BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – “Estamos confiantes de que as reformas iniciadas pelo governo polonês serão levadas adiante e continuarão.” O otimismo demonstrado pela porta-voz da Comissão Europeia, nesta segunda-feira (2), é diplomático. Karol Nawrocki, presidente eleito da Polônia, fará de tudo para impedir a reversão do legado conservador e autocrata que o partido Lei e Justiça, o PiS, deixou no país em oito anos no poder.

O candidato que começou a campanha fazendo flexões nas redes sociais foi escolha pessoal de Jaroslav Kaczinski, líder do PiS, que deu sua explicação para o resultado: “Vencemos porque simplesmente estamos certos”. Metade do país e mais um pouco parece concordar. A outra confiava no prosseguimento das reformas do primeiro-ministro, Donald Tusk, a principal delas regenerar o formato e a independência do Poder Judiciário polonês.

Seu candidato, Rafal Trazkowski, prefeito de Varsóvia, que chegou a comemorar a vitória na noite de domingo (1º), quando pesquisas de boca de urna lhe davam menos de 1 ponto percentual de vantagem, cumprimentou o adversário em postagem no X. “Essa vitória traz junto uma grande responsabilidade, especialmente em tempos tão difíceis. Especialmente com um resultado tão apertado. Por favor, tenham isso em mente.”

O resultado foi realmente apertado, 50,89% a 49,11%, confirmando a polarização da sociedade polonesa, vista com preocupação por analistas.

Também falou em responsabilidade o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, lembrando do “momento muito desafiador da Europa”. Em mais um recado, o mandatário declarou que a Alemanha está pronta para cooperar “nos fundamentos da democracia e do Estado de direito”.

Populistas europeus foram naturalmente mais efusivos nas mensagens. Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, falou de “vitória fantástica”, enquanto a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, festejou a “rejeição da oligarquia de Bruxelas”, que impõe “políticas autoritárias… em desafio à vontade democrática”.

“Estou confiante de que a UE continuará a sua excelente cooperação com a Polônia. Juntos, somos mais fortes na nossa comunidade de paz, democracia e valores”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O presidente francês, Emmanuel Macron, seguiu linha parecida em sua congratulação. “Vamos juntos fortalecer os laços que unem a Polônia e a França, no espírito do Tratado de Nancy e da amizade entre nossos países. Continuemos a construir uma Europa forte, independente e competitiva que respeite o Estado de direito.”

O tratado, assinado no começo do mês passado, era um esforço de aproximação dos dois países, que prometeram se defender no complicado momento geopolítico europeu. Tusk vinha trabalhando para credenciar a Polônia como grande ator da política europeia, o que parece em jogo agora com a ascensão de Nawrocki.

Políticos da coalizão que sustenta o primeiro-ministro marcaram uma reunião para discutir o futuro do governo. “Esta eleição foi um cartão amarelo, talvez até um vermelho”, declarou Szimon Hołownia, que lidera um dos grupos parlamentares da coalizão.

A imprensa polonesa especula sobre a possibilidade de Tusk chamar um voto de confiança, o que, em caso de derrota, levaria a antecipação das eleições parlamentares, previstas por enquanto para 2027.

Novato absoluto na política, Nawrocki tem um repertório antissistema, contra políticos e elites em geral, mas navega a cartilha básica do populismo europeu, com discurso anti-imigração e valores conservadores. Defende o papel estratégico da Polônia na guerra da Ucrânia, mas já teceu críticas a Zelenski, em linha com o pensamento de Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca no começo de maio e impulsionou sua campanha.

O historiador, ex-boxeador amador e ex-hooligan também desaprova a entrada da Ucrânia na Otan, com a qual a própria Polônia declarou estar a favor em reunião da aliança militar ocidental, realizada em Vilnius, na Lituânia, nesta segunda-feira (2). Como ocorre desde 2023, quando Tusk voltou ao governo, a Polônia permanece dividida.