SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Amigos e familiares do MC Poze do Rodo, preso desde a última quinta-feira (29) no presídio de Bangu 3, no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, organizam uma manifestação para receber o cantor, que será solto nesta terça-feira (3), por determinação da Justiça.

A influenciadora Vivi Noronha, mulher do cantor e mãe de três dos cinco filhos dele, pediu nas redes sociais que os apoiadores do artista compareçam às 13h nos arredores do presídio e levem um quilo de alimento não perecível para ser doado a famílias que precisam de ajuda.

“Foram quatro dias gritando”, disse Vivi em vídeo divulgado após a decisão do Tribunal de Justiça do Rio que concedeu habeas corpus ao cantor, preso sob suspeita de apologia do crime e envolvimento com o CV (Comando Vermelho). “Graças a Deus vencemos”, ela completou.

A decisão que revogou a prisão temporária, assinada pelo desembargador Peterson Barroso Simão, foi comemorada por apoiadores de MC Poze —nome artístico de Marlon Brendon Coelho Couto da Silva— com gritos e bebidas jogadas para cima.

Dois dos amigos cruzaram de joelhos uma quadra esportiva, para pagar promessa feita pela soltura do cantor.

“É isso que o estado teme. O perigo da cultura que Poze propaga é esse aqui, identidade de classe hackeando a alienação da força do trabalho”, disse a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL-RJ) ao comentar vídeo de um grupo festejando a decisão judicial.

O desembargador considerou a prisão, realizada pela Polícia Civil do Rio, uma medida desnecessária no atual estágio das investigações.

Na decisão, o magistrado avaliou que os elementos de prova mais relevantes para a apuração dos fatos já foram reunidos e determinou a libertação do artista mediante o cumprimento de medidas cautelares.

Em trecho da decisão, Simão fez duras críticas à forma da prisão do artista. “Há indícios que comprometem o procedimento regular da polícia. Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente”, escreveu.

Outro parlamentar do PSOL-RJ, o pastor Henrique Vieira, também comentou de forma positiva a decisão de soltar o artista.

“A liberdade de MC Poze é também símbolo de luta contra a seletividade penal e o racismo estrutural”, disse. “Preto, favelado e artista —sua existência incomoda um sistema que criminaliza a periferia”.

A prisão gerou debates sobre a criminalização do funk e a relação entre cultura e crime. Políticos e figuras públicas se pronunciaram, destacando a necessidade de diferenciar a expressão artística da apologia do crime.

Segundo a Polícia Civil, a investigação apontou que Poze faz shows exclusivamente em áreas dominadas pelo Comando Vermelho, e que as apresentações têm a presença de traficantes armados. Disse ainda que o repertório das músicas faz apologia ao tráfico e incita confrontos entre facções rivais.

O advogado de Poze, Fernando Henrique Cardoso, afirmou que “essa é uma narrativa antiga e já debatida”.

Poze foi preso em casa, num condomínio no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. Agentes usaram algemas e conduziram o cantor durante parte do trajeto sem camisa e descalço.