Os primeiros meses de 2025 expuseram uma crise sem precedentes nos Correios. A estatal encerrou o primeiro trimestre com um rombo de R$ 1,72 bilhão — o pior resultado para o período desde 2017 e mais que o dobro das perdas registradas no mesmo intervalo do ano passado (R$ 801 milhões). A empresa, que não fecha no azul desde 2021, vive um ciclo prolongado de prejuízos e instabilidade.
Apesar do buraco nas contas, o balanço financeiro divulgado não detalha as causas da piora neste ano. O histórico, no entanto, já é preocupante: só em 2024, os Correios acumularam um prejuízo de R$ 3,2 bilhões — o maior de toda a sua história.
Em nota, a empresa afirmou que segue operando normalmente e que tem implementado medidas para preservar a qualidade dos serviços e buscar equilíbrio financeiro. Mas relatos de funcionários e terceirizados colhidos pelo jornal O Globo revelam outro cenário: há denúncias de atraso no pagamento a fornecedores, falta de manutenção e escassez de materiais em várias agências.
“Amparo legal” sustenta operações
Mesmo em meio ao caos financeiro, os Correios destacam sua natureza estatal como um escudo contra o colapso. “A proteção legal que impede a descontinuidade da empresa reforça sua estabilidade operacional, garantindo a continuidade das atividades mesmo diante de desafios econômicos”, afirmou a estatal em comunicado.
TCU aponta manobras contábeis
Além dos prejuízos, os Correios também estão sob o radar do Tribunal de Contas da União (TCU), que questionou a redução artificial do rombo registrado em 2023. Segundo o órgão, a estatal evitou reconhecer uma despesa de R$ 1,032 bilhão com adicional de periculosidade — valor que havia sido reservado por determinação judicial.
Com base em uma liminar temporária e usando o argumento de que havia 18 ações coletivas relacionadas ao tema, a direção reduziu a provisão da dívida para apenas R$ 18. O resultado: o prejuízo oficial caiu para R$ 663,5 milhões. Se o valor total tivesse sido contabilizado, o resultado real teria ultrapassado os R$ 1,6 bilhão negativos.
Horizonte nebuloso
Mesmo com medidas paliativas e discursos de estabilidade, os sinais de alerta estão por toda parte. O rombo crescente, os indícios de manobras contábeis e a deterioração da infraestrutura interna colocam os Correios em uma das fases mais delicadas de sua trajetória. A empresa pode ainda estar de pé, mas os pilares estão cada vez mais trincados.