BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e os recentes dados sobre a economia brasileira reforçaram a aposta dos economistas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) encerrará o ciclo de alta de juros na reunião deste mês e manterá a atual taxa básica (Selic) estacionada no patamar de 14,75% ao ano até 2026.
Os analistas do mercado financeiro consideram que o crédito para empresas ficará mais restrito com o aumento na alíquota do IOF, se for mantido o desenho atual, o que contribuiria para que o Banco Central descartasse uma alta final da Selic. Isso se soma ao discurso dos membros do colegiado em tom de fim de ciclo desde a última decisão.
No início de maio, antes do último encontro do Copom, uma parcela dos agentes econômicos via espaço para iniciar o ciclo de flexibilização de juros ainda neste ano. Essa hipótese, contudo, veio perdendo força nas últimas semanas e acabou descartada por algumas instituições financeiras, que projetam cortes a partir do primeiro trimestre de 2026.
Nesse cenário, pesa a avaliação de que os indicadores de emprego, renda e crédito continuaram sólidos, reforçando a visão de que a atividade doméstica vai desacelerar de forma suave nos próximos meses. Além disso, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) mais comportado de maio não trouxe um sinal suficiente para fazer o mercado esperar uma desaceleração consistente da inflação no curto prazo.
Para Caio Megale, economista-chefe da XP, a eventual derrubada do decreto de aumento do IOF pioraria as perspectivas de equilíbrio das contas públicas do país e reduziria a confiança na interrupção do ciclo de alta de juros em junho.
Antes do anúncio da medida, a XP projetava um aumento residual de 0,25 ponto percentual no último movimento do ciclo, o que levaria a Selic a 15% ao ano. Mas revisou seu cenário e descartou esse ajuste derradeiro, tendo em vista a estimativa de que o aumento na alíquota do IOF sobre operações de crédito para empresas seria equivalente a uma elevação entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na taxa básica.
“Não sei se a retirada do IOF me faria voltar atrás no cenário e colocar de novo a alta de 0,25 [ponto]. Mas olhando para a atividade, para os riscos de inflação à frente e para os riscos fiscais, olhando para as medidas adicionais [de estímulo à economia], eles [membros do Copom] deveriam fazer mais uma alta de juro se o IOF for revogado”, disse.
O ex-assessor do Ministério da Economia vê espaço para corte de juros apenas no segundo trimestre do ano que vem, quando o Copom estiver mirando a inflação de 2027. Na visão dele, será difícil que o índice fique “minimamente perto da meta” em um cenário de maior incerteza aos investidores em ano eleitoral. O alvo perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Segundo Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, o fator IOF apenas corroborou o cenário tido como mais provável pelo banco de que a Selic deve ficar inalterada no próximo Copom em 14,75% ao ano. “Tirou um pouco o risco de continuar a alta de juros, mas esse já era o nosso cenário-base”, reforçou.
Na visão dele, os juros devem ficar estacionados no atual patamar até o primeiro trimestre de 2026, sem grandes chances de antecipação de cortes. Ele cita o descolamento das expectativas de inflação e a pressão vinda do mercado de trabalho aquecido.
No mês passado, o mercado de trabalho formal brasileiro gerou 257,5 mil vagas, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Já a taxa de desemprego do país ficou relativamente estável, em 6,6% no trimestre até abril – o menor para o período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que começou em 2012.
Além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, com impulso da agropecuária.
A questão fiscal também é motivo de preocupação para o economista. “A demanda segue pressionada pelas políticas do governo. Isso também vai em uma linha de um juro que fica mantido em um nível alto para conter uma pressão inflacionária, por essa discrepância que existe entre política fiscal e política monetária”, afirmou.
Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), considera que a estratégia do Copom para o encontro de junho envolve a troca de patamar por tempo. “Vai ter um aperto monetário [os juros ficarão em um patamar restritivo] prolongado, não um aperto monetário adicional”, disse.
Ele estima que haverá um arrefecimento gradual da economia brasileira, com uma dinâmica bastante heterogênea entre os setores e avalia que a inflação está em um patamar menos preocupante, mas não mais confortável. “A gente estima que o aperto monetário na indústria de transformação é 60% maior do que nos outros setores”, disse.
A flexibilização, de acordo com o economista, vai depender de como vai se dar o comportamento da curva de juros, que reflete as expectativas do mercado sobre as taxas futuras. Se ela começar a ceder, o ciclo de queda da Selic pode ter início no primeiro trimestre do ano que vem. Mas Rocha não descarta que a redução venha depois disso.