esse eleitor entendeu que estávamos fazendo o jogo do PT”.

Agora, num cenário onde o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) flerta com uma aliança com o PL de Bolsonaro, Marconi parece buscar reposicionamento. Ainda sem declarar oficialmente candidatura, ele é citado nos bastidores como possível postulante ao governo de Goiás em 2026 — e precisa, para isso, atrair a base bolsonarista sem perder seu núcleo tradicional.

A mudança de discurso sinaliza um reposicionamento calculado, mas arriscado. Perillo tenta reabrir o canal com o eleitor de direita sem romper com sua própria trajetória política — tarefa delicada num cenário ainda polarizado e com cicatrizes recentes. Resta saber se o “like” ao ex-presidente será bem recebido por uma base que, nos últimos anos, se distanciou do tucanato.