BRASÍLIAS, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) fez acenos ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), criticou o governo Donald Trump em meio ao embate dos EUA com o ministro do STF Alexandre de Moraes e defendeu a eleição de senadores da esquerda em 2026 para combater o que chamou de “muvuca” da extrema direita.
O petista participou neste domingo (1) da convenção que oficializou o prefeito do Recife, João Campos, na presidência nacional do PSB.
Os acenos a Motta, que também participou do evento, ocorreram em meio ao embate do governo com a Câmara devido às novas regras do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
“Eu considero você uma novidade na política brasileira. Independente do partido que você pertence, teu comportamento e tua eleição como presidente da Câmara é demonstração que, dentre tantas coisas ruins que vivemos, começam a acontecer coisas boas”, disse Lula a Motta na convenção do PSB.
O presidente também saiu em defesa de Moraes, que pode ser alvo de sanções do governo Trump. “Que história é essa de criticar a Justiça brasileira. Eu nunca critiquei a Justiça deles e eles fazem um monte de bobagem”, disse Lula.
Na sua fala, Lula destacou sua relação com o PSB. “Nós sempre governamos juntos. Nunca tive problema com o PSB em lugar nenhum, mesmo quando divergia. Quando acabava a eleição a gente encontrava jeito”, disse.
O presidente destacou a relação que teve com o pai de João Campos, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que morreu em um acidente de avião em 2014 quando era candidato a Presidência da República.
Eduardo Campos foi ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro mandato de Lula como presidente. “Muito ministro petista tinha ciúmes da nossa relação”, disse.
Lula também falou sobre as eleições de 2026. De acordo com ele, os partidos de esquerda precisam eleger mais senadores “porque se esses caras [de extrema direita] elegerem maioria de senadores, eles vão fazer uma muvuca nesse país”.
Sobre as eleições de 2026, João Campos defendeu manter a dobradinha de Lula e o vice, Geraldo Alckmin (PSB).
O novo presidente do PSB também afirmou que pretende definir eventuais federações até outubro deste ano, para que haja tempo suficiente para organizar as eleições do próximo ano.
Alckmin também discursou no evento. “Se perdendo a eleição, [a gestão anterior] tentou um golpe, imagina se tivessem ganhado”, disse.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, destacou a gestão de Campos à frente da Prefeitura do Recife. “A brilhante gestão que você realiza na prefeitura demonstra o quanto o PSB pode, deve e vai contribuir não só com a política em Pernambuco, mas nacional.”
Como mostrou a Folha, a formalização da troca de comando PSB ocorre em um cenário de dificuldade de renovação na esquerda.
Campos integra família que atua na política há mais de 70 anos, desde os anos 1940. É filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos, morto em 2014 em um acidente aéreo, e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, um das figuras históricas da esquerda, morto em 2005.
A dificuldade da ascensão de novos quadros e a questão do “familismo” na política perpassa todos os campos políticos, mas os números no Congresso e a lista de cotados a herdar os capitais políticos de Lula e e de Jair Bolsonaro (PL), indicam haver neste momento uma dificuldade maior na esquerda.