BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repudiou neste domingo (1º) a criação de 22 novos assentamentos na Cisjordânia aprovada pelo governo de Israel nesta semana e voltou a classificar de genocídio as ações de Tel Aviv na Faixa de Gaza.
“Essa guerra nem o povo judeu quer ela. Essa guerra é uma vingança de um governo contra a possibilidade de criação do Estado palestino. Não é uma guerra entre dois exércitos preparados. O que estamos vendo é um Exército altamente profissionalizado matando mulheres e crianças indefesas na Faixa de Gaza”, afirmou, durante participação no congresso do PSB, realizado em Brasília. “É um genocídio e um desrespeito a todas as decisões da ONU.”
Lula também mencionou a Guerra da Ucrânia, com a qual costuma ser mais comedido, e disse ter ligado para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para sugerir que ele participasse das negociações de paz em Istambul. “O mundo está precisando de paz, harmonia”, afirmou.
Ao criticar a expansão de Israel sobre o território palestino, o petista leu uma nota do Ministério das Relações Exteriores publicada neste domingo. “O governo brasileiro condena nos mais fortes termos o anúncio pelo governo de Israel. A decisão é flagrante ilegalidade perante o direito internacional”, afirmou.
Na última quinta-feira (29), Tel Aviv aprovou a construção de 22 novos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada –uma das maiores expansões no território palestino em décadas. A medida, condenada pela Autoridade Palestina e pelo Hamas, amplia o isolamento diplomático de Israel, que recebeu ameaças de sanções até mesmo de aliados.
Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem entre 2,7 milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental –territórios capturados por Israel da Jordânia na guerra de 1967. Israel posteriormente anexou Jerusalém Oriental, uma medida não reconhecida pela maioria dos países, mas não estendeu formalmente sua soberania sobre a Cisjordânia.
A atividade de assentamentos na região, no entanto, acelerou drasticamente desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, que já dura 20 meses. Tel Aviv também intensificou operações militares na Cisjordânia, enquanto ataques de colonos contra residentes palestinos aumentam.
As críticas de Lula às ações de Israel em Gaza, que já mataram mais de 50 mil palestinos, segundo o Hamas, renderam uma crise entre Brasília e Tel Aviv. O presidente brasileiro já chamou a campanha militar de Israel de carnificina e, no momento mais agudo, comparou a guerra à perseguição aos judeus pela Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial
A fala ocorreu durante visita de Lula à Etiópia, em fevereiro de 2024, e teve uma série de consequências. O então embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi chamado para uma represália pública no Yad Vashem, o mais importante memorial sobre o Holocausto, e o então chanceler israelense e hoje ministro da Defesa, Israel Katz, declarou que Lula era “persona non grata” no país.
O Planalto decidiu retirar o diplomata de Tel Aviv, sem substituí-lo, e hoje, a missão brasileira não conta com um embaixador. Israel tampouco tem um representante desse nível no Brasil –o governo segura há quase cinco meses o aval necessário para que o Estado judeu nomeie um novo embaixador.
Se o aval não for mesmo dado, o governo Lula estará, na prática, rebaixando seu relacionamento com Israel, que passará a ser representado apenas por um encarregado de negócios (de nível hierárquico inferior).