SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, E CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Manifestantes foram às ruas de oito capitais neste domingo (1º) para protestar contra o projeto de lei 2159/2021, que flexibiliza e simplifica o licenciamento ambiental, e para apoiar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Na avenida Paulista, em São Paulo, a passeata começou por volta das 14h e abraçou também a defesa de Marina. Na última semana, a ministra foi alvo de ataques no Senado.

Marina se retirou de uma sessão da Comissão de Infraestrutura na última terça (27), em meio a bate-boca com senadores, e após ouvir do líder do PSDB, senador Plínio Valério (AM), que ela não merecia respeito.

Valério já havia dito, em outra sessão, que tinha desejado enforcá-la.

“É inacreditável que uma autoridade seja tratada com tanto desrespeito”, disse a socióloga Claudia Paes, 55, que participava do ato na Paulista. “Mas a gente sabe o que é ser mulher neste país.”

Os manifestantes também criticam a reação do governo Lula (PT) à situação de Marina. “Cadê o presidente defendendo em rede nacional o trabalho da própria ministra?”, questionou o motorista Vicente de Paula, 37.

O embate entre Valério e Marina aconteceu pouco tempo após o Senado aprovar o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental, o que ocorreu no dia 21, com impulso do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e com apoio de parte do governo.

O projeto foi apelidado por ambientalistas de “mãe de todas as boiadas” e “PL da Devastação”.

A proposta enxuga instrumentos de consulta, pode impulsionar atividades de risco –como a exploração de Foz do Amazonas, a mineração, empreendimentos infraestrutura, e a BR-319– e deixar sem proteção contra desmatamento quase 20 milhões de hectares possivelmente impactados pelo Novo PAC.

“Não era o governo Bolsonaro que defendia a destruição do meio ambiente? Parece que este é igual”, afirmou a estudante de engenharia ambiental Grazielle Gomes, 25. “Precisamos nos mobilizar contra os ataques à nossa riqueza natural. Em pleno ano de COP, qual a imagem que queremos passar ao mundo?”

Protestos do mesmo tipo ocorrem em outras cidades do país.

Em Manaus, manifestantes reunidos na praça da Matriz defenderam que o projeto de lei fragiliza a proteção da amazônia.

No Rio de Janeiro, manifestantes se concentraram na praia Vermelha, na zona sul.

Além de cartazes e faixas em apoio a Marina Silva, o ato lembrou o plano de instalação de uma tirolesa no Pão de Açúcar. O projeto da concessionária que administra o ponto turístico, autorizado pelo Iphan, foi alvo de ação civil pública da Procuradoria e está em discussão no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Em Brasília, o encontro foi no Eixão, via que fica fechada para carros aos domingos. No ato, havia pedidos para o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), arquivar a proposta. Também havia cartazes de protesto aos planos de exploração da Petrobras na Foz do Amazonas.

Outro cartaz na capital federal dizia “somos todas Marina”.

Em Belo Horizonte, alguns manifestantes usavam máscaras com o rosto de Marina, que foi aplaudida durante o ato.

Na capital mineira, o ato teve início na praça Liberdade e os participantes percorreram ruas da região, com bandeiras, cartazes e faixas –uma delas dizia “licenciamento ambiental não é burocracia”.

Movimentos indígenas, de mulheres e de proteção a animais se juntaram às entidades ligadas ao meio ambiente. Também havia faixas com referências às tragédias de Brumadinho e Mariana.

Em um carro de som, lideranças se revezaram nos discursos. “O PL da devastação põe em risco todo mundo, direita, esquerda, todos”, disse a deputada federal indígena Célia Xakriabá (PSOL).

Nas faixas dos manifestantes, havia mensagens de rejeição à mineração em terras indígenas e cobranças por demarcação.

Também houve atos em todas as capitais da região sul na manhã deste domingo.

Em Curitiba, a concentração ocorreu nas Ruínas de São Francisco, ao lado da tradicional feira do largo da Ordem, com faixas e cartazes contra o projeto de lei. No Paraná, uma lei estadual que flexibiliza o licenciamento ambiental já foi aprovada pela Assembleia Legislativa, a pedido do governador Ratinho Junior (PSD). O PT pede a derrubada da legislação no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em Florianópolis, a manifestação aconteceu na ponte Hercílio Luz. “Espero que os atos contra o PL da devastação ganhem cada vez mais força. Porque é a força das ruas que vai tensionar e constranger os senadores. E, obviamente, se chegar ao extremo do PL ser aprovado, [a força das ruas] dará força, resistência e respaldo para que o presidente Lula possa vetar esta proposta”, discursou a vereadora Carla Ayres (PT) ao grupo de manifestantes.

Em Porto Alegre, movimentos sociais, entidades ligadas ao meio ambiente e políticos engrossaram a manifestação, realizada no Parque da Redenção. Houve referências à enchente histórica que atingiu a capital do Rio Grande do Sul, há cerca de um ano. Nos discursos, o PL foi considerado uma agressão às vítimas daquela tragédia.